500 mil ocupam Paris contra projeto de Macron que ataca aposentadorias
Neste sábado (11) meio milhão de franceses foram às ruas em Paris e, segundo o ministério do Interior, cerca de 1 milhão deixaram suas casas e participaram de protestos nas principais cidades do país. Em toda a França os manifestantes exigiram, mais uma vez, que o governo Macron recue da sua investida contra os direitos dos aposentados, com aumento da idade para aposentar e dos anos de contribuição para ter acesso à pensão integral.
Alegando combater um “futuro déficit no caixa da Previdência”, o projeto de lei apresentado por Macron à Assembleia Nacional aumenta a idade das pensões e aposentadorias dos atuais 62 anos para 64 em 2030, acrescentando três meses ao ano já a partir de 1º de setembro de 2023. Da mesma forma, amplia o período de contribuição dos 42 anos correntes para 43 anos em 2027 (ou 172 trimestres) para recolher a integralidade do valor. Até agora, a alteração estava prevista para 2035.
“A população apoia mais do que nunca todas as organizações sindicais, profissionais e juvenis que se opõem ao aumento da idade legal de reforma para 64 anos e ao alongamento do período contributivo. Mais de nove em cada 10 trabalhadores rejeitam a reforma, mais de dois terços da população apoiam as mobilizações”, afirmou a Intersindical, uma das entidades organizadoras do protesto, cobrando medidas como a taxação das grandes fortunas. “Muitos especialistas têm se manifestado e denunciado a injustiça e a brutalidade desta reforma”, acrescentou.
A Confederação Geral do Trabalho (CGT) alertou que “todos seriam afetados pela medida: os mais jovens tendo que trabalhar mais tempo e os mais velhos ficando mais tempo desempregados ou dependendo de contribuições sociais, uma vez que a maioria dos idosos não estão mais trabalhando quando se aposentam”. “Esta reforma é injusta e brutal para todos, sejam eles empregados do setor privado, do público, de uma pequena empresa ou de uma grande empresa”, apontou.
Para a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), o que o governo Macron está propondo é um retrocesso sem precedentes, com uma “reforma” que adia a idade legal das aposentadorias utilizando como pretexto o combate ao déficit público.
Na avaliação do partido França Insubmissa, presidido por Jean-Luc Mélenchon, “não pode haver pensões abaixo do salário mínimo para quem se aposenta com uma carreira de contribuição completa, principalmente se este valor é o nível salarial básico para se poder viver”. “Sendo assim, como é que vamos dizer a um aposentado que não precisa desse mínimo?”, questionou.
Mais afetados pelas medidas, os jovens têm presença destacada nos protestos, com as bandeiras de organizações como a União Nacional dos Estudantes da França (Unef), Federação das Associações Gerais Estudantis (Fage) e União Nacional do Ensino Médio (UNL) tremulando alto.
Reunindo Sindicatos e associações estudantis de todo o país, o movimento L’Alternative fez um pronunciamento enfático em defesa dos direitos da nova geração. “Para sobreviver, apenas vão nos sobrar trabalhos precários, dolorosos e alienantes; receberemos somente contribuições e aposentadorias minúsculas. Para nossos pais e idosos, o adiamento da idade da aposentadoria os condenará, seja a morrer de tanto trabalhar ou a se aposentar precocemente com pensões miseráveis”, sublinhou L’Alternative.
“Se eles não são capazes de ouvir o que está acontecendo nas ruas e nem de perceber o que está havendo com as pessoas, eles não devem se surpreender que isso exploda em algum momento”, declarou a enfermeira Delphine Maisonneuve, durante a marcha em Paris.
“Embora na minha idade eu não seja muito afetado pela reforma da Previdência, é importante estar atento à nossa sociedade, que haja solidariedade. Precisamos que seja uma sociedade em que as pessoas estejam mais próximas umas das outras e estar vigilantes sobre cuidar não apenas de nossos idosos, mas também de nossas crianças”, acrescentou o artista gráfico Kamel Amriou.
Atualmente os franceses são os que passam o maior número de anos aposentados dentro dos países da OCDE, benefício que, conforme todas as pesquisas de opinião, pelo menos dois em cada três não estão dispostos a abrir mão.
Conforme as entidades, caso o governo não recue da sua investida contra as pensões e aposentadorias, o país será novamente paralisado na próxima quinta-feira (16).
Fonte: Papiro