Red Pill, face ridícula e cruel dos homens de masculinidade frágil
Há algum tempo, vem ganhando força dentro e fora do Brasil, sobretudo via redes sociais, mais um movimento de opressão à mulher. São os tais “Red Pill”, uma vertente dos “masculinistas”, que se opõem às feministas e incentivam a misoginia através de um discurso que inverte a realidade e os coloca como as vítimas de um sistema que estaria privilegiando as mulheres.
Mesmo sendo notório que o machismo estrutural é histórico e global e que impõe desigualdade às mulheres há séculos, o movimento, do qual faz parte o “Red Pill”, age como se os homens fossem as verdadeiras vítimas da opressão. Além disso, prega que os homens devem se relacionar apenas sexualmente com as mulheres e ainda procura estabelecer o que seria o padrão mínimo de mulheres com os quais se relacionar. Os masculinistas do Brasil, não raro, flertam com a extrema-direita e o bolsonarismo.
O nome “Red Pill” é uma referência ao filme “Matrix”. Numa das cenas, o protagonista Neo (Keanu Reeves) precisa escolher entre a pílula azul, que o manteria no mundo da ilusão, ou a vermelha, que o levaria a ter consciência sobre a realidade.
“Uma das sinas deles é que eles são heterossexuais. Porque seria mais fácil, se eles fossem homossexuais, eles se relacionarem só com homens. Uma das coisas que eles dizem é que “se não tivesse vagina, eu nem falava com ela”. Ou seja, ele só vê a mulher como um objeto sexual. E tem gente que defende que não tem que ter nenhum relacionamento com mulher mesmo, ou só com prostitutas”, disse à Agência Brasil a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lola Aronovich.
Lola fará parte do grupo de trabalho criado pelo ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, para tratar do discurso de ódio e, desde o anúncio de seu nome, vem sofrendo ameaças. “Há 11 anos, ela é alvo de masculinistas, uma corrente de homens que ameaça mulheres feministas. São casos como o de Lola que escancaram a necessidade de um grupo que formule políticas de enfrentamento a esse tipo de violência”, declarou, pelas redes sociais, a ex-deputada Manuela d’Ávila, que presidirá o GT.
Mais recentemente, o movimento ganhou projeção devido às ameaças sofridas pela humorista Lívia La Gatto, que fez um vídeo para as redes satirizando o absurdo discurso dos Red Pill. Thiago Schutz, “coach de relacionamentos” — seja lá o que isso de fato signifique —, um típico masculinista, reagiu e ameaçou a atriz. “Você tem 24h para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso,processo ou bala. Você escolhe”, disse Schutz pelas redes. O caso agora está com a Polícia Civil, que abriu inquérito para investigar a ameaça.
Pelas redes sociais, Lívia destacou: “o fator mais preocupante dessa ameaça pública é a ausência de medo da justiça, por se achar acima da lei. O governo anterior autorizou e estimulou atentados contra mulheres que levantassem suas vozes e ainda estamos vivendo esse momento”.
Livia disse, ainda, que “esse cara discursa diariamente para um exército de homens com suas masculinidade frágeis, questionando os poucos direitos que as mulheres conquistaram. Poucos. É um discurso de ódio a qualquer mulher que não aceite ser submissa. É um discurso que dá argumentos para homens que violentam, assediam e matam mulheres por estarem inseguros com sua masculinidade”.
(PL)