McGovern condena ataque aos gasodutos e destaca trabalho sério de Seymour Hersh | Foto: Divulgação

Em entrevista ao programa de rádio The Critical Hour [A Hora Crítica], o respeitado analista aposentado da CIA, Ray McGovern, debateu com os apresentadores Garland Nixon e Wilmer Leon a denúncia de Seymour Hersh de que foram os EUA que explodiram os gasodutos Nord Stream, e salientou: “é um ato de guerra”.

Por 27 anos analista da CIA e responsável por preparar o resumo diário para o presidente norte-americano no auge da Guerra Fria, McGovern é co-fundador dos Profissionais da Inteligência pela Sanidade em 2003 contra a invasão do Iraque; denunciou a fraude das inexistentes armas de destruição em massa no Iraque e o uso da tortura pela CIA sob W. Bush; protestou contra a nomeação de Gina Sanguinária para dirigir a CIA sob Trump; em 2010, foi signatário de uma carta aberta de apoio a Julian Assange e ao WikiLeaks e, em 2013, foi a Moscou entregar um prêmio por “Integridade na Inteligência” a Edward Snowden.

Na semana passada, Hersh, que denunciou o massacre de Mi Lai na Guerra do Vietnã e expôs a tortura cometida pelos EUA na prisão de Abu Graib no Iraque, publicou um artigo em que revela que a explosão dos gasodutos foi planejada antes do início da operação militar russa. O que envolveu o próprio Biden e seus principais auxiliares na política de segurança, e que usou como cobertura para a colocação dos explosivos uma manobra anual da Otan no Báltico em julho passado, enquanto coube à Noruega acionar as explosões em setembro.

HERSH: METICULOSO E HONRADO

“Eu sei que ele é um repórter meticuloso, vencedor de cinco prêmios Polk, Prêmio Pulitzer, o que você quiser, na época em que os repórteres honestos eram tão honrados”, disse McGovern sobre Seymour Hersh, atualmente com 85 anos de idade.

A matéria “tem todas as características da abordagem meticulosa de Sy [Seymour Hersh], e ele claramente tem uma fonte muito boa que sentiu a obrigação constitucional de honrar seu juramento à Constituição dos Estados Unidos, que é o juramento supremo que qualquer um nós tomamos. E isso é para garantir que você diga a verdade, especialmente quando a Constituição está sendo violada”, acrescentou.

“Agora, este foi um ato de guerra, puro e simples”, afirmou o veterano ex-analista.

CONTRA A ALEMANHA

“Curiosamente, foi contra a Alemanha. E curiosamente, o presidente Joseph Biden, em entrevista coletiva na presença do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse que isso vai acontecer se a Rússia invadir a Ucrânia. E, claro, perguntaram a ele, bem, como você faz isso? Quero dizer, como você pode estar tão confiante de que Nord Stream será desativado e Biden disse, bem, apenas, você sabe, confie em mim, isso vai acontecer”.

McGovern lembrou que uma repórter bilíngue da Reuters virou-se para Scholz e indagou se ele concordava. A resposta de Scholtz: “a gente faz tudo junto. Fazemos tudo juntos. Estaremos juntos nisso agora”. Não está disponível no artigo de Sy Hersh, mas essa entrevista está disponível na Alemanha, esclareceu o ex-analista.

“Eu descrevo Olaf Scholz como uma espécie de epítome do cônjuge abusado. Fica lá e é abusado não só pelo seu amo, Joe Biden, mas também por sua ministra das Relações Exteriores. O nome dela é [Annalena] Baerbock. Ela é a mais vociferante de todas as pessoas que dizem que estamos em guerra. Isso é o que ela disse: estamos em guerra com a Rússia”.

“Agora, a chave para tudo isso, é claro, é o fato que já mencionei. O artigo de Sy Hersh não foi publicado na Alemanha. O New York Times não o publicou. A grande mídia não publicou. Onde Sy teve que publicar isso? No portal da Substack. Agora, a certa altura, ele tinha um amigo no jornal alemão Die Welt, e eles publicaram uma denúncia incrível sobre a Síria. Acabou sendo verdade, mas Sy não conseguiu publicá-lo em nenhum outro lugar. Ele costumava publicar no The New York Times, depois no The New Yorker. Foi banido”.

“Portanto, a questão é: será possível informar não apenas ao povo americano, mas, mais importante, ao povo alemão que eles foram enganados? Isto está a privá-los dos seus meios de subsistência e da indústria. Eles, ao contrário de 90 anos atrás, agirão como adultos, se levantarão e dirão: ‘Agora chega. Explodir nosso gasoduto foi muito longe. Vamos olhar para as coisas de forma diferente. Em primeiro lugar, nosso envolvimento na Ucrânia’”?, questionou McGovern.

SILENCIAMENTO

“Bem, novamente, se a árvore grande cair na floresta e não houver ninguém por perto para ouvi-la cair, ela faz barulho? É incrível como o The New York Times – na verdade, comecei a chamar o The New York Times de The New Yellow Times, em homenagem ao jornalismo amarelo, que, como a maioria das pessoas sabe, é o que você faz quando exagera ou distorce as coisas além da verdade”.

“O New Yellow Times pode impedir que isso seja ouvido e, mais importante agora, impedir que a corroboração seja uma voz. Temos a confirmação agora de Gil Doctorow em Bruxelas, Larry Johnson em Tampa, está chegando. E então eu aplaudo a fonte que deu a Sy Hersh todas essas informações. Eu acredito nisso implicitamente. Sy nunca errou em questões realmente importantes como esta. Como eu disse, ele é meticuloso e estava perturbado – e eu sei disso pessoalmente – perturbado com todas essas coisas sobre o Russiagate”.

