Peruanos em greve ocupam as ruas de Lima para aprovar eleição geral e pelo fim da repressão | Foto: Divulgação

A greve dos trabalhadores peruanos pela antecipação das eleições presidenciais e legislativas para este ano, ao lado da consulta para a realização de uma Assembleia Constituinte, teve o apoio maciço da população, mas foi recebida com violência por parte do governo de Dina Boluarte, cujo banho de sangue acumula mais de 60 mortes desde que assumiu em 7 de dezembro.

No distrito de Chalhuanca, na província [estado] de Aymaraes, terra natal da presidenta Dina, a polícia usou desde bombas de gás lacrimogêneo até munição letal, que tirou a vida do manifestante Denilson Huaraca Vílchez, de 23 anos. Conforme denúncias da imprensa local, há pelo menos outros três participantes feridos a tiros: Víctor Rojas Alarcón (34), Damián Sivipaucar Jáuregui (32) e Pablo Lazo Alarcón (37). Em estado crítico, Víctor precisou ser transferido a Lima.

Segundo a Associação Pró-Direitos Humanos, na noite de quinta-feira (9) na Plaza Bolivar de Chalhuanca, aconteceu “uma repressão estatal generalizada e extremamente grave”. Não bastasse haver “aproximadamente 80 detidos”, os policiais atacaram covardemente a um grupo de mulheres pelo simples fato de que entregavam alimentos aos presos e que estavam sendo transferidos.

Informações da Telesul apontam que na cidade de Juliaca, nas proximidades do aeroporto Inca Manco Capac, foram mais de duas dezenas de pessoas feridas, entre elas duas crianças, de 11 e 15 anos, que receberam ferimentos de bala.

Entidade organizadora da paralisação, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) acredita que “há um poder político e econômico blindado” para que as coisas se mantenham como estão, perpetuando a dominação dos cartéis internacionais e da oligarquia que lhes representa.

“Os partidos da extrema-direita, com apoio de uma pretensa esquerda que lhes faz ping-pong, querem manter-se até 2026 para usufruírem de privilégios, benefícios e altos salários. Buscam continuar lucrando com a exploração, do saque do nosso ouro, prata, gás e petróleo, como lhe permite a Constituição fujimorista de 1993. Querem usufruir da herança do modelo neoliberal, sem lhes importar o quanto nos traz de exclusão social e negação do ser humano”, condenou Gerónimo López, secretário-geral da CGTP.

Entre outros pontos a ser incluído na nova Constituição, defendeu Gerónimo, “está o capítulo laboral, que foi extinto por Fujimori (1990-2000), reduzindo o trabalhador com a ‘livre-contratação’ para ‘negociar’ sua mão de obra, sem direitos, numa realidade em que milhares de peruanos desempregados fazem filas à procura de qualquer vaga”.

Na avaliação do líder da CGTP, um país com tantas e tamanhas riquezas deveria aplicá-las na industrialização, na geração de empregos de qualidade e no fortalecimento da educação e da saúde públicas. “Então, quando convocamos um ato para a frente do Congresso, onde os deputados estão reunidos, o governo posiciona barreiras e mais barreiras de policiais e tanques de guerra para impedir nossa passagem”, rebateu.

Gerónimo condenou ainda a ação conjugada dos monopólios de comunicação para identificar os combatentes da CGTP como “vândalos e terroristas”, tentando criar um clima de perseguição, medo e mentira. “Felizmente, além da realidade se impor nas ruas, as próprias pesquisas apontam que cerca de 70% dos peruanos querem uma nova Constituição pois acreditam na capacidade de que alterar a legislação vai melhorar o país”, acrescentou.

A Assembleia Nacional dos Povos (ANP), que congrega centrais sindicais, organizações de trabalhadores agrícolas, estudantis, de mulheres e partidos progressistas, fará uma reunião de avaliação na semana que vem para definir os próximos passos do movimento.

Fonte: Papiro