CGT rejeita arrocho e destaca que a previdência não é deficitária | Vídeo

Dois milhões de franceses voltaram às ruas na terça-feira (7) para repudiar a brutal e injusta reforma da previdência do governo Macron, que pretende impor o aumento da idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos, e que está em discussão na Assembleia Nacional.

É a terceira jornada massiva nacional antiesbulho desde o dia 19 de janeiro, por convocação unânime das oito centrais sindicais francesas, encabeçadas pela CGT e pela CFDT. No próximo sábado (11), já estão marcados greves e protestos para manter a pressão sobre o macronismo. Além de dois anos a mais, a reforma Macron estica o tempo de contribuição para 43 anos.

Foram 400 mil manifestantes em Paris, segundo a CGT, sob a consigna de “64 anos é não”. Os atos públicos se estenderam a 200 cidades, os maiores em Marselha, Tolouse e Lyon. A maior participação nas greves foi nas categorias profissionais à quais está sendo subtraído o regime especial de aposentadoria, como professores, ferroviários e trabalhadores em energia.

Há uma enorme rejeição à reforma, conforme auferido por pesquisa após pesquisa, e a oposição engloba desde comunistas, socialistas, ‘insubmissos’ e ambientalistas, até a extrema-direita de Marine Le Pen, e conta com enorme participação dos estudantes. Os republicanos -conservadores – estão divididos.

Na véspera, a rejeição da reforma, apresentada pela aliança de esquerda – e que teve o apoio da Reunião Nacional, de Le Pen, foi derrotada por 292 a 243 na Assembleia Nacional; também não passou a proposta da RN de submetê-la a plebiscito. O macronismo quer aprovar o acinte em rito sumário até 17 de fevereiro.

A deputada oposicionista Mathilde Panot criticou o projeto que “agrava o caos” para os franceses que já enfrentam muitas dificuldades. “Você o está anunciando quando os franceses estão sufocados pelo alto custo de vida” e quando o país “ainda tem 10 milhões de pobres”. “Aumente os salários para gerar mais contribuições, alcance a igualdade profissional entre mulheres e homens, aumente a taxa de emprego para os idosos”, ela cobrou.

Tendo perdido a maioria parlamentar na Assembleia Nacional na eleição passada, a expectativa de Macron é contar com o voto da oposição conservadora do Les Republicains.

O mentiroso pretexto de “reequilibrar o sistema”, como alegou a primeira-ministra Élisabeth Borne, foi ridicularizado no protesto do dia 19 pelo ex-candidato a presidente, Jean-Luc Melénchon.

“Eles não sabem o que vai acontecer amanhã, mas dizem saber o que vai acontecer com a Previdência daqui a 10 anos”, assinalou. A reforma previdenciária – resumiu o secretário-geral da CGT, Philipe Martinez – “canaliza todo o descontentamento da França”.

Diariamente, surgem novas denúncias sobre a reforma que o ex-funcionário dos Rothschilds busca impor aos franceses. Uma reforma “brutal”, que penaliza mais os trabalhadores precários, disse o líder da CFTD, Laurent Berger. Uma reforma que prejudica especialmente as mulheres e fragiliza os idosos entre 60 e 64 anos – só 35% deles têm emprego em tempo integral, advertem entidades e acadêmicos.

O pretexto de Macron para ‘justificar’ sua reforma foi rebatido em janeiro na Assembleia Nacional pelo próprio presidente do Conselho de Orientação da Previdência (COR), Pierre-Louis Bras, que ali relatou que “a despesa com aposentadoria tem se estabilizado de forma geral” e, mesmo no longuíssimo prazo, “diminui em três das quatro hipóteses”, de acordo com o último relatório anual do órgão. Foi “uma escolha” (de Macron), concluiu.

RECUSA AO DEBATE

As alegações de Macron também foram contestadas pela CGT. “Para financiar pensões e aposentadorias melhores aos 60 anos, existem soluções. Aumentar salários, criar empregos, tributar dividendos, garantir igualdade salarial, jornada de 32 horas. O governo se recusa a debatê-lo”, enfatizou o documento.

“Mesmo que se comprovasse o cenário de déficit de 12 bilhões de euros em 2027 adotado pelo governo, bastaria um aumento de 0,8% de contribuição para preenchê-lo”. Metade do suposto déficit seria coberto caso se acabe com a diferença salarial de 28% entre mulheres e homens [salário igual para trabalho igual].

A CGT afirmou que não há problema orçamentário de curto prazo: “o sistema previdenciário como um todo tem 200 bilhões de euros em reservas. E existem as alavancas de ação para financiar a aposentadoria aos 60 anos (55 para trabalhos difíceis), e para garantir uma pensão mínima de 2.000 euros”.

A CGT destacou ainda que ao “aumentar os salários, automaticamente aumentam as contribuições para a segurança social para financiar as pensões e se garante melhores direitos à pensão”. Ao recrutar os 400.000 funcionários necessários para o serviço público hospitalar, seriam arrecadados “mais 5 bilhões de euros para a previdência”.

As isenções fiscais concedidas às empresas, que totalizam 157 bilhões de euros anuais, assinalou a central sindical, “são 13 vezes” o déficit previdenciário anunciado. A principal central sindical do país convocou ainda a eliminar as isenções aos dividendos das empresas e rendimentos financeiros: no ano passado os acionistas das empresas CAC 40 [índice da Bolsa de Paris] receberam 80 bilhões de euros”.

No lombo de quem mandou dar. Em 1995, na primeira tentativa de atacar a previdência no governo de Jacques Chirac, a revolta popular que parou a França acabou enterrando a medida e o então primeiro-ministro Allain Juppé. Em 2010, o então presidente Nicolas Sarkozy enfiou goela abaixo dos franceses a ampliação da idade mínima de 60 para 62 anos, mas não conseguiu se reeleger.

Fonte: Papiro