Coronel Naime | Foto: Reprodução/TV Câmara Legislativa do DF

O coronel da Polícia Militar (PMDF), Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), tentou se desvencilhar da responsabilidade, que era sua, de comandar as tropas da PM na repressão aos atentados terroristas que destruíram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Sua fala foi em depoimento na quinta-feira (16) à CPI da Câmara Legislativa do DF.

Ele está preso e foi acusado pelo interventor federal no DF, Ricardo Cappelli de sabotar a ação da tropa e facilitar a ação violenta dos terroristas. “Não houve plano operacional nem ordem de serviço. Não houve registro de quantos homens iriam. Isso é central, quem faz é o Departamento de Operações da Polícia Militar. Chama atenção, então, as duas questões: não houve plano operacional, nem sequer ordem de serviço”, explicou Cappelli. Tudo isso era de responsabilidade do depoente.

Ao invés de explicar porque ele não tomou as providências para que suas tropas atuassem para impedir os atentados, ele tentou jogar a culpa no novo governo. Adotando a mesma linha dos deputados e senadores bolsonaristas que querem uma CPI para acusar o ministro Flávio Dino e o novo governo pelos atos do 8 de janeiro, ele insinuou que os órgãos federais facilitaram ação dos terroristas. “Houve uma falha. Não consigo dizer qual, mas houve. Mas a facilidade com que os manifestantes entraram nos prédios (da Praça dos Três Poderes) foi impressionante”, avaliou.

Suas insinuações de que o governo Lula estaria envolvido nos atentados não pararam por aí. Ele disse que “a PMDF não tem jurisdição dentro de qualquer prédio federal”. E prosseguiu de forma capciosa. “Se todo mundo sabia, por que os prédios não estavam guarnecidos? Se, minimamente, houvesse uma resistência, daria tempo da polícia militar se posicionar”, disse Naime. “Em meus 30 anos de corporação, nunca vi algo parecido com o que aconteceu no dia 8 de janeiro”, acrescentou cinicamente o depoente.

No depoimento, Naime afirmou que participantes do acampamento no QG do Exército disseram ele que extraterrestres ajudariam no golpe que eles estavam preparando. Que haviam malucos e lunático neste e em outros acampamentos espalhados pelo país, também era notório, mas isso não justifica o comportamento criminoso do militar à frente do comando das tropas que tinham a obrigação de defender o Patrimônio Público. Não se sabe muito bem porque ele trouxe isso para a CPI.

O militar era o responsável pela corporação no dia dos ataques golpistas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro à Praça dos Três Poderes. No entanto, ele disse que não estava no comando durante o período dos ataques. “Não estava presente, não sei quais foram as ordens (dadas aos militares)”, confessou o coronel. Apesar de dizer que estava de folga, ele foi visto na área onde ocorreram as manifestações.

O coronel não soube explicar porque o efetivo de policiamento no local foi de apenas 200 policiais da escola de formação, que não é o padrão da corporação, embora seja normal a utilização desses militares com o acompanhamento de policiais mais experientes. Esse número é bem inferior ao da posse do presidente Lula, em que foram utilizados 2.193 militares na área da Esplanada, proximidade, rodoviária do Plano Piloto e em estações de metrô.

O principal responsável pelas operações da PM-DF de repressão aos terroristas, e que não foram executadas, para impedir os ataques violentos dos bolsonaristas ao STF, ao Planalto e ao Congresso, também resolveu culpar os militares do Exército pelos atentados. Disse que o Exército dificultou a prisão dos terroristas. Essa declaração não contribui em nada para esclarecer o seu comportamento à frente das tropas da PM.

O fato de que houve um acordo acertado entre o interventor federal e o Comandante do Planalto para que as prisões e a desmontagem do acampamento no QG fossem feitas apenas no dia seguinte, como acabaram sendo feitas, era de conhecimento público. O que não tem explicação é por que motivo a PM, que estava sob seu comando, ficou em número reduzido na Esplanada dos Ministérios na hora em que os terroristas invadiam as sedes dos poderes da República.

O Exército respondeu às acusações dizendo que está colaborando com as investigações. “O caso está sendo apurado pelas autoridades competentes. A Instituição segue à disposição dos Órgãos que apuram os fatos, a fim de contribuir com as investigações, sendo que quaisquer esclarecimentos solicitados serão prestados exclusivamente a eles. Nesse contexto, a Força Terrestre tem proporcionado total apoio para o esclarecimento de todos os fatos.”

O jornal Metrópole informou à época dos atentados que a Polícia Civil do Distrito Federal já estava investigando se o ex-comandante de Operações da Polícia Militar Jorge Eduardo Naime tentou fugir com os filhos por medo de ser preso após os atos terroristas.

O ex-comandante de operações, segundo consta em um registro de ocorrência feito por sua ex-mulher e obtido pelo Metrópole, planejava fugir para a Bahia com sua atual esposa e os filhos do primeiro casamento. A corregedoria da PM investiga a informação de que Naime retardou a ação da PM no dia dos ataques com o propósito de deixar os terroristas agirem.

O registro foi feito no dia 9 de janeiro, dia seguinte aos ataques, por Tatiana Lima Beust, ex-mulher de Naime. Segundo o relato dela à PCDF, naquela segunda-feira (9/1), um dos dois filhos do casal telefonou para a mãe e disse que Naime planejava viajar às pressas para a Bahia. A criança, de 8 anos, contou também que a madrasta, Mariana Fiuza, teria ameaçado bater neles “de cinto” caso contassem para alguém sobre a fuga.

Após o telefonema do filho, Tatiana, segundo o B.O., foi até a casa onde Naime e sua esposa moram para buscar os filhos, que passavam as férias com o pai. No local, ao informar que queria levar as crianças para casa, Tatiana relatou ter sido agredida pela atual companheira do militar com uma barra de ferro. O exame de corpo de delito foi juntado nas investigações. Amparada pelo boletim de ocorrência, Tatiana aguarda a Justiça do DF emitir uma medida protetiva contra o ex-marido e sua atual esposa, impedindo-os de contato com ela e os filhos.