Grupo representando o povo brasileiro sobe a rampa com Lula. Foto: Ricardo Stuckert

No histórico dia 1º de janeiro de 2023, o povo brasileiro subiu a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Neste mesmo momento, nas palavras do novo presidente, “a alegria tomou posse do Brasil de braços dados com a esperança”. 

No mais aguardado momento da posse, diante de uma Praça dos Três Poderes tomada por milhares de pessoas vindas de todos os cantos do país, Lula, seu vice Geraldo Alckmin e as primeira e segunda-damas Rosângela Silva, a Janja, e Lu Alckmin, caminharam da base da rampa à entrada da sede do governo com um grupo de oito pessoas que representou a pluralidade e a diversidade do país, formado por mulheres, negros, indígena — o cacique Raoni —, pessoa com deficiência, criança, idoso e um trabalhador operário. 

A faixa presidencial foi passada por uma mulher preta, Aline de Souza, de 33 anos, catadora de material reciclável. Como num símbolo de superação ao “complexo de vira-latas” que tanto atraso impõe ao país, a cachorrinha Resistência, do casal Lula-Janja, também participou da cerimônia. 

O ato foi realizado após a cerimônia ocorrida no Congresso Nacional. Lula passou as tropas em revista e os representantes das Três Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica – prestaram continência ao novo comandante em chefe, numa demonstração de respeito à institucionalidade republicana. 

Na sequência, seguiu no Rolls Royce presidencial ao Palácio do Planalto. Após receber a faixa, Lula se dirigiu ao parlatório, de onde fez um emocionante e contundente discurso dirigido ao povo brasileiro. 

Chamado à união

Lula recebe a faixa presidencial. Foto: Ricardo Stuckert

Ao iniciar sua fala, Lula lembrou a saudação que recebia do acampamento Lula Livre durante o período em que esteve preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, e declarou: “Boa tarde, povo brasileiro”. 

Lula agradeceu a todos que “enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral”, e que “tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e, ao mesmo tempo, agitar a bandeira do Brasil – quando uma minoria violenta e antidemocrática tentava censurar nossas cores e se apropriar do verde-amarelo, que pertence a todo o povo brasileiro”.

Num chamamento à união nacional, Lula disse que vai governar para todos os 215 milhões de brasileiros e brasileiras. E enfatizou: “O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria radicalizada que se recusa a viver num regime democrático.Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz”. 

Em resposta ao discurso belicoso do bolsonarismo que dividiu a população, Lula reforçou que não existem “dois brasis”. “Somos um único país, um único povo, uma grande nação”. 

Combate às desigualdades

Foto: Ricardo Stuckert

Outro pilar do discurso de Lula foi a reafirmação de seu compromisso com o combate às várias desigualdades que permeiam a sociedade brasileira. Lula classificou a fome como o mais grave de todos os crimes cometidos contra o povo brasileiro. E completou: “A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem”. 

Ao falar sobre o cenário de fome e miséria que atinge grande parte da população, lembrando das crianças e desempregados obrigados a pedir dinheiro dos semáforos e as filas de pessoas famintas em busca de ossos, Lula se emocionou e chorou. “Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade verdadeiramente justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna”, concluiu. 

Além da desigualdade social, Lula falou sobre o combate às discriminações de gênero e contra negros e indígenas. “Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela cor de sua pele”, salientou. 

O presidente voltou a declarar seu objetivo de cuidar de todos os brasileiros, lembrando das políticas sociais que serão resgatadas e fortalecidas ou criadas, salientando também sua responsabilidade com o dinheiro público. 

Lula disse que “infelizmente, muito do que construímos em 13 anos foi destruído em menos da metade desse tempo. Primeiro, pelo golpe de 2016 contra a presidenta Dilma. E na sequência, pelos quatro anos de um governo de destruição nacional cujo legado a História jamais perdoará: 700 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid; 125 milhões sofrendo algum grau de insegurança alimentar, de moderada a muito grave; 33 milhões passando fome”. 

E acrescentou: “Estes são apenas alguns números. Que na verdade não são apenas números, estatísticas, indicadores – são pessoas. Homens, mulheres e crianças, vítimas de um desgoverno afinal derrotado pelo povo, no histórico 30 de outubro de 2022”. 

Ainda sobre o cenário de terra arrasada deixada pelo governo de Jair Bolsonaro, Lula salientou que “o que povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um genocídio”. 

Ao finalizar seu pronunciamento, Lula voltou a enfatizar a importância da união nacional pela reconstrução do país: “faço este chamamento a todos os brasileiros e brasileiras que desejam um Brasil mais justo, solidário e democrático: juntem-se a nós num grande mutirão contra a desigualdade”. 

E concluiu: “Na luta pelo bem do Brasil, usaremos as armas que nossos adversários mais temem: a verdade, que se sobrepôs à mentira; a esperança, que venceu o medo; e o amor, que derrotou o ódio.Viva o Brasil. E viva o povo brasileiro”. 

Após a cerimônia, Lula recebeu representações internacionais e em seguida, ocorreu a posse dos ministros do novo governo.

Leia aqui a íntegra do discurso.