Ninguém defende Michelle e Bolsonaro no caso dos diamantes
O defensores mais fieis de Jair Bolsonaro (PL) em seu partido estão deixando o ex-presidente e sua esposa queimar na fogueira do escândalo do contrabando de joias apreendidas pela Receita Federal. Na opinião desses, qualquer cidadão simples entende a tentativa de ficar com diamantes milionários que deveriam ser patrimônio do Estado brasileiro. A denúncia foi publicada pelo Estadão no sábado (6), já faz quatro dias.
Esses aliados avaliam como “sofrível” a explicação dele para o caso das joias dadas pelo governo do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo o colunista do g1, Gerson Camarotti, “no PL, o silêncio é constrangedor”.
Segundo Camarotti ouviu de um ex-ministro, haverá um custo político muito grande para qualquer um que tente “defender o indefensável”.
Até mesmo a imagem evangélica e pueril da ex-primeira-dama, que alguns avaliam que certamente estaria numa futura disputa eleitoral, sai desgastada.Ela posa de esposa surpresa com o suposto presente que não recebeu.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, acionou a Polícia Federal, que já havia acionado o Ministério Público Federal (MPF) para que seja aberto um inquérito para apurar possíveis crimes que tenham sido cometidos por membros governo Jair Bolsonaro (PL). Dino fala que os crimes contra a administração pública podem configurar “descaminho, peculato e lavagem de dinheiro”, entre outros possíveis delitos
A espera de uma explicação
Esses aliados ainda esperam de Bolsonaro uma justificativa convincente para sair em defesa do ex-presidente. No entanto, apesar dos documentos assinados enquanto presidente da República para recuperar os diamantes apreendidos, ele passou a dizer no calor do escândalo que não sabe do que todos estão falando.
Michelle até riu nas redes alegando que não sabia que era dona dessas joias avaliadas em R$ 16,5 milhões. Após todo o imbróglio, Bolsonaro agora diz que as joias vão para o acervo do Estado, mesmo tentando sacá-las quatro vezes, inclusive nos últimos dias de seu governo em dezembro de 2022, dos cofres da fiscalização federal no aeroporto de Guarulhos, para levá-las à Flórida (EUA).
A percepção desses políticos bolsonaristas, é que Bolsonaro sofre um grande desgaste no episódio, porque qualquer um entende a tentativa de apropriação ilegal de patrimônio público. Mesmo que não entendam exatamente como Bolsonaro, responsável pela Petrobras, teria conseguido uma doação tão generosa de um bilionário do petróleo.
Até aqui, além da declaração tímida de Bolsonaro e de uma postagem debochada de Michelle nas redes sociais, o único aliado que ousou falar alguma coisa sobre o caso foi o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que já deu três versões para o episódio. Foi a comitiva liderada por ele que trouxe as joias do Oriente Médio, implicando-o diretamente no episódio.
Entrada ilegal no país
A opção de incorporar o presente ao acervo do Estado brasileiro foi oferecida na ocasião da chegada irregular no aeroporto. No entanto, depois de ganhar os diamantes, sabendo dos procedimentos que impedem a entrada desse tipo de produto sem declaração e pagamento de impostos, os envolvidos enfiaram as preciosidades milionárias na mochila de um assessor de ministro para tentar passar desapercebida.
Esclarecido de que deveria pagar R$ 12 milhões de impostos em torno do preço avaliado e multa pela falta da declaração, as mercadorias foram deixadas na Receita para tentativas posteriores de liberação. Em nenhum momento foram regularizados os documentos para incorporação do presente ao patrimônio nacional, o que impede o usufruto pessoal pela família Bolsonaro.
Todas as tentativas de retirada das joias fracassaram porque pretendiam a retirada sem cumprimento dos procedimentos legais. A atitude dos profissionais da Receita Federal no aeroporto de Guarulhos tem sido vista como heróica na resistência a tanto assédio e carteirada.
(por Cezar Xavier)