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O negacionismo e desprezo pela ciência do governo Bolsonaro deixaram marcas profundas na sociedade e no Estado brasileiro. O país, antes referência em cobertura vacinal, hoje se vê num contexto de descrença na imunização. Ao mesmo tempo, a saúde foi deixada à míngua. Estes são alguns dos muitos desafios que terão de ser enfrentados pelo secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Nésio Fernandes.

Em entrevista ao G1, o ex-secretário de Saúde do Espírito Santo e ex-presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) falou sobre o cenário atual e as prioridades neste primeiro momento, em que será necessário reconstruir políticas públicas fundamentais para a saúde da população. 

No que diz respeito à herança bolsonarista no campo da imunização, Fernandes destacou: “O grau de hesitação vacinal que está presente hoje na população não tem paralelo na história recente do país. Grupos antivacina foram acolhidos pelo governo federal. Grande parte da população acabou seguindo essas teses legitimadas pela instituição, pelo Ministério da Saúde”. 

Para enfrentar a baixa cobertura vacinal para várias doenças, que trouxe de volta enfermidades como a poliomielite, o MS planeja a realização de um Pacto Nacional pela Vacinação. 

Neste sentido, algumas medidas emergenciais devem ser tomadas, entre elas aumentar o horário de atendimento das salas de vacinação; realizar ações de imunização itinerante em pontos de concentração como escolas e terminais de ônibus e fazer campanhas de comunicação para conscientizar a população sobre a importância e necessidade da vacinação para a saúde individual e coletiva. 

Outro ponto central é garantir o atendimento nos postos de saúde em todo o país. Para tanto, o programa Mais Médicos, abandonado por Bolsonaro, voltará e com vagas a estrangeiros. Ao jornal Folha de S.Paulo, Fernandes salientou: “A agenda de retomar o Mais Médicos é imediata. Queremos colocar médicos em todos os municípios brasileiros em um curto período de tempo”. 

A ideia é oferecer as vagas para médicos brasileiros com registro nos conselhos regionais e para médicos brasileiros formados no exterior; as vagas remanescentes ficarão para os estrangeiros que se encaixem nos critérios estabelecidos pela legislação brasileira. Hoje, segundo dados trazidos pelo secretário, cerca de 300 municípios não têm médicos em unidades de saúde da família há mais de um ano e quase 800 não conseguem manter esses profissionais. 

Ao G1, Fernandes também falou sobre o aborto legal no SUS. Na gestão bolsonarista, o acesso ao procedimento estabelecido em lei para vítimas de violência sexual foi dificultado. Mesmo sendo evangélico, o secretário declarou que “negar o acesso ao aborto nas condições previstas em lei é submeter essas vítimas de violência a outras violências”. Também defendeu a revogação de notas ou normativas com “posições retrógradas e que não garantem direitos”. 

O secretário salientou ainda a preocupação do governo com a saúde bucal. Para dar conta dessa necessidade, deverá ser feito mutirão para atendimento odontológico de graça, além de iniciativas para aumentar a presença de dentistas nos postos de saúde. 

Com agências

(PL)