Estações de ônibus lotadas em meio à greve atingindo trêns e metrô de Londres | Foto: Hollie Adams/AFP

Trabalhadores ingleses, incluindo professores, médicos, funcionários públicos, motoristas do metrô de Londres e jornalistas, iniciaram mais uma greve na quarta-feira (15) exigindo melhores salários.

No protesto que integra uma série que já se estende há meses, os milhares trabalhadores exigem uma reposição salarial para compensar o aumento descontrolado dos preços de bens e serviços, alimentos e energia, depois que suas rendas ficaram muito atrás da inflação, que chegou a 10,5 por cento ao ano, a taxa mais alta em quatro décadas. Uma inflação que se exacerbou com a adesão europeia ao pacote de sanções contra a Rússia.

Tentando abafar a greve, o primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, anunciou que vai investir 94 bilhões de libras (cerca de 113 bilhões de dólares) em dois anos para fortalecer o poder de compra, sem no entanto resolver as demandas dos trabalhadores em uma mesa de negociações.

O líder trabalhista de oposição, Keir Starmer, sustentou que a economia britânica precisa de uma “grande cirurgia” após treze anos de governos conservadores, e chamou o orçamento que está sendo anunciado de um “curativo” insuficiente para reverter a “caminhada de declínio” que o país segue.

Mais de 10 mil integrantes do sindicato RMT, que reúne funcionários dos setores marítimo e de transportes, fizeram piquetes nas principais estações de metrô da capital inglesa, o que impediu o funcionamento do serviço.

O secretário-geral do RMT, Mick Lynch, parabenizou todos os membros do metrô de Londres que estão participando da greve: “Isso mostra como estamos determinados a chegar a um acordo negociado para essa disputa de longa data”.

Em um comunicado, Lynch alertou: “Ataques a pensões, condições de trabalho e perda de empregos não serão tolerados e o público deve entender que estações sem pessoal ou com falta de pessoal não são seguras. Por isso continuaremos com nossas medidas de força pelo tempo que for necessário”.

Já o sindicato dos Serviços Públicos e Comerciais (PCS) alertou que, se o governo não melhorar os salários dos trabalhadores do setor, as greves podem durar até o final do ano. O líder sindical Mark Serwotka instou o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, a dar “um aumento salarial justo”.

O Sindicato Nacional de Jornalistas, os médicos residentes da Associação Médica Britânica (British Medical Association, BMA) e o sindicato Prospect, que reúne cientistas, engenheiros e especialistas em tecnologia, também aderiram ao protesto exigindo a melhoria das condições de trabalho.

O secretário-geral do Prospect, Mike Clancy, disse que os trabalhadores do setor público sofreram um declínio nos ganhos de até 26% nos últimos 13 anos. Ele também destacou que o governo não fez nenhuma oferta significativa para os trabalhadores do setor.

Na terça-feira (14), milhares de médicos do Reino Unido iniciaram uma greve de três dias, no que é o maior movimento de força da história do sistema público de saúde do país. A Associação Médica Britânica está pedindo um aumento salarial de 35%, um número que faz “perfeito sentido”, dados os cortes salariais de 26% desde 2008 e levando em consideração a inflação no Reino Unido, que ultrapassou dez por cento ao ano.

Os membros do BMA fizeram um apelo ao governo para que avaliasse as condições insustentáveis no serviço e oferecessem “uma compensação justa” a todos os médicos residentes que são mais de 40 por cento da força laboral do setor. Os docentes do Sindicato Nacional de Educação (NEU) também iniciaram a medida de força e continuarão nesta quinta-feira.

Diante da perspectiva evidente de uma recessão em 2023, o ministro da Economia britânico, Jeremy Hunt, apresentou ao Parlamento, na quarta-feira (15), um orçamento com medidas ditas para estimular o mercado de trabalho, atingido pela pandemia, e o investimento empresarial, estagnado desde o referendo do Brexit.

A economia britânica contrairá 0,2 por cento este ano devido à fraca atividade no primeiro trimestre, previu Hunt, com base em projeções do OBR, o órgão público de previsão fiscal. As medidas concretas da proposta orçamentária ainda não foram divulgadas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou em janeiro que a Grã-Bretanha seria a única grande economia claramente predestinada a sofrer uma recessão este ano, com o PIB devendo contrair 0,6%.

Fonte: Papiro