“Até agora, apenas Tucker Carlson teve os cojones para interpretar esta história. Será que vai mais longe? Suspeito… bem, não sei, mas gosto de tentar ser otimista. O New York Times e a grande mídia podem suprimir isso indefinidamente? Bem, suponho que podem. Eles suprimiram outras histórias, igualmente importantes, como o fato de que os russos provaram não ter hackeado o Diretório Nacional Democrata e que a alegada ‘ofensiva russa’ no Facebook não deu em nada”.

“O fato de que Sy teve que entrar no Substack para fazer isso é realmente uma manifestação sinistra do fato de que nem mesmo o repórter investigativo mais premiado e meticuloso dos Estados Unidos conseguiu publicar isso em outro lugar. Isso diz muito”.

O apresentador Garland Nixon observou que no artigo, Sy discute as reuniões que Victoria Nuland e Anthony Blinken e Jake Sullivan realizaram no escritório executivo do presidente, onde debateram opções para um ataque ao oleoduto. E ele escreve que a CIA argumentou que o que quer que fosse feito, teria que ser secreto. E na época, a CIA era dirigida por Bill Burns, como Sy o descreve, um educado ex-embaixador na Rússia. Eu sei que você conhece bem Burns. Ele diz que Burns rapidamente autorizou um grupo de trabalho da CIA cujos membros ad hoc incluíam alguém que estava familiarizado com a capacidade desses mergulhadores de águas profundas da Marinha. “O que você acha do envolvimento de Burns nisso?”, questionou Garland.

“Eu conheço Burns. Ele me deixou, bem, envergonhar James Clapper ao apontar para uma audiência que Clapper havia admitido que falsificou as evidências sobre armas de destruição em massa antes do ataque ao Iraque”, disse McGovern. “Burns era, alguns de nós esperavam, que ele pudesse ser o adulto na sala, mas Burns é o epítome de uma engrenagem nas rodas do sistema”.

Ele – acrescentou o ex-analista – é um cara do Departamento de Estado. “Ele tem que ser o número dois no Departamento de Estado e você não consegue ser o número dois no Departamento de Estado a menos que bata continência. Se é um esquema desmiolado ou não, você saúda. Bem, aqui você tem o epítome de um esquema desmiolado. Burns fez uma saudação? Sim, assim que o presidente disse, faça. Ele se voltou para o seu pessoal e disse: Faça isso”.

“Agora, o que dizem os analistas? Bem, Burns não deu a mínima para o que seus analistas dizem, mas Sy Hersh inclui a noção de que alguns deles disseram: Você sabe, isso é realmente louco, isso é realmente estúpido. Isso vai voltar para nos morder”, acrescentou McGovern.

Sobre aqueles que vêm tentando achar senões na denúncia de Hersh, o ex-analista destacou que este “provou por cerca de 40 anos que é um jornalista confiável. E quando alguém – e eu suspeito que pertenceu a esta fonte em particular – quando alguém vê que um ato de guerra foi cometido por nosso governo contra todos os… bem, contra a Constituição, talvez não contra as ‘regras baseadas em ordem’, mas, você sabe, todos nós juramos proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, estrangeiros e domésticos”.

“Agora esse cara levou isso a sério. Eu suspeito que ele foi para aquele cantinho naquele bar onde Sy encontra – eu sei onde é – suas fontes e contou a ele toda essa história. Sy disse que levou apenas três meses. Acredito. E o povo americano… é eminentemente crível. A questão é as consequências e se a mídia de massa pode impedir que essa história penetre na consciência dos americanos que foram ensinados, que sofreram lavagem cerebral nos últimos sete anos. Sete anos agora, para odiar a Rússia”, destacou McGovern.

“Esse é o problema, e as pessoas pensam que os russos são maus até o âmago. Esse Putin… aqui está um exemplo. OK? No momento em que a história de Sy Hersh está saindo, aqui está o The New York Times em nove de fevereiro. Um artigo de jornalismo amarelo de um sujeito chamado Constant Méheut – um francês, aparentemente – diz que Vladimir Putin foi pessoalmente responsável pela morte de 298 a bordo do Malaysian Airlines MH 17 sobre a Ucrânia em julho de 2014. Diz isso no título; diz isso no primeiro parágrafo; e o terceiro parágrafo diz: Bem, não podemos provar que Putin era realmente… Dá um tempo! Portanto, isto foi no dia em que eles deveriam estar apresentando o artigo de Sy”.

“Deixe-me lembrá-lo de que, após o golpe em Kiev, após a anexação da Crimeia, os EUA ainda não tinham conseguido fazer com que os europeus atirassem no próprio pé por meio de sanções. Foi só depois que o MH 17 da Malaysian Airlines foi derrubado – segundo o The New York Times, pelo próprio Vladimir Putin – que eles conseguiram sanções reais que morderam os europeus mais do que morderam qualquer um, inclusive os russos”, disse McGovern.

VAI DAR RUIM

“Este foi o início de sanções realmente rígidas. E eu só me pergunto se os europeus ocidentais e os europeus orientais vão acordar e dizer: “Sabe, este é um mau negócio para se envolver, o que os EUA querem, porque eles querem guerra com a Rússia. E isso vai chegar, como os chineses costumavam chamar, a um final ruim”, concluiu McGovern.

Fonte: Papiro