"Privatizar é roubar", afirmam manifestantes em defesa da Saúde (Twitter)

Dezenas de milhares de profissionais de saúde saíram às ruas de Madri, na Espanha, neste domingo 15 de janeiro, para protestar contra o desmantelamento do sistema público de saúde pelo governo regional de Isabel Díaz Ayuso.

A 97ª edição da chamada ‘maré branca’ da capital espanhola foi a mais recente de uma série de protestos, incluindo greves, de trabalhadores da saúde pública que há 11 anos criticam a “privatização” e os “cortes” na saúde pública na região.

Com cartazes com frases como “S.O.S. Saúde Pública” e “Chega de Privatização”, os manifestantes denunciaram a falta de pessoal e criticaram o que consideram um favoritismo demonstrado pelas autoridades regionais em relação aos prestadores de atenção médica privados.

Os sindicatos que organizaram a manifestação de domingo disseram que Madri gasta menos dinheiro per capita em cuidados primários de saúde que qualquer região espanhola, apesar de ter a maior renda per capita. Eles garantem que, para cada dois euros gastos em saúde em Madri, um vai para o setor privado.

Vestidos com suas batas médicas e através de protestos com batucadas, os profissionais criticaram o enfraquecimento do sistema no contexto dos desafios colocados à Espanha, por exemplo, a pandemia de COVID-19.

MÉDICOS DENUNCIAM CONDIÇÕES DE TRABALHO

A médica Ana Encinas, de 62 anos e responsável pelo atendimento primário de pacientes em Madri há 37 anos, disse à agência Reuters que em uma jornada de trabalho chega a atender até 50 solicitantes de assistência médica, então ela só pode fornecer seis minutos de atenção, no máximo, a cada paciente.

“O problema é que não nos permitem prestar cuidados adequados aos doentes”, denunciou.

O quadro de pessoal sofre cortes desde 2010. Em todo o Estado espanhol apenas 47,2% dos trabalhadores da saúde pública são permanentes.

Segundo dados do Ministério da Saúde, na Atenção Primária, nível para o qual são alocados menos gastos, há 0,77 médicos por 1.000 habitantes e 0,66 enfermeiros. Muitos profissionais de saúde têm de realizar o trabalho de mais de dois trabalhadores, com jornadas duplas, regimes de descanso não observados e níveis alarmantes de exaustão.

A porta-voz da coligação eleitoral ‘Unidas Podemos’ na Assembleia de Madri, Carolina Alonso, considerou crítica a situação da saúde pública na capital espanhola. “Não é apenas uma luta dos profissionais de saúde, é o povo de Madri que está nas ruas há meses e em frente aos centros de saúde exigindo o que é bom senso, que a saúde não está à venda e se defende”, assinalou.

A AMYTS, maior organização de médicos de atenção primária e pediatras da cidade, exigiu em comunicado a redução do volume de pessoas atendidas por cada profissional de saúde para oferecer um melhor suporte, além de melhorias nas condições de trabalho para atrair mais médicos, que mudaram de cidade em busca de oportunidades.

A saúde, afirmaram, deve ser defendida como um bem comum acima dos interesses partidários e empresariais. Além disso, alertaram para a convocação de uma greve caso suas demandas sejam desatendidas.

Papiro (BL)