Reatamento de relações foi anunciado em conjunto pelo Irã, Arábia Saudita e China | Foto: China Daily/Reuters

China, Irã e Arábia Saudita divulgaram um comunicado conjunto na sexta-feira (10) anunciando que o Irã e a Arábia Saudita concordaram em restabelecer os laços e reabrir embaixadas dentro de dois meses, após uma reunião de negociação em Pequim. As relações estavam rompidas há sete anos.

A notícia chegou na noite de sexta-feira atraindo a atenção mundial e é vista como um avanço nas relações bilaterais para os inimigos regionais de longa data, Irã e Arábia Saudita, registrou o jornal Global Times.

“O acordo, fechado em Pequim esta semana em meio ao Congresso Nacional do Povo, representa uma grande vitória diplomática para os chineses”, admitiu a Associated Press, que acrescentou que ela ocorre “quando os diplomatas tentam encerrar uma longa guerra no Iêmen, um conflito no qual tanto o Irã quanto a Arábia Saudita estão profundamente entrincheirados”.

Coube a Wang Yi, diretor do Gabinete da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e ex-chanceler chinês, mediar a reunião entre as duas delegações, chefiadas respectivamente por Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, e por Musaad bin Mohammed Al-Aliban, Conselheiro de Segurança Nacional da Arábia Saudita.

Wang disse que a China, como “mediadora de boa fé e confiável, cumpriu fielmente seus deveres como anfitriã”. “Continuaremos a desempenhar um papel construtivo no tratamento adequado de questões críticas no mundo de hoje, de acordo com os desejos de todos os países, e demonstraremos nossa responsabilidade como nação importante”, acrescentou.

Wang parabenizou os dois países por terem dado um “passo histórico” na melhoria das relações bilaterais. Ele acrescentou que as negociações Irã-Arábia Saudita em Pequim alcançaram um resultado significativo e são uma vitória do diálogo e da paz, trazendo boas notícias para um mundo instável.

Em vídeo exibido pela TV iraniana, Wang pode ser ouvido oferecendo “parabéns sinceros” pela “sabedoria” dos dois países. “Ambos os lados demonstraram sinceridade”, disse ele. “A China apóia totalmente este acordo.”

Também as Nações Unidas saudaram a reaproximação saudita-iraniana e agradeceram à China por seu papel. “Boas relações de vizinhança entre o Irã e a Arábia Saudita são essenciais para a estabilidade da região do Golfo”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, na sede da ONU.

“ENCORAJAMENTO À RESOLUÇÃO DE DISPUTAS”

O principal diplomata paquistanês Bilawal Bhutto Zardari, presidente do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização de Cooperação Islâmica, elogiou a China por “encorajar a resolução de disputas, em vez de encorajar disputas perpétuas”. Irã e Arábia Saudita são países de fé islâmica, mas professam respectivamente o xiismo e o sunismo.

A agência de notícias estatal IRNA do Irã citou Shamkhani como chamando as negociações de “claras, transparentes, abrangentes e construtivas”.

“Remover mal-entendidos e visões voltadas para o futuro nas relações entre Teerã e Riad definitivamente levará à melhoria da estabilidade e segurança regional, bem como aumentará a cooperação entre as nações do Golfo Pérsico e o mundo do Islã para administrar os desafios atuais”, disse Shamkhani.

Al-Aiban agradeceu ainda ao Iraque e Omã pela mediação entre o Irã e o reino, de acordo com seus comentários divulgados pela Agência de Imprensa Saudita estatal.

Ressaltando o respeito à soberania e a não ingerência nos assuntos internos um do outro, os dois países concordaram em implementar o acordo de cooperação em segurança assinado em 17 de abril de 2001 e o acordo geral alcançado em 27 de maio de 1998, visando fomentar os laços econômicos, arenas comerciais, de investimento, técnicas, científicas, culturais, esportivas e juvenis.

Os três países também expressaram firme determinação de fazer todos os esforços para fortalecer a paz e a segurança regional e internacional.

Wang também observou que o resultado enviou um sinal claro de que a crise na Ucrânia não é o único problema no mundo e há muitas questões relacionadas à paz e à subsistência das pessoas que exigem atenção global e tratamento adequado.

Não importa o quão complicadas ou espinhosas sejam algumas questões, manter o espírito de respeito mútuo para buscar um diálogo igualitário pode ajudar cada lado a chegar a um acordo.

Wang também enfatizou que o Oriente Médio pertence à população local e o destino da região deve estar nas mãos dos povos dos países da região. Eles podem construir um Oriente Médio mais estável, pacífico e próspero ao fortalecer a coordenação.

O rompimento das relações em 2016 foi precedido pela execução de um proeminente clérigo xiita e mais outros 46 pelas autoridades de Riad, o que desencadeou a invasão da embaixada saudita em Teerã.

Iraque, Omã e Emirados Árabes Unidos também elogiaram o acordo, enquanto o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que o acordo poderia “abrir novos horizontes” no Líbano, Síria e Iêmen.

Fonte: Papiro