Na cidade turca de Kahramanmaras, ruas com prédios demolidos pelo abalo sísmico ao lado de outros intactos | Foto: Iha/Reuters

Autoridades turcas determinaram prisões de empreiteiros em todo o país, acusados de terem feito projetos e construções de má qualidade e por violação do código de obras, o que teria contribuído para aumentar a queda de edifícios durante o terremoto que atingiu o país e a vizinha Síria na segunda-feira (06/02), com dezenas de milhares de mortos e desaparecidos.

Sob forte pressão da população, o Ministério da Justiça da Turquia determinou a criação de forças-tarefas para investigar violações ao código de obras que já havia sido reformado após um terremoto em 1999 para evitar a queda de prédios em caso de tremores.

Muitos cidadãos turcos têm expressado indignação e críticas a empreiteiros que teriam reduzido a segurança de edifícios para ampliar seus lucros, e ao governo por supostamente anistiar empresas que construíram prédios em desacordo com a realidade do país que frequentemente sofre situações de risco.

“É sabido que muitos imóveis da área atingida pelos tremores massivos desta semana foram construídos com materiais e métodos inferiores e geralmente não cumpriram com os padrões governamentais”, afirmou Eyup Muhcu, presidente da Câmara de Arquitetos da Turquia.

CONSTRUÇÃO DEFICIENTE

Muhcu acrescentou que isso inclui muitas construções antigas, mas também prédios de apartamentos construídos nos últimos anos, quase duas décadas depois que o país adaptou seus códigos de construção aos padrões modernos. “A construção em muitas regiões era deficiente e não firme, apesar da realidade dos tremores”, acrescentou.

O arquiteto assinalou que, certamente, os terremotos sucessivos que demoliram ou danificaram pelo menos 12.000 edifícios foram extremamente poderosos: sua força foi ampliada pelo fato de terem ocorrido em profundidades rasas. O primeiro terremoto de magnitude 7,8 ocorreu às 4h17, tornando ainda mais difícil para as pessoas saírem dos prédios, pois o solo tremia violentamente. “Mas, essa situação não justifica, ao contrário, a falta de rigor nas construções”, afirmou.

Especialistas apontaram que há uma montanha de evidências – e detritos – apontando para uma dura realidade sobre o que tornou os terremotos tão mortais: embora a Turquia tenha, em teoria, códigos de construção que atendem aos padrões atuais de engenharia sísmica, raramente são aplicados, o que explica por que milhares de edifícios desabaram.

O ministro da Justiça, Bekir Bozdag, informou que prisões e mandados contra mais de 100 pessoas aconteceram em 10 províncias [estados] diferentes.

O construtor de um edifício residencial exclusivo que ruiu com mais de cem pessoas em seu interior na província de Hatay foi detido, nesta sexta-feira (10), quando tentava fugir para Montenegro.

Huseyin Yalçin Coskun, que construiu um dos edifícios mais luxuosos da Antioquia, com 12 andares e 250 apartamentos, foi detido no aeroporto Sabiha Gokçen, em Istambul, segundo informou o jornal Cumhuriyet.

O Renaissance Residence, construído em 2013 tinha seus apartamentos anunciados como “um retrato do paraíso”. Além disso, assegurava que foi construído seguindo os mais rígidos critérios de qualidade e segurança. Porém, vários prédios mais simples próximos dele não desabaram.

Personalidades conhecidas da cidade moravam no prédio, como o jogador de futebol ganês Christian Atsu, do time Hatayspor, que está desaparecido, possivelmente sob os escombros.

As autoridades de Diyarbakir emitiram mandados de prisão contra 30 pessoas neste sábado. Na província de Adana, foram emitidos mandados de prisão contra 62 pessoas, segundo informou a agência estatal turca de notícias Anadolu.

O terremoto de magnitude 7,8, sucedido por mais de cem tremores secundários no sul da Turquia e no noroeste da Síria, já é o sétimo desastre natural mais mortal deste século. A tragédia supera o terremoto e o tsunami que abalaram o Japão em 2011.

Fonte: Papiro