Lula conversa com Zelensky sobre guerra na Ucrânia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou nesta quinta-feira (2), por meio de uma videochamada, com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. A informação sobre a conversa foi divulgada por Lula em uma postagem nas redes sociais.
O país do Leste Europeu sofre, há pouco mais de um ano, com uma invasão militar russa, numa guerra que contabiliza milhares de mortos e milhões de refugiados. Diante da recusa da Ucrânia em instalar bases militares da OTAN (o tratado militar de países desenvolvidos) nas fronteiras com a Rússia, acabou se ampliando para uma anexação territorial de áreas estratégicas do leste ucraniano. Países europeus, sob a liderança dos EUA, passaram a apoiar Zelensky e ampliaram e prolongaram a dimensão da guerra, em vez de estimular o diálogo para a paz.
“Tive uma reunião por vídeo agora com o presidente da Ucrânia, Zelensky. Reafirmei o desejo do Brasil de conversar com outros países e participar de qualquer iniciativa em torno da construção da paz e do diálogo. A guerra não pode interessar a ninguém”, escreveu o líder brasileiro. Lula, desde o período eleitoral, vem enfatizando su disposição para contribuir com um diálogo para a paz, diante do caos econômico criado pela guerra em todo o mundo.
Lula tem proposto a outros governantes estrangeiros a criação de um grupo de países neutros que se envolva em uma mediação para pôr fim à guerra na Ucrânia. O tema fez parte da conversa do presidente brasileiro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em fevereiro, e deve estar na pauta do encontro bilateral que Lula terá este mês com o presidente da China, Xi Jinping, em Pequim.
Na semana passada, o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, afirmou que o Kremlin está estudando a proposta de Lula.
Também em uma rede social, Zelensky comentou a conversa que teve com Lula.
“Eu tive uma conversa por telefone com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Agradeci pelo apoio a nossa resolução na ONU. Nós destacamos a importância de defender o princípio da soberania e integridade territorial dos Estados. Nós também discutimos sobre esforços diplomáticos para trazer a paz de volta para a Ucrânia e o mundo”, escreveu o presidente ucraniano.
Na semana passada, Zelensky disse que convidou Lula para visitar seu país e se reunirem pessoalmente. Na conversa desta quinta, Zelensky reforçou o convite, que é como o ucraniano tem usado a imagem de lideranças internacionais a seu favor. Lula não rejeitou, mas sinalizou que essa não seria a prioridade neste momento e que oportunidades não faltarão.
Lula tem afirmado que a neutralidade e pacifismo do Brasil em relação à guerra do leste europeu. Para ele, a invasão da Ucrânia pela Rússia foi um “erro crasso”, mas “quando um não quer, dois não brigam”. Especialistas em política externa avaliam que a posição firme e, ao mesmo tempo, conciliatória dá ao Brasil condições diplomáticas de liderar o processo.
Na semana passada, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução que reivindica a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia e condena a invasão ao país. O documento contou também com uma contribuição brasileira, que incluiu um trecho pedindo a “cessação das hostilidades”.
Segundo a coluna do jornalista Jamil Chade (UOL), o ucraniano insiste sobre a possibilidade de que Lula embarque no plano de dez pontos feito por Kiev para uma negociação. Diplomatas acreditam que a esperança de Zelensky é de que o Brasil, ao buscar formas de criar condições para um acordo de paz, considere o plano ucraniano como base. O problema é que os pontos são rechaçados de antemão por Vladimir Putin, por tratarem a Rússia como derrotada no processo.
O brasileiro, cauteloso sobre o projeto de Zelensky, respondeu que o governo brasileiro ainda está avaliando as propostas. Mas apontou que não existe uma solução para uma guerra que não contemple os interesses dos dois lados do conflito e que planos unilaterais não teriam chance de vingar.
O plano de Kiev exige a libertação de todos os prisioneiros e deportados para a Rússia, a restauração da integridade territorial da Ucrânia e de suas fronteiras, a retirada das tropas russas, a criação de um tribunal especial para processar os crimes de guerra russos, entre outros itens.
(por Cezar Xavier)