14º Congresso do Povo reunido em Pequim | Foto: Xinhua

O ministro das Relações Exteriores chinês, Qin Gang, afirmou na terça-feira (7) que a política de Washington para a China “desviou-se totalmente do caminho racional e sensato” e “se os EUA não pisarem no freio e continuarem a acelerar no caminho errado, não haverá barreira que impeça o descarrilamento, e certamente haverá conflito e confronto”.

“Os EUA afirmam que buscam competir com a China, mas não buscam conflito. Mas, na realidade, a chamada ‘competição’ dos EUA é contenção e repressão total, um jogo de soma zero de vida e morte”, disse Qin. “A contenção e a repressão não tornarão a América grande, e os EUA não impedirão o rejuvenescimento da China”, acrescentou.

As declarações ocorrem na esteira de reiteradas provocações contra a China nas últimas semanas de parte do regime Biden, que vão do incidente do “balão espião” até o requentamento da farsa do “vírus chinês”, passando pela notícia de um encontro em abril entre a ‘presidente de Taiwan’ e o presidente da Câmara dos deputados norte-americana e ainda ataques contra o desenvolvimento da alta tecnologia por Pequim.

“Essa competição é uma aposta imprudente, com o que está em jogo sendo os interesses fundamentais dos dois povos e até mesmo o futuro da humanidade”, sublinhou.

“A percepção e as visões dos Estados Unidos sobre a China estão seriamente distorcidas. Ele considera a China como seu principal rival e o desafio geopolítico mais importante”, disse Qin. “Isso é como o primeiro botão de uma camisa sendo colocado errado e o resultado é que a política EUA-China se desviou totalmente do caminho racional e sensato”.

A advertência foi enunciada durante uma conferência de imprensa – a primeira desde que Qin assumiu o cargo no ano passado – à margem do 14º Congresso Nacional do Povo em Pequim, em que o novo chanceler reiterou a proposta da China de um futuro compartilhado para a humanidade; enfatizou Taiwan como a “primeira linha vermelha” da China e rechaçou uma “Otan do Indo-Pacífico”; instou à aplicação do plano de 12 pontos para um cessar-fogo e negociações na Ucrânia; anunciou que a China está disposta a trabalhar com a Europa para defender o verdadeiro multilateralismo e chamou a parceria China-Rússia de força motriz da multipolaridade, da democracia e do equilíbrio estratégico global.

NÃO À ‘ORDEM SOB REGRAS’

“Os Estados Unidos falam muito em seguir as regras, mas vamos imaginar dois atletas competindo em uma prova olímpica”, observou o chanceler Qin. “Se um deles, ao invés de se concentrar em fazer o seu melhor, está sempre tentando tropeçar ou até mesmo colidir com o outro isso não é competição justa, é confronto malicioso e falta.”

Qin responsabilizou os EUA pelo agravamento das relações, citando em particular o incidente da queda do balão meteorológico que foi desviado por fortes ventos, saiu da rota e acabou sobrevoando o espaço aéreo norte-americano. O chanceler acusou Washington de extrapolar em sua resposta, criando “uma crise diplomática que poderia ter sido evitada”.

TAIWAN, A LINHA VERMELHA

Nenhum país tem o direito de interferir nos assuntos de Taiwan, pois a solução da questão de Taiwan é assunto próprio da China, disse o ministro das Relações Exteriores da China. Ele apontou que Pequim tem todo o direito de tomar medidas para uma reunificação pacífica e alertou que Taiwan é um interesse fundamental da China e a primeira linha vermelha que os EUA não devem cruzar. E questionou: “Por que os Estados Unidos pedem à China que não forneça armas para a Rússia, enquanto continua vendendo armas para Taiwan?”

Qin também repeliu “a estratégia Indo-Pacífico dos EUA” que, sob o pretexto de proteger a segurança regional, está na verdade “provocando confrontos, planejando encenar uma versão Ásia-Pacífico da Otan”.

“O verdadeiro propósito da estratégia Indo-Pacífico é conter a China”, disse Qin. “Nenhuma Guerra Fria deve ser repetida na Ásia, e nenhuma crise no estilo da Ucrânia deve ser repetida na Ásia.”

Estratégia que – declarou o diplomata – está “fadada ao fracasso”. “A região da Ásia-Pacífico deve ser uma arena para cooperação ganha-ganha, não um tabuleiro de xadrez para confronto geopolítico”.

