Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Em janeiro deste ano, o volume de recuperações judiciais requeridas foi o maior para o mês em três anos, segundo dados da Serasa Experian.

Um total de 92 companhias entraram na Justiça para adiar o pagamento de dívidas em janeiro, segundo a pesquisa divulgada nesta segunda-feira pelo Estadão. A alta é de 37,3% em relação a janeiro de 2022 e de quase 90% ante janeiro de 2021.

Em meio à estagnação econômica após a pandemia, os juros elevados impostos pelo Banco Central agravaram a situação das empresas. A taxa básica de juros (Selic) que pulou de 2% ao ano para 13,75% ao ano pressionou o crédito e a renegociação das dívidas com os bancos, assim como as dívidas das famílias, aumentando a inadimplência que atingiu em cheio as pequenas e médias empresas.

A produção industrial, assim como as vendas no comércio, recuaram. A indústria encerrou o ano de 2022 no vermelho (-0,7%) e o comércio varejista variou apenas 1,0%.

6,4 MILHÕES DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS ENCERRARAM 2022 INADIMPLENTES

Só no final do ano passado, cerca de 6,4 milhões de pequenas e médias empresas estavam inadimplentes, um recorde desde o início da pesquisa em março de 2016. Em janeiro, 65 milhões de brasileiros iniciaram o ano com contas em atraso, de acordo com dados da Serasa.

Apesar de as micro e as pequenas serem maioria, com dois terços dos pedidos, em janeiro, 15 companhias de grande porte recorreram à recuperação judicial, quase o triplo do ano anterior.

“Quando vemos as grandes empresas tendo problemas, está feia a coisa”, observou Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, responsável pelo levantamento.

A Oi, recém saída de uma recuperação judicial em dezembro, fez um pedido de tutela à Justiça para honrar as dívidas da primeira. A DOK Calçados, dona da Ortopé, também entrou com o pedido de proteção judicial contra seus credores.

A Americanas, um caso à parte por estar envolvida em fraude bilionária, também pediu recuperação judicial, mas gerou uma crise em cascata atingindo inúmeros fornecedores, além de gerar insegurança para os 44 mil funcionários da companhia, com desemprego e desamparo às famílias e pequenos negócios.

A Marisa, do setor de vestuário, um dos segmentos mais atingidos pelo crédito caro e o orçamento apertado pela renda baixa, optou por reescalonar a dívida de R$ 600 milhões fora do âmbito judicial.

De acordo com o economista da Serasa, quando a inflação anual ultrapassou 10% no final de 2021, cresceu a inadimplência tanto do consumidor quanto das empresas. De lá para cá, esses volumes só aumentaram. “Uma inadimplência (pessoa física) puxa outra (pessoa jurídica)”, diz Rabi.

NÚMERO DE FALÊNCIAS CRESCEU 56%

O número de falências requeridas em janeiro também atingiu a maior nível em três anos. Foram 72 pedidos no mês passado, ante 46 em 2022 e 40 em 2021, segundo a Serasa Experian.

Este mês de fevereiro, a Pan Produtos Alimentícios, em recuperação judicial desde 2021, com dívidas de R$ 260 milhões, pediu a autofalência. Com o pedido, a tradicional empresa de chocolates admite que não tem como honrar as dívidas e continuar operando.

A tradicional Livraria Cultura, que não conseguiu responder ao plano de recuperação judicial, teve a falência decretada no início de fevereiro. Na semana passada conseguiu uma liminar da Justiça para reverter a falência da companhia.

Fonte: Página 8