BC desconsidera apelos e mantém juros em 13,75%
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou, nesta quarta-feira (22), que a taxa básica de juros, a taxa Selic, será mantida em 13,75% ao ano – o que prejudica a retomada do crescimento do país. Esta e a quinta vez consecutiva que a Selic é mantida neste patamar.
É a segunda reunião do Comitê sob o governo Lula e foi marcada pela pressão pela queda de juros, que não aconteceu.
Na terça-feira (21) entidades dos movimentos social, sindical e estudantil promoveram atos em todo o Brasil exigindo a redução dos juros com o denominado “Dia de Luta por Juros Baixos! Fora Campos Neto”.
Roberto Campos Neto, presidente do BC, é um dos principais alvos das manifestações, pela condução da política de juros e declarações que deu que confrontaram os que pediam a redução. Ele era integrante de um grupo de WhatsApp de ex-ministros de Bolsonaro.
No início da semana o presidente Lula, que travou uma verdadeira batalha de convencimento na mídia sobre a necessidade da redução da Selic – e saiu vencedor -, voltou a dizer que continuaria se movimentando pela queda dos juros: “vou continuar batendo, tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros para que a economia possa voltar a ter investimento”, falou em entrevista.
Durante uma conferência no Rio de Janeiro promovida pelo BNDES que reuniu o vice-presidente Geraldo Alckmin, o presidente da Fiesp, Josué Gomes, e economistas internacionais como Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs, o assunto foi dominante e todos os citados foram unânimes quanto ao corte de juros pelo Copom.
Algumas definições sobre a taxa de juros foram: “pornográfica”, “nada que justifique”, “chocante”, para “matar qualquer economia”.
Críticas à manutenção
“O Banco Central é independente. E se é independente, é independente de quem? Não é independente dos agentes do mercado, por exemplo”, criticou o jornalista Reinaldo Azevedo em seu programa “O É da Coisa”, ao saber sobre a manutenção da taxa.
O jornalista Kennedy Alencar também falou nesse sentido: “Autonomia do Banco Central é uma das piores heranças de Bolsonaro. O Brasil entregou ao mercado o controle da política monetária, o que é um crime no atual estágio civilizatório do país. O rentismo agradece o apoio quase unânime da imprensa à maior taxa de juros real do planeta.”
No comunicado do BC, é colocado: “O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.”
Com base no que foi colocado, entende-se que os membros do Copom desconsideraram totalmente a queda da inflação, o equilíbrio as contas promovido pelo governo nos últimos meses e a construção do novo arcabouço fiscal.
Em seu twitter, a Coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, criticou a medida e disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, não deveriam ter tanta boa vontade com o BC: “Banco Central mantém taxa de juros Selic no patamar suicida de 13,75% aprofundando a crise que nos assola! Haddad e Tebet não deveriam ter aprovado o balanço do BC no CMN, exigindo explicações do mega-prejuízo de quase R$300BI, apesar de ter recebido R$212BI do Tesouro.”
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em comunicado, indicou que a decisão do Copom é equivocada. Para a CNI, “a Selic em 13,75% ao ano, por restringir a atividade econômica, está em nível acima do necessário para garantir a manutenção da trajetória de desaceleração da inflação nos próximos meses.” Ou seja, as críticas sobre a manutenção da taxa de juros virão de todos os lados e Roberto Campos Neto deverá vir à público novamente para se explicar.