Na ONU, Colin Powell exibe tubinho com pó na encenação de "armas de destruição em massa" do Iraque | Foto: Elise Amendola/AP

O mundo relembrou nesta segunda-feira (20) duas décadas do início da guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, ação que ao longo da invasão assassinou dois milhões de civis.

Antecedida por uma cínica exibição de um “tubinho de anthrax” pelo então secretário de Estado Colin Powell na ONU, há 20 anos e inaugurando a era das ‘fake news’, na noite de 20 para 21 de março de 2003, os EUA iniciaram a invasão do Iraque.

Uma agressão, que multidões no mundo inteiro condenaram como a guerra do “sangue por petróleo”, e cujas cenas mais emblemáticas se tornariam, no ano seguinte, as fotos da bestial tortura em Abu Graib.

Também ficou como símbolo da estupidez desumana a bomba em um abrigo subterrâneo para crianças, mulheres e idosos com o símbolo do Crescente Vermelho [equivalente à Cruz Vermelha], pintado sobre o teto.

Uma vez flagrado, na época, e diante das fotos dos corpos carbonizados, o governo Bush tentou se esquivar do crime e culpar as vítimas pelo seu terrorismo de Estado e disse “não saber do que o governo de Saddam é capaz”.

A guerra havia sido preparada com a opinião pública sendo “amaciada” pelos principais jornais dos EUA, como o New York Times e o Washington Post, com mentiras diárias sobre as “armas de destruição em massa do Iraque” e os “vínculos de Osama com Sadam”, praticamente escritas pela CIA antes da publicação, e repetidas centenas, milhares de vezes. Na Inglaterra, o lulu Blair dava uma mão a W. Bush, com a farsa de “Sadam pronto para fazer ataque químico em 45 minutos”. O nome do jogo era demonizar Sadam para “justificar” a monstruosa invasão.

Ao contrário do que os facínoras no Pentágono e na Casa Branca haviam prometido, os invasores ianques não foram “recebidos com flores” e sim com uma resistência renhida e abnegada.

Ao desencadear a guerra ao Iraque, a plutocracia no poder nos EUA achava que “um século americano” estava à frente, e que ninguém poderia contestar o status do “mundo unipolar” sob seu domínio. As provocações na Ucrânia após o golpe que instalou um regime nazista, mostram que Biden segue a mesma cartilha destinada ao fracasso, como aconteceu com a vitória da Síria e se mostra firme na luta contra a limpeza étnica no Donbass hoje.

A heróica resistência iraquiana fez o império sangrar, dilapidar forças, e deu tempo a outros povos para se reerguerem para a luta contra a dominação imperial. Obama acabou tendo que aceitar o prejuízo de manter a ocupação no Iraque e retirar a maior parte das tropas.

Foi um preço alto, muito alto, para o Iraque e seu povo. Mais de dois milhões de mortos, quatro milhões de refugiados e deslocados internos, uma ‘constituição pró-sectarismo’ escrita em Washington, o enforcamento do presidente Sadam, fomento de esquadrões da morte, e ainda, logo depois, o surgimento do bárbaro Estado Islâmico, que se estabeleceu, até sua expulsão, não sem antes espalhar e filmar sevícias contra prisioneiros, em território iraquiano e sírio.

Mesmo com os milhares de soldados norte-americanos pisando o solo iraquiano, nem uma das tais “armas de destruição em massa em poder de Saddam Hussein”, álibi para a agressão, foi encontrada.

“Estamos aqui para que o mundo saiba que, como povo, estamos comprometidos em desligar a máquina de guerra. O planeta e a humanidade dependem de nós. Temos que lutar. Prometemos reerguer o movimento anti-guerra mais uma vez”, declarou a dirigente da The People’s Forum (Fórum do Povo), Claudia de la Cruz, coordenando o protesto em frente à Casa Branca e pelas ruas da capital, Washington D.C.

O governo russo se prepara agora para exibir perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas a “monstruosa mentira” sobre a qual a guerra contra o Iraque foi construída no início do século 21 pelo então presidente George W. Bush.

“20 de março marca o 20º aniversário da invasão americana do Iraque, realizada com base em uma mentira monstruosa perante o Conselho de Segurança, na qual o secretário de Estado Colin Powell agitou um tubo de ensaio na frente do mundo inteiro afirmando que era uma amostra de uma arma letal [anthrax] que teria sido encontrada naquele país”, declarou o vice-representante permanente da Rússia na ONU, Dmitri Polianski.

EUA IMPUNE

No entanto, esclareceu o diplomata russo, até o momento os EUA não enfrentaram quaisquer consequências políticas ou militares por uma invasão ilegal que levou à morte centenas de milhares de inocentes.

Pouco menos de um ano atrás, em maio de 2022, George W. Bush em um ato falho que expôs seu crime, se confundiu ao tratar do conflito geopolítico, que agora os EUA provoca e, durante um evento em Dallas, se embrulhou ao criticou o governo de Vladimir Putin pela operação militar na Ucrânia, praticamente descrevendo seu crime: “O resultado é a ausência de freios e contrapesos na Rússia e a decisão de um homem de lançar uma invasão totalmente injustificada e brutal do Iraque”.

Fonte: Papiro