Flávio Bolsonaro | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Flávio Bolsonaro afirmou ao jornal Folha de S. Paulo, no domingo (19), que ninguém sabia o que havia no pacote de joias no valor de R$ 16,5 milhões que foram flagradas escondidas na mochila de um assessor do ministro Bento Albuquerque na volta de uma viagem oficial à Arábia Saudita. “Podia ser um copo de água, ninguém sabia”, afirmou o senador, para justificar a tentativa de roubo das joias sauditas por seu pai.

Se fosse um “copo de água”, como alegou o “01”, a conclusão a que chegamos é que está explicado por que Bolsonaro foi “com tanta sede ao pote” para se apoderar das joias. Ele simplesmente fez oito tentativas desesperadas para retirar o pacote que, segundo o senador, podia ser apenas um “copo de água”.

Até na véspera de sair do governo, o mandatário enviou um sargento que servia no Palácio do Planalto, em voo da FAB, para intimidar o funcionário da Receita e tentar retirar as joias apreendidas.

A versão do desconhecimento do que havia na caixa, alegada por Flávio Bolsonaro, além de insustentável, é ridícula. Afinal, o próprio ministro Bento Albuquerque teve que voltar correndo para Guarulhos quando seu assessor foi pego em flagrante tentando passar com as joias escondidas na mochila. Ele acabou confessando que as joias milionárias eram um “agrado” do governo da Arábia Saudita para o governo Bolsonaro. Portanto, sabia das joias.

Mas ele não desistiu de tentar enrolar os brasileiros. “E, se tivesse má-fé, ninguém ia fazer o trajeto de passar pelo raio-x da Receita, não ia trazer num voo comercial”, afirmou o senador, tentando justificar a maracutaia do pai.

Ora. Se não havia má fé, por que as joias foram escondidas no fundo da mochila do assessor, embaixo de uma escultura de um cavalo com as pernas quebradas, e também por que não se declarou nada aos fiscais quando da chagada ao aeroporto?

Sem escrúpulos, o senador continuou tentando livrar o pai. “Podia muito bem ter pegado isso lá fora e vindo para cá sem ninguém saber. Não vejo ilegalidade”, disse ele. O “zero um” esquece que foi exatamente essa tentativa de entrar “sem ninguém saber” que deu com os burros n’água, graças à firmeza dos fiscais da Receita.

Os fiscais descobriram a muamba e o chefe da fiscalização não cedeu à “carteirada” do ministro para liberar as joias clandestinas apreendidas.

A última alegação do senador da “rachadinha” na entrevista à Folha foi ainda mais ridícula. “Tanto é que ficou mais de um ano o troço largado lá, sem o conhecimento, inclusive da Michelle”, argumentou ele. Como se seu pai não tivesse acionado vários ministérios e órgãos, como a Presidência da República, o Itamaraty, a FAB e a própria Receita Federal nas suas oito desesperadas tentativas de embolsar as joias.

Quando não deu mais para sustentar que a família não sabia de nada, o “zero um” passou a defender que eles podiam embolsar as joias. “A lei é vaga sobre isso”, argumentou. “Tanto é vaga que o TCU está dizendo que tem que haver uma mudança legal para deixar com critérios objetivos”, seguiu o senador.

Para ele, que se acostumou a argumentar que não fez nada demais ao desviar R$ 6 milhões, segundo o MP-RJ da Assembleia Legislativa do Rio, nos escândalos das rachadinhas, um ministro de seu pai ter escondido as joias – que seriam destinadas ao patrimônio público – na mochila de um assessor, para entrarem escondido no Brasil e serem embolsadas na moita pela família, sem pagar impostos, não tem nada demais.