Explodir o Nord Stream não foi coisa de um grupo, como quer o NYT, mas uma operação de Estado | Foto: Divulgação

Recentes ‘vazamentos’ na mídia norte-americana e alemã atribuindo o atentado contra os gasodutos Nord Stream a “um grupo pró-ucraniano” sem vínculos com Washington ou com Kiev fazem parte de uma disseminação coordenada de desinformação e uma tentativa de desviar a atenção dos verdadeiros perpetradores, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à Sputnik.

“Obviamente, os autores do ataque terrorista querem desviar a atenção. Isso é obviamente uma disseminação coordenada de desinformação na mídia”, disse Peskov, comentando as elocubrações da mídia da Otan.

A tentativa de tirar o foco que recai sobre o presidente Biden, apresentado há quatro semanas pelo lendário jornalista investigativo norte-americano Seymour Hersh como o mandante do atentado, foi ironizada por Peskov.

Ele disse que o Kremlin se pergunta como as autoridades norte-americanas citadas pela mídia podem supor qualquer coisa sobre os ataques sem uma investigação.

Peskov também pediu uma investigação transparente e com a participação da Rússia. “Ainda estamos impedidos de participar da investigação. Apenas alguns dias atrás, recebemos notas relevantes da Dinamarca e da Suécia. Isso não é apenas estranho, mas cheira a um crime hediondo”, sublinhou o porta-voz.

“No mínimo, os acionistas da Nord Stream e a ONU devem exigir uma investigação urgente e transparente com a participação daqueles que podem esclarecer o assunto”, ressaltou Peskov.

Desde as informações trazidas à luz por Hersh, o mesmo que expôs ao mundo o massacre de civis em Mi Lai por tropas norte-americanas no Vietnã e a tortura em massa na prisão de Abu Graib durante a invasão do Iraque, a Rússia vem exigindo uma investigação do atentado pelo Conselho de Segurança da ONU e, como assinalou o chanceler Serguei Lavrov, “não vamos permitir que varram para debaixo do tapete”.

“FILME B”

Tais relatos de que um grupo “pró-Ucrânia” estava por trás da sabotagem dos gasodutos soam “como um filme B”, ironizou Dmitry Medvedev, ex-presidente russo e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.

“Seis sabotadores da pesada, com uma senhora entre eles, uma femme fatale (como pode haver um filme sem uma?) saíram em um iate para o tempestuoso Mar Báltico. Eles levaram meia tonelada de explosivos a bordo e realizaram um belo mergulho. E então eles explodiram dois dutos enormes no fundo, antes de desaparecer no pôr do sol. Não detectado por ninguém. No mar, cheio de navios da OTAN e sistemas de vigilância internacionais. Eles também devolveram o iate ao proprietário; brutais, mas cumpridores da lei”, resumiu Medvedev.

“O objetivo desse filme barato era enganar os europeus”, que já estão cansados de pagar pelo apoio da UE à Ucrânia em meio ao conflito com a Rússia, concluiu Medvedev.

Convenientemente, a mudança de narrativa na mídia ocidental ocorreu dias após visita inesperada do primeiro-ministro alemão a Biden em Washington, sequer sem a companhia de um tradutor, para um encontro a sós.

Foi o New York Times quem primeiro inflou a desinformação, logo seguido pela mídia estatal alemã e pelo jornal Die Zeit. Nada de Biden nem da Otan, simplesmente um “grupo pró-ucraniano” agindo por contra própria contra o gasoduto que fornecia gás russo barato aos europeus.

“Sem britânicos ou norte-americanos”, havia asseverado ao crédulo NYT – que tentara desclassificar a investigação de Hersh – uma “fonte da inteligência”. No mesmo dia, vários meios de comunicação alemães relataram que os investigadores das explosões do Nord Stream descobriram que um iate supostamente usado no ataque pertencia a uma empresa sediada na Polônia, mas era “aparentemente” propriedade de dois ucranianos.

HERSH

Antes da recém plantada desinformação no NYT e no Die Zeit, a reação da Casa Branca à denúncia de Hersh fora declará-la “totalmente falsa e ficção completa”, e tentar abafá-la pelo silenciamento na ‘grande mídia’.

De acordo com uma fonte ouvida por Hersh, explosivos foram plantados nos gasodutos no Mar Báltico em junho de 2022 por mergulhadores da Marinha dos EUA sob a cobertura de um exercício anual da OTAN e detonados remotamente dois meses depois.

O planejamento começara meses antes do início da operação militar russa na Ucrânia e até mesmo anterior à proposta de Moscou aos EUA de fim da expansão da Otan até às fronteiras russas, preservação da neutralidade da Ucrânia e restauração na Europa do princípio da segurança coletiva e indivisível.

O próprio Biden asseverou a jornalistas, ao receber na Casa Branca no início de fevereiro do ano passado a Scholtz, que o Nord Stream seria destruído se houvesse invasão russa, o que está registrado em vídeo que circulou amplamente nas redes sociais. O atentado foi abertamente comemorado pelo secretário de Estado Antony Blinken e pela conselheira de segurança Victoria Nuland.

O “IATE DO ATENTADO”

Segundo o Moon of Alabama, trata-se de um iate pequeno, que nem mesmo seria capaz de carregar o equipamento necessário para realizar o atentado. Teria sido alugado de uma empresa sediada na Polônia, aparentemente propriedade de dois ucranianos, tendo partido de Rostock no dia 6 de setembro de 2022. O equipamento para a operação clandestina foi transportado anteriormente para o porto em uma van.

“Não. Você não mergulha a mais de 80 metros para um trabalho de tamanho industrial, envolvendo a colocação de centenas de libras de explosivos em oito cargas individuais em oleodutos muito resistentes, a partir de um barco com poucos tripulantes. Tais mergulhos profundos requerem gases especiais, equipamentos respiratórios especiais, treinamento especial, uma câmara de descompressão para emergências e muitas pessoas bem treinadas para manter tudo isso’, destacou o portal.

Fonte: Papiro