Pesquisa sugere que discurso armamentista foi “tiro no pé” do bolsonarismo
Em novembro de 2022, mesmo após quase quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), a maioria da população brasileira rejeitava o “libera geral” em relação à posse de armas. O razoável crescimento do número de eleitores que se declaravam “de direita” não foi suficiente para implodir a resistência às teses armamentistas defendidas pelo bolsonarismo.
É o que revela a pesquisa nacional “Panorama Político 2023”, realizada pelo Instituto DataSenado. O levantamento entrevistou 2.007 eleitores, por telefone, de 8 a 26 de novembro, logo após as eleições presidenciais, nas quais Bolsonaro foi derrotado, no segundo turno, por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os resultados da sondagem só começaram a ser divulgados pelo Senado na semana passada.
Conforme a pesquisa, na reta final do último governo – marcado por pautas conservadoras –, mais brasileiros se posicionavam diante da polarização político-ideológica do País. Em 11 meses – de dezembro de 2021 a novembro de 2022 –, o percentual de eleitores que se consideram de direita passou, expressivamente, de 21% para 31%. Os eleitores de esquerda também cresceram, mas em ritmo menor – de 11% para 17%.
“A coleta de dados foi realizada em um contexto pós-eleitoral, em que o campo se iniciou sete dias após a conclusão do segundo turno das eleições gerais de 2022. Deve-se considerar, assim, o potencial impacto desse momento singular na opinião das pessoas e nos resultados desta pesquisa”, explica o DataSenado.
As mudanças de preferência e posicionamento do eleitorado se refletem parcialmente em temas ligados à segurança. Em direção inversa ao que pregavam os bolsonaristas, nada menos que 85% dos brasileiros concordam com o monitoramento de ações policiais por meio de câmeras em seus uniformes. Em compensação, 72% defendem um retrocesso como a redução da maioridade penal.
Porém, é do discurso pró-armas que Bolsonaro mais está na contramão da opinião majoritária dos brasileiros. A maioria – 60% dos entrevistados – diz que “facilitar a posse de armas” não aumentará a segurança no Brasil. A rejeição já foi maior – era de 69% em dezembro de 2021. Os que defendem o “libera geral” em relação às armas são 37%.
Aqui pode estar uma chave para entender como a bandeira armamentista foi um verdadeiro “tiro no pé” do bolsonarismo. Conforme o DataSenado, 66% dos que se declaram à direita querem armas mais acessíveis à população.
Os eleitores de direita formam o único grupo onde essa tendência próxima ao ideário bolsonarista é dominante. “Por outro lado, 85% dos que se posicionam à esquerda são contrários, assim como 70% dos posicionados ao centro e 71% dos que não se enquadram nessas posições políticas”, detalha o DataSenado.
Outros dados da pesquisa reforçam esse descolamento entre a opinião geral e a campanha bolsonarista: 60% dos brasileiros acreditam que facilitar a posse de armas levará ao aumento da violência doméstica. Nesse segmento, 86% dizem ter notado um aumento da violência doméstica e familiar contra a mulher nos últimos 12 meses.
Os recortes de gênero e raça da sondagem também mostram que fatias do eleitorado mais hostis a Bolsonaro têm resistência maior à flexibilização da posse de armas. A desaprovação é maior entre os pretos (68%) e os pardos (64%) do que entre os brancos (54%). Da mesma maneira, 71% das mulheres condenam essa proposta de Bolsonaro, contra apenas 49% dos homens.