Diversos sindicatos paulistas estão liberando seus clubes e suas colônias de férias para ajudar no socorro às vítimas do deslizamento de terra no Litoral Norte de São Paulo. A medida foi orientada pelas centrais sindicais, que, em nota, classificaram o episódio como “uma tragédia anunciada”.

O apoio do movimento sindical vai além da cessão temporária de suas dependências. As centrais orientaram suas bases a receber doações de cestas básicas e outros insumos. Conforme o último balanço divulgado pela Defesa Civil do Estado de São Paulo, há mais de 4 mil desabrigados e desalojados.

O desastre também deixou 54 mortos (sendo 53 em São Sebastião e um em Ubatuba), além de pelo menos 30 desparecidos. As equipes de resgate concentram as buscas na costa sul de São Sebastião.

A chuva registrada na região entre sábado (18) e domingo (19) foi a maior na história do Brasil num período de 24 horas. Para as centrais sindicais, porém, é preciso avaliar o peso da omissão do Poder Público na tragédia. A preocupação é compartilhada por CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores) e UGT (União Geral dos Trabalhadores).

“Autoridades e especialistas chamam a atenção para o volume de chuva, que bate recordes conforme a ganancia especulativa avança de forma desordenada”, dizem as entidades, na nota. “O fator humano na raiz do desastre não está sendo negligenciado, mas cabe reforçá-lo para não deixar que o argumento baseado na abundância de água torne-se um pretexto para empurrar a solução para um futuro incerto.”

Leia a íntegra da nota das centrais:

Enxurradas e deslizamentos no Litoral Norte de São Paulo: uma tragédia anunciada

A série de desastres desencadeada pelas fortes chuvas que devastaram o Litoral Norte de São Paulo, com dezenas de mortos, feridos e desabrigados em um conjunto incontável de perdas que enlutou o País é, infelizmente, um fenômeno que se repete a cada verão e que tem como principais causas os abusos ambientais e sociais na forma de ocupações irregulares e falta de condições e infraestrutura para a população local.

Autoridades e especialistas chamam a atenção para o volume de chuva, que bate recordes conforme a ganancia especulativa avança de forma desordenada. O fator humano na raiz do desastre não está sendo negligenciado, mas cabe reforçá-lo para não deixar que o argumento baseado na abundância de água tornese um pretexto para empurrar a solução para um futuro incerto.

Enfrentar e combater crimes ambientais é um trabalho de longo prazo que gera impopularidade uma vez que seus efeitos estão em descompasso com o tempo de cargos eletivos e uma vez que gera atritos com interesses particulares, comumente colocados à frente dos interesses coletivos.

Entretanto este é um debate urgente e que está na ordem do dia. Acreditamos que atualmente a questão ambiental e todos os fenômenos sociais e sanitários em torno dela estão mais amadurecidos na sociedade. Acreditamos, sobretudo, que o respeito e a preservação ao meio ambiente são atitudes promissoras do ponto de vista do desenvolvimento.

Por tudo isso as Centrais Sindicais exigem que os governos municipais, estaduais e federal ampliem, com urgência, políticas públicas habitacionais, como o Minha Casa Minha Vida, que atendam a população de baixa renda, uma vez que essas são as principais vítimas. Encosta de morro não pode servir de moradia para nenhuma família.

Essa tragédia, já vinha sendo anunciada há anos, com o desastre de Nova Friburgo e Teresópolis (2011), as tempestades no Vale do Itajaí, Santa Catarina (2020), as enchentes da Bahia (2022), as chuvas em Petrópolis (2022), entre outras.

É necessário dar um basta nessa situação! As Centrais Sindicais, que representam mais de 50 milhões de trabalhadores, EXIGEM a implantação de um programa habitacional para atender os mais necessitados, pois não é possível que o trabalhador e suas famílias continuem sendo empurrados para as perigosas encostas de morros por falta de um programa habitacional justo.

É preciso que haja uma solução!

São Paulo, 23 de fevereiro de 2023

  • Sérgio Nobre, presidente da CUT – Central Única dos Trabalhadores
  • Miguel Torres, presidente da Força Sindical
  • Ricardo Patah, presidente da UGT – União Geral dos Trabalhadores
  • Adilson Araújo, presidente da CTB – Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
  • Moacyr Auersvald, presidente da NCST – Nova Central Sindical de Trabalhadores
  • Antonio Neto, presidente da CSB – Central dos Sindicatos Brasileiros