Sheldon Thomas durante a revisão de sentença que o inocentou | Foto: WABC

Sheldon Thomas foi declarado inocente depois de passar 18 anos preso. Agora com 35 anos de idade, ele foi condenado quando tinha apenas 17 anos pelo suposto assassinato de um garoto de 14 anos, tragédia que teria ocorrido na véspera do Natal de 2004.

Thomas, que é negro, teve sua condenação anulada ao se comprovar que detetives forjaram documentos e fotos para enganar uma testemunha para levá-la a identificar a pessoa errada.

O procurador distrital do Brooklyn, Eric Gonzales, que dirigiu as investigações que concluíram pela manipulação da acusação e pela sua inocência, celebrou a libertação.

Oficialmente, mais de 2.800 pessoas – a grande maioria negras – foram condenadas injustamente nos Estados Unidos, muitas delas permanecendo décadas ou até mesmo morrendo na prisão. Para o procurador, “devemos nos esforçar para garantir justiça e integridade em todos os casos e ter a coragem de corrigir os erros do passado”.

Gonzales disse que o caso contra Thomas “foi comprometido desde o início por erros graves e falta de causa provável para prendê-lo. Ele foi ainda mais privado de seus direitos do devido processo quando a acusação prosseguiu mesmo depois que a identificação errônea veio à tona, tornando sua condenação fundamentalmente injusta”.

“SEM PALAVRAS”

Ainda perplexo com a libertação, Thomas disse “estar sem palavras”. “Tantas e tantas vezes, quando eu estava em minha cela, pensei muito neste momento”, declarou emocionado.

Conforme o promotor, Thomas foi um dos três supostos membros de uma gangue acusada ​​de matar o adolescente Anderson Bercy e ferir outra pessoa. Para incriminá-lo, os detetives pediram para usar uma foto de Thomas em uma prisão ocorrida meses antes, para que pudessem mostrar a uma testemunha ocular uma série de fotos. Antes de obter a suposta foto, os detetives decidiram retirá-la de um banco de dados da polícia que era, na verdade, de um outro Sheldon Thomas. A testemunha ocular identificou prontamente aquela foto como a do atirador, sem saber que era a do Sheldon Thomas errado, explicou Gonzales. Os detetives foram ao endereço de Thomas – não o do Sheldon Thomas cuja foto foi realmente usada – e o prenderam, informou a Promotoria.

Passados dois anos, durante uma audiência pré-julgamento em 2006, o detetive do caso admitiu ter utilizado uma foto do Sheldon Thomas errado e que havia prestado falso testemunho. Thomas também esclareceu que não era o homem da foto, mas o juiz da época sustentou haver “causa provável” por conta das “denúncias anônimas”, acrescentando que a foto se parecia com a do jovem negro.

Com base nestas armações, Thomas foi considerado culpado de uma série de acusações, incluindo a de assassinato em segundo grau, cinco tentativas de homicídio e porte de armas, sendo condenado a 25 anos de prisão.

Desde 2014, apenas o trabalho desta unidade resultou na anulação de 34 condenações, havendo atualmente 50 investigações abertas.

Entre as centenas de casos que revelam o repugnante racismo da “Justiça” estadunidense está o do negro Kevin Strickland, que passou 43 anos atrás das grades. Kevin foi libertado em novembro de 2021, aos 62 anos, por um tribunal do estado do Missouri. Ele havia sido condenado em 1979 à prisão perpétua por um júri popular composto exclusivamente por brancos devido a um triplo assassinato ocorrido no ano anterior em Kansas City.

Outro caso nestra fieira de prisões injustas com fundo racista, está a de Gerry Thomas, ilegalmente preso por 30 anos, liberado em 2020 com 62 anos, sob a falsa acusação de ter estuprado uma mulher em 1987.

Gerry foi condenado e sentenciado apesar de não haver sido encontrada qualquer evidência que o ligasse ao crime. A liberação só aconteceu graças a uma investigação exigida pela organização Innocence Project e que foi acatada pelo promotor da região de Detroit.

Alvin Kennard, negro do Alabama, foi condenado à prisão perpétua após roubar US$ 50,75 (cinquenta dólares!) de uma padaria quando tinha 22 anos. Alvin foi somente libertado em 2019 depois de mais de três décadas de cárcere, após revisão do seu caso pelo juiz David Carpenter.

Fonte: Papiro