Bento Albuquerque | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Mais um depoimento bolsonarista para entrar no rol das tentativas cínicas de driblar a Justiça e afrontar a inteligência do povo brasileiro.

Coube, desta feita, ao ex-ministro Bento Albuquerque o papelão, ao depor nesta terça-feira (14) por cerca de uma hora e meia à Polícia Federal, por videoconferência, sobre o rumoroso caso das joias que trouxe, ele próprio, de forma ilegal e irregular ao país, ainda em outubro de 2021, presenteadas que foram pelo governo da Arábia Saudita ao então presidente Jair Bolsonaro.

Pelas informações sobre o depoimento, Albuquerque teve a cinismo de dizer à Polícia Federal que não conversou com Bolsonaro sobre as joias, numa evidente tentativa de blindar o chefe do escândalo envolvendo peças preciosas que, no seu conjunto, estão avaliadas em R$ 16,5 milhões.

Mas o cinismo não parou por aí. O ex-ministro disse que desconhecia o conteúdo dos dois estojos da marca suíça Chopard, uma, a mais valiosa, retida pela alfândega da Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, com peças femininas cravejadas de diamantes, e outra que conseguiu driblar a fiscalização e ser entregue a Bolsonaro, como ele próprio confirmou.

No entanto, Albuquerque ao chegar no aeroporto chegou a afirmar aos agentes da Receita Federal que se tratava de um presente saudita endereçado à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro. No depoimento de hoje, o ex-ministro alegou que se tratava de uma “suposição” e que teria sido “surpreendido” com o conjunto de joias.

A informação de que as joias teriam como destino Michelle Bolsonaro havia sido sustentada pelo próprio Albuquerque ao jornal O Estado de S. Paulo, em 3 de março, mas mudou sua versão em razão da reação da ex-primeira-dama de que não tinha conhecimento do referido “presente” e da negativa do próprio Bolsonaro.

O fato é que os objetos foram apreendidos em 26 de outubro de 2021 depois de terem sido descobertos no fundo da mochila de Marcos André Soeiro, um ex-assessor de Albuquerque que tentava entrar com as joias na surdina, de forma sorrateira, sem declará-las à Receita, como determina a lei. Soeiro socorreu-se do ministro diante da tentativa frustrada, mas mesmo assim os diligentes funcionários da Receita não se deixaram dobrar pela carteirada.

A defesa do ex-ministro vai insistir que ele “realmente foi surpreendido” e, para isso, solicitou a íntegra das imagens da inspeção dos objetos valiosos.

No entanto, parece evidente a contradição entre as duas versões apresentadas pelo próprio Albuquerque, o que representa a admissão de prática de crime, pois não declarou à Receita nenhum dos dois pacotes de joias, nem o feminino, mais valioso, devidamente retido, nem o masculino que acabou nas mãos de Bolsonaro, depois de tê-lo guardado por longo tempo.

Essa prática tem um nome e só pode ser qualificada como contrabando, algo que seria fatal para qualquer outro ser mortal.

Outro fato que chama a atenção dos investigadores da Polícia Federal, alvo central das apurações, é que Bolsonaro, através de vários ministros e auxiliares próximos, tentou por oito vezes liberar o estojo apreendido, sem sucesso. Numa dessas tentativas, há um ato de ofício do gabinete da Presidência da República, assinado pelo ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid e dirigido aos responsáveis pela guarda dos objetos.

Nesta terça (14), em entrevista ao portal UOL, o delegado da Receita Federal Mario de Marco Rodrigues, responsável por negar um pedido do então secretário do órgão, Julio Cesar Vieira Gomes, para liberar joias trazidas ilegalmente, afirmou que esses bens são do Estado e não poderiam ser liberados mesmo com o pagamento dos impostos e multas e que devem ser incorporados ao acervo público.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), ao tomar conhecimento do depoimento de Albuquerque, sentenciou através de seu twitter: “Basicamente, o ex-ministro quer que acreditemos que ele foi utilizado como mula por Bolsonaro, mas foi sem querer. Acharam que era um estojo de lápis. As OITO tentativas de recuperar as joias também foram sem saber o conteúdo. E o cara nem fica vermelho…”