Sucesso da “semana de 4 dias” fortalece luta pela redução da jornada
Que tal trabalhar um dia a menos na semana, mas continuar recebendo o mesmo salário? Esta é a proposta da rede The 4-Day Week Global (A Semana Global de 4 Dias), que se juntou a pesquisadores para testar a iniciativa no Reino Unido. Tanto os trabalhadores quanto as empresas manifestaram satisfação com a medida.
O projeto também é conhecido como “100-80-100”. Para receber 100% do salário com apenas 80% da jornada, o trabalhador precisa manter 100% de sua produtividade. É o que o movimento sindical costuma definir como “redução da jornada sem redução de salário”.
A sorte para a The 4-Day Week Global foi lançada em junho de 2022, quando 61 empresas aceitaram encurtar a jornada de cinco para quatro dias por semana, em caráter experimental, de um total de 3.330 trabalhadores. Eram consultorias, bancos, empresas de tecnologia, grupos de educação, restaurantes, entre outros segmentos.
Após seis meses de testes, a aprovação foi geral. É o que aponta um relatório produzido por pesquisadores das universidades de Cambridge e de Oxford, do Boston College e do Instituto Autonomy. Conforme o texto, das 61 empresas participantes, 18 já anunciaram que adotarão a “semana de quatro dias” em caráter definitivo – e outras 38 afirmam que testarão a proposta por mais tempo.
Os pesquisadores atestam que a redução da jornada trouxe “grandes benefícios”. Com base no relatório, a BBC diz que, com a “semana de quatro dias”, os trabalhadores “estavam muito menos inclinados a ficar doentes e mais inclinados a permanecer com o empregador, reduzindo os custos de recrutamento e tornando mais valioso o treinamento de pessoal”.
Além disso, 40% dos trabalhadores se disseram menos estressados. Para 70% dos funcionários com histórico de burnout (esgotamento), a sensação era de mais bem-estar. O relatório cita trabalhadores que passaram a valorizar mais o dia extra de folga do que um aumento salarial.
Com relação às empresas, a boa notícia foi o incremento de, em média, um terço nas receitas durante os seis meses de teste, na comparação com período similar de 2021. A conclusão do relatório é que “o teste pode desencadear mudanças de atitudes – e em breve todos no país poderão vir a ter um dia de folga no meio da semana ou um fim de semana de três dias”.
A rigor, a constatação de que a produtividade cresceu, mesmo com uma jornada 20% menor, não surpreende. Em 1926, quando a Ford Motor Company reduziu a jornada de seis para cinco dias por semana, padronizando o trabalho de segunda a sexta-feira, os operários também apresentaram taxas maiores de produtividade. Resultado: com o passar do tempo, a maioria dos países passou a adotar uma jornada de cinco dias por semana.
Uma nova redução em nível internacional é possível – e o sucesso do teste no Reino Unido fortalece a luta pela redução da jornada neste século. Levantamento realizado nos Estados Unidos, em 2022, indicou que 83% dos trabalhadores apoiam a “semana de quatro dias”. Em Portugal, o governo convenceu cem empresas a testarem uma semana de trabalho mais enxuta.
Para a The 4-Day Week Global, o desafio é estender o projeto para mais países. A organização já fez testes (mais modestos) em países como Austrália, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia, além dos Estados Unidos. Mas as dimensões do experimento no Reino Unido dão mais consistência à proposta do “100-80-100”.
“O teste do Reino Unido é histórico”, afirmou, ainda em 2022, a economista e socióloga Juliet Schor, pesquisadora do projeto. Segundo ela, a jornada de cinco dias leva empresas a “expandir” o trabalho para manter o funcionário ocupado. “Aderir a um sistema rígido, centenário e baseado em horário fixo não faz sentido. Você pode ser 100% produtivo em 80% do tempo em muitos locais de trabalho – e as empresas que adotam isso em todo o mundo têm demonstrado isso.”
No Brasil, de acordo com a InfoMoney, as experiências com jornadas de quatro dias têm sido bem-sucedidas. “As poucas empresas brasileiras que passaram a adotar esse formato de 32 horas semanais de trabalho estão registrando melhorias de eficiência e até aumento de receitas. Por ora, a mudança tem sido adotada com mais força pelas companhias de tecnologia ou startups, como Zee.Dog, Crawly, NovaHaus, Winnin, AAA Inovação, Gerencianet e Eva Benefícios”, informa o portal.