Pabel Muñoz, celebra vitória em Quito, ao final da contagem dos votos na capital | Twitter

Guillermo Lasso, banqueiro e presidente do Equador, foi derrotado nas eleições estaduais do dia 5, perdendo nas principais regiões para os candidatos da oposição.

Foi vitorioso o movimento Revolução Cidadã (RCS), liderado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017).

O movimento RC5 assumiu o controle de sete províncias [Estados]: Pichincha, cuja principal cidade é a capital Quito, Azuay, Santo Domingo, Santa Elena, Manabí, Guayas e Guayaquil – centro econômico do país.

Em Guayas e Gayaquil houve uma grande reviravolta, já que tradicionalmente eram reduto do partido religioso e conservador, o Partido Social Cristão (PSC), que havia governado durante as três últimas décadas.

O acadêmico e professor especializado em Sociologia do Desenvolvimento, de 47 anos, Pabel Muñoz governará Quito e o empresário de 38 anos, Aquiles Álvarez, comandará Guyaquil.

Os resultados do referendo convocado por Lasso contestam os institutos de pesquisa, que “até ontem” projetavam uma realidade totalmente oposta, declarou o sociólogo e professor equatoriano Henry Allan.

Diferente dos prognósticos, o “Não” falou mais alto nas oito perguntas propostas pelo oficialismo, com “uma absoluta derrota do governo” – em alguns casos com até 20% de vantagem para a rejeição, como proposto pela oposição.

Quem triunfou foi definitivamente “o povo equatoriano” que pôde “dizer não às políticas públicas neoliberais e um ‘não’ à tentativa de apropriação quase total dos poderes do Estado”.

“O povo equatoriano conseguiu dizer ‘basta’ a um governo que não investiu em educação, saúde, que desmantelou o Estado”, acrescentou Allan.

Entre outros problemas, além de extinguir o Conselho de Participação Cidadã e Controle Social, órgão estatal dedicado à fiscalização e à designação de autoridades de verificação pública, reduzindo espaços democráticos, vários especialistas alertaram que a iniciativa de Lasso minava a soberania nacional com entrega de até 72% do território nacional ao extrativismo predador comandado por petroleiras e mineradoras com capital estrangeiro, incluindo até a mineração de água.

Segundo dados levantados pela Conaie (Confederação que reúne as coordenações das diferentes populações indígenas), com Lasso, foi violada a Constituição que garante aos indígenas o direito de negar a invasão do seu solo pelas mineradoras, cuja exploração só pode ocorrer mediante referendo.

Dentro dos 72% que Lasso quer entregar às mineradoras, trata-se de extensões que ocupam 93% de território indígena, que fica ameaçado de invasão com a destruição da vida comunitária destas populações.

De acordo com estudo realizado por Paola Maldonado, Jaime Robles e Verónica Potes, o que Lasso reivindica é o aprofundamento que já há do modelo extrativista, “aproximadamente 37,5% do território nacional continental e mais de 60% dos territórios de povos e nacionalidades já estão concessionados a atividades de mineração e petróleo”, o que implica em uma devastação da natureza por todo o país.

Uma das mazelas mais graves veio desde o governo anterior, de Lenin Moreno, com a suspensão dos subsídios que fez catapultarem os preços dos combustíveis com impacto grave sobre as populações mais distantes do centro do país; contingentes camponeses que precisam se deslocar aos grandes centros para vender o produto do meio rural.

Desde o governo de Moreno, até 27 de junho de 2022, já no governo de Lasso, o preço da gasolina saltou de US$ 1,48 por galão para US$ 2,55, um aumento de 65,54%. Quanto ao diesel o aumento foi de 57%. Nesta data um vasto movimento popular tomou conta do país, exigindo redução no preço dos combustíveis cuja elevação repercutia na alta no custo de vida. Lasso reduziu o preço da gasolina em 10 centavos de dólar, 3,92% em termos percentuais, o que foi considerado um desacato ao movimento popular.

A esse conjunto de desmandos se juntou a falta de atendimento hospitalar durante a pandemia. Em Guayaquil, cidade mais afetada, centenas de casas se tornaram necrotérios e os corpos começaram a ser abandonados – e muitos queimados – no meio da rua.

As pessoas encontram-se completamente desiludidas, aponta o estudo Barômetro da Corrupção, da Fundação para a Cidadania e Desenvolvimento, com nove em cada 10 pessoas afirmando não ter confiança no governo, situação agravada com as denúncias de que o cunhado de Lasso, Danilo Carrera, se locupletava da venda de postos de governo, em particular no setor sensível de energia.

A coisa se tornou tão grave que o ministro de Política Pública Anticorrupção, Luis Verdsoto, renunciou menos de um mês antes das atuais eleições.

Fonte: Papiro