Wang Yi, dirigente da Comissão de Relações Externas do PC chinês, reúne-se com Vladimir Putin | Foto: AP/Anton Novoderezhki

Nos últimos dias, duas viagens chamaram a atenção dos analistas internacionais. A ida de surpresa do presidente norte-americano Joe Biden a Kiev, para anunciar mais e mais armas e dinheiro para a continuação do conflito na Ucrânia e do regime instaurado pelo golpe de 2014, e o giro internacional do responsável pelas Relações Externas do PC da China e ex-chanceler, Wang Yi, em prol de negociações de paz e cessar-fogo, que incluiu Munique e Moscou, onde foi recebido pelo presidente Vladimir Putin.

Durante a reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e Wang Yi em Moscou na quarta-feira (22), onde os dois lados trocaram opiniões profundas sobre a questão ucraniana na avaliação do jornal Global Times, Wang disse que a China aprecia a reiteração da Rússia de sua disposição de resolver a questão por meio do diálogo. A posição oficial de Kiev é contra as negociações.

A China, como sempre, manterá uma posição “objetiva e justa” na solução política da crise, disse o principal diplomata chinês.

“POSIÇÃO OBJETIVA E SERENA”

Após encerrar sua visita à Europa, Wang disse a repórteres na quinta-feira que durante a viagem sentiu que, embora as posições de todas as partes envolvidas sejam diferentes e até mesmo opostas entre si, todas aceitam que as disputas sejam resolvidas por meio do diálogo; entendem que uma estrutura de segurança regional deve ser estabelecida para alcançar a paz e apreciam “a posição objetiva e a atitude serena da China”.

Sobre as exortações de Biden de guerra ‘até o último ucraniano’, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, destacou que “não há vencedor em conflito e confronto. Diálogo e negociação são a única maneira correta de resolver a crise”, em entrevista coletiva de rotina na quinta-feira.

“Na questão da Ucrânia, a posição da China se resume a apoiar as negociações de paz. Apresentaremos um documento sobre a posição da China sobre a solução política da crise na Ucrânia e permaneceremos firmes do lado da paz e do diálogo”, disse Wang na Conferência de Segurança de Munique na semana passada.

Ao se reunir com o primeiro-ministro Olaf Scholz, o principal diplomata chinês disse que Pequim “sempre esteve comprometida com a paz, defendendo a reconciliação, a promoção de negociações de paz, bem como um cessar-fogo precoce e o fim das hostilidades”. “Esperamos que a Alemanha desempenhe um papel construtivo e ajude a aliviar as tensões”, acrescentou.

HORA DE APERTAR O BOTÃO DE ‘PARAR’

Considerado um porta-voz oficioso de Pequim, o Global Times conclamou em editorial todos a “apertarem conjuntamente o botão de parar” no conflito Rússia-Ucrânia. “O continente europeu encontra-se numa encruzilhada crítica: por um lado, se o confronto continuar a se agravar, pode levar a consequências catastróficas imprevisíveis, incluindo o risco de uso de armas nucleares; por outro lado, aumentam os apelos a uma solução política para a crise e à paz o mais rapidamente possível, o que se tornou um desejo universal da comunidade internacional”.

“O conflito Rússia-Ucrânia possui um contexto histórico complexo, e ignorar esse fato pode levar a uma compreensão incompleta do caminho para a resolução do conflito, ou mesmo a soluções irrealistas. A Ucrânia já fez parte da União Soviética e tem uma situação étnica doméstica complicada, juntamente com sua localização geográfica entre a OTAN e a Rússia”, resumiu o GT.

“Desde 2014, quando os EUA instigaram uma ‘revolução colorida’ na Ucrânia, Washington incitou mais hostilidade entre a Ucrânia e a Rússia, levando a um grande número de conflitos no leste da Ucrânia. O mecanismo de segurança existente [na Europa], centrado na OTAN, exclui completamente a Rússia e repetidamente iniciou a expansão da OTAN para o leste”.

“Resolver o conflito entre a Rússia e a Ucrânia requer o estabelecimento de um conceito de segurança universal e sustentável, ao invés de um conceito unilateral e hegemônico”, sublinhou. “Como um grande país responsável, a China tem se empenhado em promover negociações de paz desde o início, fornecendo assistência humanitária e não abrigando quaisquer ambições geopolíticas”.

Enquanto essa é atuação da China, Washington optou por provocações, como a de que “há sinais” de que Pequim iria fornecer armas à Rússia. “Distorcer e caluniar os esforços da China mostra a mentalidade da Guerra Fria e obstrui o acordo político”, observou o GT.

Fonte: Papiro