Jovens, que tiveram papel central nas manifestações, na frente do parlamento | Foto: Emil Salman/Haaretz

Com uma multidão diante do Knesset (parlamento israelense), a greve geral recebendo adesão cada vez maior, o primeiro-ministro Netanyahu recuou do intento golpista de suprimir o Poder Judiciário orientando sua coalizão – que conta com a participação de facções fascistas – a suspender o processo que levaria à imposição de uma legislação tornando a Corte Suprema inoperante e uma instituição de carimbo das determinações de seu bloco.

Ao anunciar a “pausa”, Netanyahu disse que a suspensão até o fim do recesso durante o Pessach (a Páscoa judaica) seria para “dar uma oportunidade ao diálogo real”.

Durante a tarde, à medida que as notícias chegavam aos manifestantes de que Netanyahu estava sendo obrigado a recuar, a praça ia ficando mais festiva com canções e palavras de ordem celebrando a vitória que se aproximava.

Não podemos deixar de perceber, no entanto, que o suposto convite ao diálogo soou totalmente falso uma vez que o primeiro-ministro prosseguiu denominando os opositores de “extremistas” e projetando sobre eles o dano que traz à sociedade com seu golpismo desenfreado e criminoso: “Uma coisa eu não estou disposto a aceitar – há uma minoria de extremistas que deseja rasgar o país em tiras no conduzindo à guerra civil e convocando para a recusa ao serviço militar, o que é um crime terrível”.

Após 12 semanas de protestos, com as maiores manifestações entre todas reunindo 600 mil por todo Israel no sábado (26) o país presenciou uma verdadeira sublevação no domingo (27) à noite, assim que Netanyahu anunciou a demissão do ministro da Defesa, Yoav Gallant, porque este, na véspera, em meio aos protestos, pedira, de público, a Netanyahu que suspendesse o processo anti-Judiciário no Knesset (Parlamento israelense).

A ira contra mais esta desfaçatez desembocou em nova onda de manifestações com bloqueios de estrada e o dia começou com multidões se dirigindo por trem, ônibus e carros (que ofereciam carona) em direção a Jerusalém para tomar conta da frente do Knesset.

Enquanto isso, o presidente da Central Sindical Histadrut, Arnon Bar David convocou os trabalhadores a uma greve geral, declarando: “Os trabalhadores não permitirão que o país mergulhe no abismo”.

O chamado foi imediatamente atendido pelos funcionários do aeroporto Ben Gurion e foi tomando corpo com declarações de entrada em greve por parte das associações de enfermeiras e médicos; todas as universidades já haviam declarado greve por tempo indeterminado no sábado. A greve foi se estendendo durante o dia com funcionários públicos parando até chegar ao fechamento das embaixadas no exterior, a exemplo da localizada em Washington onde todos os funcionários se declararam em greve. No decorrer do dia, todas as empresas de tecnologia suspenderam os trabalhos, assim como as redes de alimentação e os shoppings.

Diante da crescente pressão popular, líderes do partido de Netanyahu, o Likud, assim como setores ortodoxos com parlamentares no Knesset começaram a se somar ao pedido de arquivamento da famigerada lei.

O presidente do país, Itzhaq Herzog, fez novo apelo a Netanyahu pela suspensão da votação do processo-golpe.

Ao mesmo tempo, os dois líderes fascistas mais conhecidos, Bezalel Smotrich e Ben Gvir, junto com o presidente do Comitê de Constituição, Justiça e Lei, Simcha Rothman, apoiadores do golpe, começaram a chamar manifestação de ultradireitistas em apoio ao projeto e a mandar recado a Netanyahu para que “não se curvasse”.

Netanyahu, que a princípio deu força para as manifestações direitistas de hoje, acabou sentindo o imenso perigo que isto causava, pois, os blocos fascistas começaram a incitar correligionários a levarem “explosivos, armas e facas” para atacar os manifestantes pró-democracia.

A polícia já anunciara que seus contingentes se apresentariam para proteger os manifestantes democráticos das ameaças dos fascistas.

O relator da medida que provocou as manifestações, Yariv Levin, também recuou e declarou que acataria a decisão do primeiro-ministro de suspender o processo agora.

O líder da oposição, Yair Lapid, disse que com a suspensão da votação poderia ter início a uma negociação, pedindo de Netanyahu o impossível, que este agisse “sem truques”.

Fonte: Papiro