Cientistas alertam para risco de despejo ao mar de águas radioativas de Fukushima
As águas residuais da usina danificada de Fukushima, no Japão que, se lançadas no Oceano Pacífico como planejado, atingirão o alto mar, são “capazes de produzir câncer”, afirmaram cientistas neozelandeses na sexta-feira, 03.
Usadas para resfriar reatores após o desastre em Fukushima provocado pelo tsunami que causou o grande terremoto de 2011, as águas foram armazenadas em enormes tanques na usina e atingiram mais de 1,3 milhão de toneladas em julho passado.
Jamie Quinton, chefe da Escola de Ciências Naturais da Universidade Massey, da Nova Zelândia, disse que nestas águas residuais os isótopos radioativos que preocupam são iodo-131 e césio-137, que têm energia suficiente para causar morte celular e mesmo mutação. “Em outras palavras, eles são capazes de produzir câncer”, sublinhou o cientista.
O governo do Japão anunciou em janeiro que planeja despejar no Mar do Japão a água usada para resfriar as usinas até junho de 2023.
O especialista em direito internacional Duncan Currie assinalou que o tratamento do Sistema Avançado de Processamento de Líquidos (ALPS), na melhor das hipóteses, não remove o trítio, e quase não há informações científicas sobre os efeitos do trítio no ambiente oceânico, inclusive em diferentes espécies marinhas.
“Os testes dos sistemas de tratamento ALPS não foram encorajadores. Havia vários outros produtos radioativos na água não processada que são perigosos para espécies vivas e ecossistemas, elementos que devem ser mantidos fora dos ecossistemas naturais tanto quanto possível, especialmente do oceano”, informou.
David Krofcheck, professor sênior de Física da Universidade de Auckland, concorda dizendo que o perigo de liberar indiscriminadamente produtos de fissão nuclear no oceano é que os produtos podem encontrar seu caminho para a cadeia alimentar.
“Uma vez na cadeia alimentar, os núcleos pesados de fissão nuclear de vida longa, como césio-137, estrôncio-90 e iodo-131, tendem a se concentrar nos músculos, ossos e tireóide humanos, respectivamente. O resultado pode ser o câncer”, alertou Krofcheck.
“A Nova Zelândia deveria se preocupar com os efeitos das águas residuais nucleares no Pacífico”, alertou Currie, citando modelos que mostram o movimento da água radioativa para o Pacífico Norte, ocorrendo, por exemplo, através da absorção de peixes altamente migratórios e mamíferos marinhos.
Atualmente, um painel independente de especialistas globais em questões nucleares está apoiando as nações do Fórum das Ilhas do Pacífico em suas consultas com o Japão sobre seus planos de descarregar águas residuais nucleares mesmo que tratadas no Oceano.
“Todos os que moram nessa região têm a mais grave preocupação com a decisão de Tóquio de liberar a água do chamado Sistema Avançado de Processamento de Líquidos (ALPS) no oceano”, assinalou David Panuelo, presidente do estado insular da Micronésia, no Pacífico.
“Não podemos fechar os olhos para as ameaças inimagináveis de contaminação nuclear, poluição marinha e eventual destruição do Continente Azul do Pacífico provocadas pela falta de cuidado com seu uso”, advertiu.
A China, Coreia Popular e Coreia do Sul também haviam manifestado sua oposição à decisão no final do ano passado. O chanceler chinês, Qin Gang, declarou que “a ação é extremamente irresponsável e prejudicará gravemente a saúde pública e a segurança internacional, bem como os interesses vitais dos povos dos países vizinhos”. “Se o Japão continuar a colocar seus próprios interesses acima do interesse geral internacional, se insistir em dar (este) passo perigoso, com certeza pagará o preço por seu comportamento e deixará uma mancha na história”, acrescentou.
O Ministério das Relações Exteriores da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) também condenou o Japão por aprovar a descarga de águas residuais contaminadas no oceano. “O Pacífico não é o esgoto do Japão, e a mudança causará grave poluição no oceano – propriedade comum de toda a humanidade”, enfatizou a chancelaria da RPDC em comunicado.
“É um ato que coloca os interesses privados acima do interesse público internacional e um ato criminoso que ameaça a segurança de vidas humanas”, finalizou o MRE da Coreia Popular.
A Coreia do Sul realizou reunião de emergência onde decidiu que tomará medidas em resposta à decisão de Tóquio de despejar água radioativa no Oceano Pacífico.
Fonte: Papiro