Médicos e trabalhadores da Saúde na manifestação de Madri por recursos para a Saúde | Foto: Divulgação

“Saúde sem cifrão ou vamos todos pro caixão”, “Mais investimento para a atenção básica e de qualidade” e “Sem financiamento não há negociação” foram algumas das palavras de ordem entoadas pelos médicos em passeatas na capital Madri em nesta quinta-feira (23), às vésperas de completar três meses o início da greve do pessoal da Atenção Primária em defesa do sistema público.

Convocada pela Assembleia do Movimento dos Trabalhadores da Saúde, a manifestação reiterou a necessidade imediata de mais recursos para a rede de saúde básica, a contratação de profissionais, melhores condições de trabalho e o reajuste dos salários, arrochados pelo agravamento da crise. Entre outros, o protesto nacional contou com a participação das Associações de Enfermagem, de Médicos Especialistas e da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

Ao negligenciar a saúde pública, alertaram os médicos, o governo impacta negativamente o atendimento prestado aos pacientes em prol da rede privada, que associaram à morte. Vestidos de esqueleto, médicos desfilaram pelas ruas para esclarecer o resultado da asfixia financeira vigente.

Apesar da gravidade da situação, que piora a cada dia, denunciaram as entidades, as negociações seguem estancadas, com o governo se mantendo intransigente em manter congelado o orçamento do setor, que agoniza.

“Na Espanha, cometeu-se o erro de transferir o Sistema Nacional de Saúde para as Comunidades Autônomas de forma completa, não apenas a gestão. Agora temos 18 sistemas, 18 serviços de saúde diferentes em todos os aspectos, desde o calendário de vacinas, as receitas, os direitos, as obrigações, em tudo”, afirmou Vicente Matas, diretor do Centro de Estudos do Sindicato Médico de Granada. As discrepâncias salariais e nas condições de trabalho, esclareceu, também são o retrato de um país que fragilizou o sistema público para beneficiar a rede privada, que é quem está lucrando com o descalabro reinante.

Um relatório elaborado pelo Centro de Estudos comprovou problemas que vão desde as exigências iniciais de formação dos médicos, às jornadas exaustivas, horários penosos e baixa remuneração. É por esses motivos, aponta o documento, que “muitos profissionais deixam a Espanha e vão para outros países onde os seus salários podem ser o dobro ou até o triplo, em condições muito melhores, sobretudo no atendimento à Atenção Primária”.

SOBRECARGA DE TRABALHO

Atualmente, a quantidade de atendimentos para os médicos e enfermeiras é de 1.300 pacientes mensais e de 1.000 para pediatras. “Isso significa apenas 10 minutos de atenção aos adultos e de 15 minutos para as crianças. Reivindicamos um máximo de 31 pacientes em nossa agenda diária, sem o que a qualidade do atendimento continuará, obviamente, muito prejudicada”, declarou Maria Justicia, do Sindicato dos Médicos de Madri (Amyts).

De acordo com o Sindicato, na capital do país a espera para conseguir uma consulta médica aumentou em três dias desde 2019, sendo que a média atual é de quase nove dias, “com a deterioração do atendimento”. Por isso, enfatizou Maria Justicia, a categoria dialoga com a população para que lute conjuntamente e aumente a pressão sobre o governo, a fim de garantir a ampliação de recursos para a imediata reabertura de todos os Serviços de Emergência da Atenção Primária, com equipes profissionais completas e suficientes, além do retorno dos Serviços de Atendimento Rural, como eram em outubro de 2022.

Fonte: Papiro