Igrejas evangélicas tradicionais se manifestaram repudiando a violência contra as instituições democráticas em Brasília. Alguns alertaram para a necessidade de campanhas para reverter o clima de ódio e violência que contaminou as igrejas. 

As manifestações envolvem desde organizações que se mantiveram neutras, outras que já faziam oposição ao bolsonarismo, chegando a organizações abertamente apoiadoras do ex-presidente.

Embora o clima em muitas igrejas tenha sido abertamente de crítica ao processo eleitoral e apoio a candidatura de Jair Bolsonaro, não houve manifestações públicas das organizações religiosas para orientar contra eventuais comportamentos extremistas de seus membros. As notas chegaram tarde, apenas depois que os aparelhos de Segurança Pública e o Judiciário agiram de forma mais contundente. 

Durante a campanha eleitoral, havia muitas manifestações de alerta para o clima de ódio, mesmo dentro das igrejas. Houve relatos de perseguição e diversos casos de violência entre crentes, chegando ao uso de armas de fogo, além do afastamento de eleitores do atual presidente Lula. 

Manifestação tardia

Coletivo Bereia fez um levantamento sobre as manifestações de instituições religiosas que repudiaram os atentados. As críticas vão desde a Universidade Presbiteriana Mackenzie e Anajure (Juristas Evangélicos), anteriormente alinhados ao governo Bolsonaro, até instituições que sempre se posicionaram contra atos da extrema-direita brasileira (como a CNBB e Conic).

Algumas igrejas, sobretudo as protestantes históricas, evangélicos progressistas que já faziam oposição ao bolsonarismo, e até pastores que apoiam o ex-presidente, condenaram o golpismo em Brasília. A maioria fez referência à violência e depredação de patrimônio público e privado, outras qualificaram os atos de golpistas e até terroristas. 

O jornalista e teólogo da Assembleia de Deus, Ministério Belém, Gutierres Fernandes Siqueira, publicou um artigo analítico, na revista evangélica Christianity Today (Cristianismo Hoje), em 10 de janeiro, e no jornal Folha de S. Paulo, em 11 de janeiro), no qual sugere que a Igreja Brasileira e o país precisam exorcizar o nacionalismo religioso messiânico. 

O pastor da Igreja Batista e músico cristão Nelson Bomilcar, definiu os líderes evangélicos que incentivaram a rebelião como “influencers do caos”. Bomilcar também escreveu : “Precisamos de (uma) campanha nacional para diminuir violência de toda espécie. Desarmamento é fundamental. Violência é injustificável em qualquer situação (…) Violência por qualquer motivo: Religiosa, política, policial”.

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) qualificou as manifestações de atos de terrorismo e exigiu apuração das responsabilidades, assim como a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

Aliança de Batistas do Brasil também repudia os “atos terroristas e golpistas” e defende a contenção da “barbárie”, que “tende a se aprofundar”. A Igreja Presbiteriana Unida “repudia veementemente os atos golpistas”, e reforça seu compromisso histórico na “defesa da democracia e resistência ao autoritarismo”. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e a Igreja Metodista publicaram nota de repúdio. A Aliança Cristã Evangélica Brasileira também fala em ataque terrorista aos Três Poderes.

A Igreja Universal do Reino de Deus disse que nada justifica a violência. A Igreja Adventista do Sétimo Dia também emitiu nota pública repudiando “a destruição de patrimônio público e privado”.

Um comunicado assinado pelo Conselho dos Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev-DF), Mitra Arquidiocesana de Brasília, Federação Espírita do Distrito Federal, Central Organizada de Matriz Africana (Afrocom) e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – Missão no Brasil criticaram as manifestações, mas pediram o retorno do governador bolsonarista Ibaneis Rocha, afastado pela intervenção federal.

A presidente da Anajure, Edna Zilli, assina nota em que diz que o “lamentável episódio transgrediu os limites constitucionais e legais (…), sendo os infratores passíveis de responsabilização pelos atos ilícitos (…).

O bispo Eduardo Bravo, presidente da Unigreja (União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos) critica os atos, mas também pede punição para pessoas que promovam “linchamento virtual” de suas lideranças religiosas de direita. 

CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou várias notas de entidades católicas em repúdio aos eventos, falando em terrorismo e golpismo, como o CNLB (Conselho Nacional do Laicato do Brasil), a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), a Signis Brasil, Associação Católica de Comunicação de direito pontifício. Houve manifestações de influentes cardeais, como Dom Odilo Scherer e Orani João Tempesta, além da regional Sul 1 da CNBB, que corresponde ao Estado de São Paulo,

“Eu creio, como disse o Papa Francisco, hoje pela manhã, ao Corpo Diplomático, que as soluções de conflitos, em qualquer lugar, e no caso específico do Brasil, passam pelo diálogo, para superar as lógicas parciais e trabalhar pela construção do bem comum”, disse o arcebispo emérito de Aparecida, cardeal Raymundo Damasceno Assis, direto da Rádio Vaticano, em Roma.

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(por Cezar Xavier)