Jovens pagam a conta da crise e sofrem mais com o desemprego
Mesmo com o abrandamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, o desemprego segue elevado para os jovens. De cada cinco trabalhadores que têm de 18 a 24 anos, um está sem emprego. É o que apontam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua compilados pela Tendências Consultoria e divulgados nesta segunda-feira (27) no Valor Econômico.
“Apesar dos ganhos em relação ao choque da pandemia, o mercado de trabalho continua adverso para os jovens brasileiros. A última década mostra que a população de 18 a 24 anos vem diminuindo, mas o desemprego nessa faixa etária tem aumentado”, resume o jornal.
No conjunto dos trabalhadores, a taxa de desemprego passou de 7,4% em 2012 para 13,7% em 2020 (no auge da pandemia) e 9,3% em 2022. Nesses três anos de referência, a desocupação entre os jovens foi maior: 14,8% em 2012, 28,6% em 2020 e 19,2% em 2022. , ainda acima da mínima histórica de 14,7% em 2013 e 2014.
Por trás dos números há uma espécie de círculo vicioso, sugere o economista Lucas Assis, da Tendências. Seja pela inexperiência, seja pela concorrência, os jovens, em defasagem, estão pagando a conta da crise. “Por causa de sua inerente inexperiência laboral, eles enfrentam maior dificuldade de ingresso e estabilidade no mercado de trabalho, representando o grupo mais vulnerável nos períodos de crise econômica”, afirma Assis.
Segundo o economista, “grande parte dos jovens ainda vivia o legado da recessão de 2015 e 2016, quando o contágio econômico da Covid-19 deteriorou, de modo súbito e implacável, o mercado de trabalho dessa população”. Com menos renda, os jovens ficaram mais expostos à pobreza, à exclusão social e à violência.
Ao Valor, Vinícius Pinheiro, diretor do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o Brasil, explica que a juventude trabalhadora tende a ser mais afetada por ciclos de recessão ou mesmo estagnação econômica. “Os mais jovens são os primeiros a ver suas horas de trabalho reduzidas ou serem demitidos”, diz Pinheiro.
“Muitos trabalham em setores mais sujeitos à informalidade, como agricultura, comércio e serviços pessoais e domésticos. Muitos têm empregos de meio período, temporários ou em plataformas digitais, que tendem a ser mal remunerados, ter jornadas irregulares, pouca segurança ou proteção social”, acrescenta o diretor da OIT.