“A crise ucraniana atingiu um ponto crítico. Ou cessar-fogo, a paz é restaurada seguindo o caminho certo para um acordo político, ou óleo é derramado no fogo, a crise aumenta e a situação sai de controle. O que é necessário agora é calma, bom senso e diálogo”, afirmou o chanceler chinês.

Ele denunciou que “os esforços para negociações de paz foram repetidamente prejudicados. Parece haver uma mão invisível pressionando pelo prolongamento e escalada do conflito e usando a crise da Ucrânia para servir a uma certa agenda geopolítica”.

A China apresentou seu roteiro de 12 pontos pela paz na Ucrânia, liminarmente rechaçado por Washington. Pequim tem alertado para a urgência de restaurar na Europa o princípio da segurança coletiva e indivisível, destroçado nas últimas décadas pela expansão da Otan para leste e pelas pressões contra a neutralidade.

Qin afirmou que a aproximação da China com a Rússia se tornou “inevitável” diante da hostilidade dos Estados Unidos. “Com a China e a Rússia trabalhando juntas, o mundo terá a força motriz da multipolaridade e da democracia nas relações internacionais e o equilíbrio estratégico global estará mais bem garantido”, destacou.

Em suas palavras, as relações bilaterais entre os dois países são a chave do equilíbrio e da estabilidade estratégica global. Ele também garantiu que os laços entre a China e a Rússia serão fortalecidos graças à liderança do presidente de seu país, Xi Jinping, e do presidente russo, Vladimir Putin.

A relação entre Pequim e Moscou – acrescentou – é baseada nos princípios de nenhuma aliança contra outros países, nenhum confronto ou ataque contra eles. Qin reiterou que os laços entre as duas nações não estão sujeitos a nenhuma interferência ou discórdia “semeada por terceiros”.

“Quanto mais instável o mundo se torna, mais imperativo é para a China e a Rússia avançarem firmemente em suas relações”, enfatizou.

Ao mesmo tempo, o ministro das Relações Exteriores garantiu que tais laços não representam uma ameaça para nenhum país. “Alguns países que estão inclinados a ver as relações China-Rússia através das lentes das alianças da Guerra Fria não veem nada além de sua própria imagem”, observou ele.

Quanto à possibilidade de ambos os países preferirem não recorrer ao dólar ou ao euro na realização de pagamentos nas suas trocas comerciais bilaterais, Qin disse que “deve-se usar qualquer moeda que seja eficiente, segura e credível”. “As moedas não devem ser trunfos para sanções unilaterais, muito menos um disfarce para intimidação ou coerção”, disse ele.

COMUNIDADE DE FUTURO

O chefe da diplomacia chinesa destacou que a modernização chinesa fornece uma importante fonte de inspiração para o mundo, especialmente para os países em desenvolvimento, registrou a agência de notícias Xinhua. “O processo de modernização chinesa é um impulso para a força pela paz, justiça e progresso no mundo”, disse Qin, expressando esperança e crença de que a visão de construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade se tornará realidade à medida que mais países começarem sua própria jornada de modernização.

“Alcançar a modernização de um país com mais de 1,4 bilhão de população é um feito sem precedentes na história humana e é de grande significado para o mundo”, ele acrescentou.

Qin delineou cinco características da modernização chinesa. “O sucesso da China prova que cada país tem o direito e a capacidade de escolher seu próprio caminho e manter seu futuro firmemente nas suas próprias mãos”.

“Colocar o povo no primeiro lugar é outra característica da modernização chinesa, a prosperidade comum para todos”, de acordo com Qin. A modernização não deve servir aos interesses de apenas alguns países ou indivíduos, e as pessoas em todo o mundo devem desfrutar do direito de buscar o desenvolvimento como iguais e buscar a felicidade, disse ele.

Qin assinalou ainda que é importante respeitar o direito de cada país de seguir um caminho de modernização adaptado à sua realidade nacional. Por último, a modernização chinesa apresenta as pessoas trabalhando duro em unidade: “vamos perseverar na execução do plano definido até que se torne realidade”.

“A modernização chinesa é dedicada à paz, desenvolvimento, cooperação e benefício mútuo, e está comprometida com a harmonia entre a humanidade e a natureza”, concluiu Qin. “É um novo caminho diferente da modernização ocidental”.

Fonte: Papiro