"Nem um morto a mais" e "Nova Constituição" exigem manifestantes (Reprodução)

Pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos (IEP), divulgada neste domingo (15) em alguns dos principais jornais do país, apontou que os 50 assassinatos causados pela repressão promovida pelo governo de Dina Boluarte, alavancou ainda mais o repúdio à presidente e ao Congresso Nacional. Pelo apurado, cresce a pressão por novas eleições gerais neste ano e por uma Assembleia Constituinte, que reverta as privatizações/desnacionalizações realizadas por Alberto Fujimori (1990-2000).

De acordo com o levantamento, 71% da população desaprova a brutalidade como Boluarte está conduzindo o seu governo. “São mais de dois terços do país ou sete de cada dez peruanos coincidindo com esta qualificação negativa sobre ela”, apontou o jornal La República, frisando que “tão somente 19% aprova”. Os 10% restantes não souberam ou se abstiveram de responder. Por respaldar as arbitrariedades e mergulhar fundo na corrupção, a situação do Congresso está ainda pior: “88% da população reprova seu desempenho e apenas 9% aprova”, indica a pesquisa.

Diante da onda de manifestações que varre o país, cinco ministros do governo Dina já renunciaram desde que tomou posse em dezembro, três (do Trabalho, do Interior e da Mulher) apenas na última semana.

Ao deixar o cargo, Eduardo Garcia, ministro do Trabalho, ressaltou que “a situação pede uma mudança de rumo no país e uma eleição antecipada, que não pode mais esperar até abril de 2024”, como quer o governo e os parlamentares. Conforme o ministro renunciante, o fato de Dina não convocar eleições para este ano, “gera um desgaste que, pelo menos no meu caso, me impossibilita de poder pôr em prática a construção do diálogo que considero que o país necessita”.

A ex-ministra da Mulher, Grecia Rojas Ortiz, publicou uma carta destacando que “o Peru precisa de ações políticas que restaurem a confiança na democracia e na ordem constitucional”. “Diálogo e autocrítica!”, defendeu.

Ao apresentar sua renúncia em dezembro, quando o governo assassinou os primeiros manifestantes, a ministra da Educação, Patrícia Correa esclareceu que “a morte de compatriotas não tem justificativa”. “A violência do Estado não pode ser desproporcional e causar a morte”, protestou.

Em vez de negociar com a oposição, o governo impôs um Decreto Supremo estabelecendo, desde domingo, “Estado de Emergência” por 30 dias, em três regiões, quatro províncias e um distrito do país, convocando a Polícia Nacional e as Forças Armadas para atuarem conjuntamente.

De acordo com o secretário-geral da Federação dos Trabalhadores da Construção Civil do Peru, Luis Villanueva Carvajal, “há mais mortos que dias de governo”. “Lamentamos que o Congresso haja avalizado com seu voto de confiança a um gabinete ministerial que tenha as mãos manchadas de sangue. O que está ocorrendo em nosso país é um genocídio e o Congresso se posicionou uma vez mais de costas ao povo peruano. Oficialmente, comunicaram cerca de 50 assassinatos, além de centenas de feridos pela repressão do governo contra o protesto legítimo do povo frente ao que todos consideram uma traição de Dina Boluarte”, frisou.

Consultado pelo Diário UNO, o defensor de direitos humanos, Miguel Jugo, avaliou que está em prática um recrudescimento da política de caça às bruxas, com um cenário de detenções massivas. “Toda essa preparação do Ministério Público faz parte da estratégia do primeiro-ministro Otárola de abafar a mobilização com o aumento das prisões, mas apesar disso creio que os protestos vão continuar”, projetou.

Por outro lado, observou, “para que o pedido da Comissão Internacional dos Direitos Humanos (CIDH) de ‘nem mais uma morte’ seja efetivo, a primeira coisa que deve ocorrer é a desmilitarização do país”. “Eles (o governo) sabem o que fazer, o que acontece é que não querem, mantendo essa lógica de classificar tudo como uma insurreição terrorista e, assim, criminalizar e submeter o protesto mediante balas, prisões e manter assustada a população”.

O dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, Gerónimo López, defende que é essencial uma resposta unificada dos movimentos sociais para “derrotar este governo assassino, subserviente a grupos econômicos que controlam o país e que querem se apropriar dos nossos recursos naturais e hidrocarbonetos”. “O povo exige uma saída para a crise”, enfatizou López, convocando a classe trabalhadora e o povo peruano a se somarem na paralisação nacional, cívica e popular contra Dina, o Congresso e por uma Nova Constituição, na próxima quinta-feira (19). “O sangue derramado jamais será esquecido”, sublinhou.

Papiro (BL)