Desastre de trem em Ohio expõe desleixo das empresas por segurança para obter mais lucro
O desastre que provocou o descarrilamento de um trem contendo produtos químicos, bem como seu derramamento nas proximidades da pequena cidade de East Palestine, em Ohio, nos EUA, em 3 de fevereiro, poderia ter sido evitado, revelando a falta de regulamentação e controle em favor das empresas e em detrimento dos possíveis danos causados ao planeta e à saúde humana diante de uma catástrofe ambiental, de acordo com a presidente do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB), Jennifer Homendy.
Os detalhes iniciais da investigação do Conselho sobre a causa do descarrilamento do trem Norfolk Southern, emitida na sexta-feira (24), detectaram peças que atingiram uma temperatura de 123 ºC).
Em entrevista à ABC News, a especialista confirmou que a principal causa do acidente tinha sido uma falha num rolamento, a peça que liga a roda ao eixo dos vagões. Segundo as imagens das câmaras de vigilância locais, o comboio apresentava “um destes rolamentos num dos estados finais de sobreaquecimento antes do descarrilamento do comboio”.
“Se houvesse um detector antes, se o sistema de alarme da companhia responsável pelo trem tivesse avisado mais cedo aos engenheiros que os rolamentos estavam superaquecendo, esse descarrilamento poderia não ter ocorrido”, afirmou aos repórteres em Washington.
“Chamamos essas coisas de acidentes, mas não são acidentes. O que aconteceu foi cem por cento evitável”, lamentou durante uma coletiva de imprensa, onde também anunciou que os residentes da cidade East Palestine poderão ouvir isso em primeira mão quando mais detalhes forem conhecidos sobre os possíveis efeitos do descarrilamento. Jennifer Homendy, no entanto, alertou que o relatório final do incidente pode levar até dois anos para ver a luz do dia.
Peritos ferroviários também ressaltaram que o acidente ocorrido nos primeiros dias deste mês foi o resultado de medidas de segurança menos rigorosas e mão de obra reduzida, parte de uma política para aumentar os lucros das empresas ferroviárias.
De acordo com as regras, os sensores dão ordem de parar quando a temperatura ultrapassa os 170 graus Fahrenheit (76,67 ºC), mas essa regulamentação não tem âmbito nacional e depende das próprias empresas que muitas vezes as ignoram.
O equipamento descarrilado incluía 11 vagões-tanque transportando materiais perigosos que posteriormente pegaram fogo, alimentando incêndios que danificaram outros 12 vagões não descarrilados.
Os socorristas atenuaram o incêndio em 5 de fevereiro, afirmou o relatório do NTSB. Mas cinco “vagões-tanque de especificação transportando 115.580 galões de cloreto de vinil” descarrilados continuaram a preocupar as autoridades.
Funcionários da empresa, sob condição de anonimato, revelaram na semana passada à CBS que o veículo havia apresentado falha mecânica dois dias antes do descarrilamento e que transportava uma carga obviamente exagerada: 151 vagões, incluindo vinte com elementos nocivos, para um peso total de cerca de 18.000 toneladas. Até agora, o NTSB encontrou “sinais preliminares de problemas mecânicos em um dos eixos”, aguardando mais informações.
Jennifer Homendy disse que em 2022 houve 868 descarrilamentos nos EUA de vagões da mesma classe do trem da Norfolk, um número que ela disse ser muito alto e resultado das empresas e do governo não implementarem as recomendações de segurança anteriores da NTSB.
O Departamento de Recursos Naturais de Ohio anunciou na noite de quinta-feira (23) a morte de mais de 43 mil peixes, anfíbios, crustáceos e outros animais aquáticos em cursos de água próximos do local.
Na semana passada, Sherrod Brown e JD Vance, os senadores de Ohio, enviaram uma carta à agência de proteção ambiental do estado expressando preocupação de que dioxinas possam ter sido liberadas quando alguns dos produtos químicos nos vagões danificados foram deliberadamente queimados por razões de segurança.
Linda Birnbaum, uma importante pesquisadora de dioxinas, toxicologista e ex-diretora do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental, confirmou que a queima de cloreto de vinil cria dioxinas. Outros especialistas concordaram que o acidente poderia tê-los criado.
“É por isso que é importante que as autoridades investiguem este local agora”, disse Ted Schettler, um médico formado em saúde pública que dirige a Rede de Ciência e Saúde Ambiental, uma coalizão de organizações ambientais.
Fonte: Papiro