Momento da espetaculosa destruição do balão chinês por míssil lançado de um caça F-22 | Vídeo/CNN

“Obviamente uma reação exagerada e que viola seriamente o espírito do direito internacional e da prática internacional”, pronunciou-se a chancelaria chinesa na segunda-feira (6), em condenação à derrubada, pelos EUA, de um balão chinês não tripulado de pesquisa meteorológica de alta altitude e limitada capacidade de autodireção, que saíra do curso planejado sob fortes ventos do vórtex ártico que atingiu a região e acabou ingressando não intencionalmente no espaço aéreo norte-americano, depois de sobrevoar o Canadá.

A espalhafatosa derrubada do balão sobre o litoral da Carolina do Norte no sábado, depois que já atravessara os EUA, foi executada por um caça de quinta geração F-22, da Força Aérea dos EUA, com um míssil ar-ar AIM-9X, apoiado por caças F-15 e navios de guerra, segundo relato do Pentágono em seu site.

Como observou o jornal chinês Global Times, citando um especialista militar, foi como “atirar em um mosquito com um canhão”. A ação foi saudada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, como “um sucesso”. Aliás, foi a primeira vez que o caríssimo F-22 atirou com sucesso contra um alvo aéreo.

No domingo, o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng, já havia declarado que Pequim “se opõe resolutamente e protesta fortemente” contra a resposta de Washington ao incidente do balão e exortado os EUA “a não tomarem outras ações que prejudiquem os interesses da China e a não aumentarem ou expandirem a tensão”.

Previamente, a China já se comunicara com Washington, explicando o caráter civil do balão e de se tratar de um acidente inesperado, sob força maior, e pedira “contenção” e “profissionalismo” no trato da questão. O Pentágono, apesar de o ter chamado de “balão espião”, admitira que o balão chinês não era uma ameaça “militar ou física”.

O incidente também serviu de pretexto à Casa Branca para anunciar que estava adiada a visita a Pequim do secretário de Estado Antony Blinken, que dissera estar prevista para os dias 6 e 7.

Conforme o comunicado de Pequim, “o que os EUA fizeram afetou seriamente e prejudicou os esforços de ambos os lados e o progresso na estabilização das relações sino-americanas desde a reunião de Bali” – o encontro em novembro passado entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping na Cúpula do G20 na Indonésia.

O MRE chinês também acusou Washington de “fazer ouvidos moucos” aos reiterados esforços chineses para preservar as relações nessas circunstâncias – se comunicou com o lado dos EUA várias vezes – e, ao invés, de optar pelo “uso indiscriminado da força contra o dirigível civil que estava prestes a deixar o espaço aéreo dos EUA.”

“A China se reservará o direito de tomar as medidas necessárias para lidar com situações semelhantes”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa chinesa, coronel Tan Kefei, sobre o ataque norte-americano ao dirigível chinês.

“SHOW POLÍTICO”

Além de uma evidente provocação à China, a derrubada do balão chinês também refletiu a histeria nas altas rodas norte-americanas contra o progresso da China. “Ao transformar um acidente não intencional em um incidente que foi divulgado pelas autoridades e pela mídia dos EUA, Washington está adicionando novas incertezas às já tensas relações com a China, criando um mau precedente para borrar a linha entre usos civis e militares”, registrou o Global Times, citando especialistas.

O “episódio do balão” se tornou viral nas redes sociais dos Estados Unidos e nos shows jornalísticos ancorados por maníacos de guerra que até ontem eram funcionários da CIA ou do Pentágono.

Governadores e parlamentares republicanos clamaram contra a “frouxidão” de Biden e exigiram “o abate” do balão, sob risco de o Congresso o acusar de “abandono do dever”. Trump jurou que isso jamais aconteceria se ele fosse presidente. Mas foi desmentido pelo Pentágono, que garantiu que houve em seu mandato três sobrevoos ocasionais, que não tiveram qualquer alarde.

Para Li Haidong, professor do Instituto de Relações Internacionais da China, entrevistado pelo GT, “do governo dos EUA à opinião pública, o incidente do balão foi explorado para instigar um sentimento anti-China exacerbado, o que só tornará a política dos EUA para a China mais agressiva”.

A propósito, não há o que o dirigível pudesse registrar dos chamados “locais sensíveis” – os silos de mísseis de Montana – que já não esteja monitorado e mapeado por satélite. Avaliação que reforça o caráter de “show político” da resposta norte-americana.

OTAN DESEMBARCA EM TÓQUIO

A reação de Washington ao incidente não intencional do balão coincidiu com a ida, na terça-feira passada, do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, sua primeira viagem asiática, voltada a criar, no entendimento do ex-embaixador indiano e atual comentarista, MK Bhadrakumar, “o cenário para o iminente pouso da OTAN na região da Ásia-Pacífico”.

Em Tóquio, Stoltenberg criticou duramente a China por “intimidar seus vizinhos e ameaçar Taiwan” e advertir que “a segurança transatlântica e indo-pacífica está profundamente interconectada”.

Da mesma forma – ele acrescenta -, não pode ser uma coincidência que, do nada, o Wall Street Journal em uma reportagem exclusiva no domingo, aparentemente não relacionada ao caso do balão, alegou que a China “está fornecendo tecnologia que os militares de Moscou precisam para processar a guerra do Kremlin na Ucrânia. Apesar de um cordão internacional de sanções e controles de exportação”.

Fato que não escapou ao jornal China Daily, que em editorial sobre a viagem de Stoltenberg à Ásia observou que a tese dele de segurança transatlântica e do indo-pacífica “são gêmeos siameses” e a proposição de que a Rússia e a China formam um eixo maligno que ameaça a ordem internacional baseada em regras “é algo que os estrategistas em Washington estão se esforçando para vender ao redor do mundo.”

Fonte: Papiro