Centrais sindicais se unificam na luta contra ataque de Macron | Foto: Cristophe Archambault/AFP

“Não aceitamos que nos roubem dois anos”: em resposta à intransigência do governo Macron, que insiste em enfiar goela abaixo dos franceses sua chamada “reforma previdenciária” para aumentar de 62 para 64 anos a idade mínima para aposentadoria, as centrais sindicais unidas, as entidades dos jovens e a oposição ampliaram a mobilização e neste sábado voltam às ruas, enquanto na Assembleia Nacional e no Senado o macronismo e adjacências aposta no arrocho em meio à crise que está gerando, atropela tudo e acredita que o povo vai cansar.

Não é o que as pesquisas vêm mostrando, com o repúdio à reforma se mantendo em um patamar superior aos dois terços da população. Na sexta-feira, pesquisa da Odoxa-Backbone para jornal conservador francês Le Figaro revelou que 69% estão apoiando as centrais sindicais e que, para 57%, caso o assalto passe no parlamento, a luta contra a reforma de Macron deve continuar até sua derrubada.

O assalto à previdência ocorre, ainda, em um momento em que a população francesa padece com a alta da inflação, boa parte dela fruto da decisão de Macron de alistar-se à guerra de procuração de Biden contra a Rússia na Ucrânia, com o país sofrendo o efeito das sanções a Moscou e inclusive armando o regime de Kiev, depois de passar anos fingindo querer a implementação dos Acordos de Minsk e supostamente o fortalecimento do Formato Normandia.

De acordo com Figaro, “neste embate com a Intersindical [que congrega todas as centrais], as pesquisas de opinião confirmam semana após semana que o governo já perdeu a batalha”.

Na análise da diretora da consultoria Backbone, Véronique Reille-Soult, “as manifestações são cada vez mais de forte descontentamento global, sensação de que a vida está cada vez mais difícil e cara”. Em caso de impasse, uma clara maioria dos entrevistados (64%) atribuiria a responsabilidade ao executivo, contra apenas 35% aos sindicatos.

O prazo limite no Senado, segundo o jornal L’Humanité, é domingo, 12 de março à meia-noite. Para entrar em vigor, a reforma precisa passar pelas duas Casas do Parlamento até o próximo dia 26.

PANELA DE PRESSÃO

Jornada após jornada, o movimento foi crescendo e ampliando a unidade: duas em janeiro (dias 19 e 31), três em fevereiro (dias 7, 11 e 16), o 7 de março com 3,5 milhões nas ruas da França e, agora, este 11 de março e ainda o 15 de março, uma quarta-feira, datas definidas em função dos embates no parlamento. O dia 15 é a data em que está agendada a reunião da comissão mista de senadores e deputados.

Na TV BFM, o secretário-geral da CGT Énergie, Patrick Santo, advertiu o Palácio do Eliseu: “se o projeto de reforma da previdência for para comissão mista – marcada para 15 de março – não vamos nos proibir de nada”. Uma petição online contra a perversa ‘reforma da previdência’ de Macron coletou mais de um milhão de assinaturas.

Em paralelo, se multiplicam as “paralizações renováveis”, que atingem de refinarias a ferrovias de alta velocidade e metrô, portos e aeroportos; da coleta de lixo às escolas e faculdades, fábricas e serviços públicos.

O 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, teve como centro o repúdio à reforma de Macron, que coloca as mulheres entre as maiores vítimas. Foram mais de 200 atos por toda a França, com centenas de milhares de participantes.

Nos protestos, foi denunciado que as mulheres recebem aposentadorias 40% mais baixas que os homens e que 4 em cada 10 mulheres se aposentam sem pensão integral ou, para completar o tempo de contribuição, têm que trabalhar até os 67 anos.

No dia seguinte, foram os jovens que foram às ruas. A pressão segue aumentando, sob a inspiração do levante em 1995 contra a primeira reforma da previdência intentada na França, que levou à queda do então primeiro-ministro Allain Juppé.

Durante a semana, o Senado ficou de costas para a França, com as hostes de Macron, mais os conservadores republicanos, endossando por 201 a 115, e 29 abstenções, o artigo 7 da reforma – exatamente o que impõe a idade mínima de 64 anos.

“Não muda nada na determinação das centrais e nas mobilizações”, reagiu o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, que ao lado do secretário-geral da CFDT, Laurent Berger, tem encabeçado a resistência ao achaque. “Quando há uma reforma tão injusta, os trabalhadores, os cidadãos mobilizam-se mais do que nunca”.

“Ultramaioria no Senado, mas minoria no país, os republicanos de Macron tiveram que usar todos os artifícios do regulamento e do autoritarismo para ir ao fórceps”, denunciou o senador comunista Fabien Gay. O leque de forças no parlamento que rechaçam a reforma da previdência de Macron vai do França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, ao Reunião Nacional, de madame Le Pen, passando por ecologistas, socialistas e soberanistas. “A luta continua aqui e nas ruas até que o texto seja retirado”, completou Fabien.

Fonte: Papiro