Bancada fujimorista tem amplo repúdio e protestos se ampliam apesar da repressão | Foto: Reprodução

Em oposição aos apelos da população, o Congresso peruano – por rejeição da bancada fujimorista – manteve quinta-feira (2) por 75 votos a 48 o veto do bloco à proposta de adiantar as eleições gerais para este ano.

Conforme a proposta apresentada pelo congressista Jaime Quito, do Partido Peru Livre (PPL), o primeiro turno seria realizado na segunda semana de julho – simultaneamente com o referendo da Constituinte -, sendo que e a posse das novas autoridades ocorreria em outubro.

Jaime Quito disse que, além de defender a mudança de presidente e de parlamentares [no país o Congresso é unicameral], as gigantescas manifestações iniciadas no dia 7 de dezembro reivindicam uma nova Carta Magna que se contraponha aos ditames da Constituição neoliberal de 1993, feita sob a sanguinária ditadura de Alberto Fujimori (1990-2000) que joga água no moinho da desnacionalização da economia, dos recursos naturais e na privatização do patrimônio público.

Na avaliação de Jaime Quito, a bancada progressista se manteve “coesa com o sentimento das ruas para devolver o poder ao povo”, desmascarando a armação do bloco fujimorista que insiste em negar à população o direito de se pronunciar por algo tão decisivo para o seu presente e o seu futuro.

A situação se torna tensa, alertou, quando todas as pesquisas de opinião apontam que o Congresso, na forma como tem se manifestado sua atual maioria, tem o rechaço superior aos 80%, com os parlamentares dando as costas ao interesse nacional. “Precisamos ser coerentes com o que a população deseja e exige”, frisou Quito.

“Não me parece mal que se pergunte ao povo se quer uma Assembleia Constituinte ou não. Não estamos a falar das condições, isso já faz parte de um processo Constituinte após o referendo, caso o sim vença”, acrescentou o congressista Luis Angel Aragón, da Ação Popular (AP).

Esta foi a primeira vez que os parlamentares debateram durante longas horas a necessidade da Constituinte, tema que vinha sendo tratado como tabu e mantido fora da pauta pelos setores fujimoristas.

Como se não bastassem os discursos entreguistas, o congressista de extrema-direita Juan Lizarzaburu fez um comentário racista em que desprezou a Whipala, bandeira indígena andina. Diante do insulto, o legislador Flavio Cruz, também do PPL, explicou que é aimará e repudiou como uma afronta a milhões de indígenas peruanos e bolivianos, e ao espírito de integração e irmandade entre os povos.

GREVE GERAL NO DIA 9 DE ABRIL

A Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) convocou para a próxima quinta-feira (9) uma greve nacional exigindo “o fim da repressão criminosa, a saída do Congresso vende-pátria e uma nova Constituição, agora!”.

Para completar, o fato de a Polícia Nacional do Peru (PNP) ter assassinado 65 pessoas que se manifestavam por democracia e soberania desde o começo de dezembro fez com que o chefe do Gabinete Técnico da Presidência da República, Raul Molina, apresentasse sua renúncia.

Em carta enviada à presidenta, Molina pediu que Dina Boluarte ouvisse a população e realizasse mudanças, respondendo prontamente “como chefe de Estado”. No documento de demissão, o responsável pelo Gabinete presidencial reiterou a necessidade da superação das diferenças, com diálogo. Para ele, a situação se torna ainda mais complexa diante do número de manifestantes que têm perdido a vida nos protestos, enquanto os responsáveis pelos crimes seguem impunes.

Fonte: Papiro