Foto: Luciano Marques/MS

Na noite desta terça-feira (7), no Espaço Itaú de Cinema, no Casapark, em Brasília (DF), ocorreu a pré-estreia do documentário “Quando falta o ar”, com a presença de autoridades do Governo Lula. Para demonstrar o apoio cultural e a ruptura do negacionismo científico do Governo Bolsonaro durante a pandemia, ministras como Nísia Trindade (Saúde), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Cida Gonçalves (Mulheres), o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, o interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Capelli, e a esposa de Lula, Janja Lula da Silva, prestigiaram o evento.

Nos últimos anos, os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) enfrentaram um desafio sem precedentes: o cuidado da população durante uma pandemia inicialmente desconhecida, altamente contagiosa e sem vacina disponível. Para retratar o trabalho e o legado dessas pessoas no enfrentamento à covid-19, foi feito o documentário “Quando falta o ar”.

“A gente fica muito feliz com a presença do Ministério, porque são essas pessoas que, agora, têm a missão de reconstruir o SUS. E acho que esse filme pode ajudar um pouco na memória de tudo o que aconteceu e a ressaltar a importância do SUS para o Brasil”, pontuou Helena Petta, uma das diretoras, que também é médica infectologista.

A produção acompanhou, com mais atenção, o dia a dia de mulheres que trabalham no SUS – que são maioria, especialmente na enfermagem – e os desafios que elas enfrentaram no período tão crítico do início da pandemia, quando não havia vacinas disponíveis. O documentário aborda temas como a desigualdade socioeconômica e regional, o racismo, o descaso político com o vírus na época, as organizações comunitárias e a relação com a espiritualidade.

“Estar aqui no dia 7 de março, no dia anterior ao Dia Internacional da Mulher, com essas mulheres, trazendo um filme dirigido por mulheres e para mulheres é um sonho”, disse a co-diretora e atriz Ana Petta (que é irmã de Helena).

Trabalhadoras que compartilharam suas histórias no filme também compareceram – elas são oriundas de diversos estados (Bahia, São Paulo, Amazonas, Pará e Pernambuco). “Várias delas nem se conheciam, porque filmamos uma em cada lugar, nunca tivemos essa oportunidade de juntá-las. Foi muito incrível”, ressalta Helena. A médica definiu a ocasião como um grande encontro de mulheres.

“Essas profissionais, que são personagens do nosso documentário, merecem serem homenageadas por tudo o que fizeram pelo país e pelo SUS”, defende Ana.

O tamanho do SUS 

Além do cenário desesperador dos hospitais em 2020 e início de 2021 – a exemplo de situações de falta de oxigênio, presente no título do documentário – foram abordados os papéis cruciais dos demais níveis de atenção da Rede para vencer o vírus, com destaque para a Atenção Primária à Saúde. Entre eles, agentes comunitários de saúde, que iam até a casa das pessoas para conversar e informar sobre prevenção; profissionais das equipes de Saúde da Família Ribeirinhas, que levavam cuidado a locais de difícil acesso; profissionais das equipes de Atenção Primária Prisional, que auxiliavam pessoas privadas de liberdade; e enfermeiros, técnicos e auxiliares das Unidades Básicas de Saúde (UBS), responsáveis pelos primeiros atendimentos de casos leves,  testagem e monitoramento.

Para o secretário adjunto de Atenção Primária do Ministério da Saúde (Saps/MS), Felipe Proenço, o filme foi certeiro ao mostrar os desafios no cuidado de populações vulneráveis (que nem sempre tinham condições de cumprir com todas as medidas sanitárias) e ao valorizar profissionais do SUS que trabalharam sob condições adversas, inclusive do ponto de vista das orientações científicas.

“É por isso que a Saps apoiou esse lançamento aqui em Brasília, justamente para que mais trabalhadoras e trabalhadores do SUS possam se ver representados em um documentário sensacional como esse”, ressaltou.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, também teceu elogios ao sistema público de saúde. Conforme destacou, o longa-metragem mostra a força das mulheres, que “sempre foram as protagonistas do SUS”. Luciana também falou da “responsabilidade dobrada” de conduzir um Ministério tão importante. “A nossa determinação é fazer avançar políticas que tornem cada vez mais confortável as mulheres nesse front da profissão do conhecimento”, salientou.

Iniciativa corajosa

É de se imaginar a coragem dos envolvidos para levar adiante um filme produzido em meio a transmissão de um vírus mortal. A iniciativa de filmar a rotina turbulenta de profissionais de saúde, quando nem a família tem acesso aos doentes também pode ser um desafio. Mas o projeto de desenvolver o documentário surgiu quando Helena observou em conversas remotas com amigos o caráter inédito e histórico do que acontecia em hospitais, naquele momento.

“Tinha mulheres trabalhando em diferentes tipos de serviço, em hospital, atenção primária, presídio e população ribeirinha. Fomos encontrando essas personagens e filmamos onde elas estavam. Durou uma semana em cada lugar”.

“Fomos em cinco lugares, porque não podíamos ficar muito devido a pandemia, ainda sem vacina. Por exemplo, a UTI do Hospital das Clínicas, só ficávamos três horas lá dentro, era perigoso para toda a equipe”, recordou a infectologista.

A presidente da Funarte, Maria Fernandes Marighella, caracteriza a produção como “um peça da memória do Brasil”. “Hoje, nessa sala [de cinema] haverá uma grande celebração da vida, do que importa, das políticas da cultura e da mulher. É uma obra feminista. Muito importante abordar o papel que mulheres tiveram à frente da saúde pública. Elas tomaram parte dos cuidados e da saúde pública, cuidando da linha de frente, como médicas, enfermeiras, auxiliares e técnicas”.

Quando falta o ar teve produção da Paranoid e da Clementina Filmes, e estreia nos cinemas brasileiros no dia 9 de março, nesta quinta-feira.

(por Cezar Xavier)