Palestinos tomaram as ruas em repúdio ao massacre (Wafa)

O coordenador especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, expressou “profundo alarme” após a carnificina de Israel no campo de refugiados de Jenin na quinta-feira (26), no norte da Cisjordânia, com 10 palestinos mortos a tiros, inclusive uma idosa, e cerca de 20 feridos, registrou a agência de notícias palestina Wafa.

“Estou profundamente alarmado e triste com o ciclo contínuo de violência na Cisjordânia ocupada. A morte hoje de dez palestinos, incluindo militantes e uma mulher, durante uma operação de prisão israelense em Jenin é outro exemplo gritante”, disse Wennesland em um comunicado. Ele chamou a “evitar mais perdas de vidas” e instou à “desescalada” e “restauração da calma”.

No ataque, que teve início na madrugada, as forças de ocupação usaram munição real, artefatos explosivos e gás lacrimogêneo, e inclusive invadiram o Hospital de Jenin e demoliram instalações no campo de refugiados. A idosa foi identificada como Magda Obaid pelas autoridades do hospital de Jenin. Um dos feridos, Saeb Azriqi, 24, sucumbiu aos ferimentos. Desde o começo do ano, a ocupação já assassinou mais de 30 palestinos.

A Autoridade Nacional Palestina denunciou ao mundo o novo crime da ocupação, chamou a comunidade internacional a proteger a população palestina sob o capítulo VII da Carta da ONU, anunciou que levará o novo massacre ao Tribunal Penal Internacional em caráter de urgência e decretou a suspensão total da cooperação de segurança com Israel. Foi decretado luto de três dias, milhares de pessoas foram às ruas de Gaza protestar, repúdio que deverá se multiplicar nos funerais nos próximos dias.

A Autoridade Palestina também condenou “o governo extremista de ocupação israelense” e seus “crimes de limpeza étnica e discriminação racial, os ataques contínuos à cidade de Jerusalém e seus locais sagrados islâmicos e cristãos, invasão da Mesquita de Al-Aqsa, intensificando as operações de assentamento, anexando terras, demolindo casas, a detenção dos corpos dos mártires e a apreensão de fundos de impostos palestinos”.

PROVOCAÇÃO

Para analistas, o caráter de provocação do ataque ao campo de refugiados pelo regime Netanyahu/Gvir ainda se torna mais evidente pelos protestos dentro de Israel contra o governo recém instaurado, caracterizado pela junção do que há de mais racista, antidemocrático e corrupto na sociedade israelense, que sequer consegue conviver com o judiciário (conivente com um sistema de ocupação e apartheid).

Em 2002, o regime de Ariel Sharon massacrou milhares de civis no campo de refugiados de Jenin. Foi Sharon que desencadeou a II Intifada ao ter, para ganhar as eleições, invadido a Esplanada das Mesquitas, escoltado por dezenas de militares israelenses.

A Autoridade Palestina lançou ainda um apelo imediato para que a comissão internacional de inquérito em curso no Conselho dos Direitos Humanos da ONU “investigue o massacre de Jenin e encaminhe suas conclusões ao Tribunal Penal Internacional e ao Conselho de Segurança”.

O presidente Abbas convocou “todas as forças políticas palestinas para uma reunião de emergência, para chegar a um acordo sobre uma visão nacional abrangente e unida para enfrentar a agressão israelense e responder a ela”. Ele pediu a solidariedade das organizações muçulmanas e islâmicas.

BRASIL EXPRESSA CONDOLÊNCIAS ÀS FAMÍLIAS DAS VÍTIMAS

Por sua vez, o governo brasileiro expressou “condolências aos familiares das vítimas e manifesta sua solidariedade ao povo e ao governo da Palestina”, após tomar conhecimento, com pesar, da morte de nove cidadãos palestinos pelas Forças de Segurança de Israel, “durante incursão realizada hoje em campo de refugiados na cidade de Jenin, na Cisjordânia”.

O comunicado acrescenta que o Brasil acompanha “com grande preocupação a crescente tensão entre forças israelenses e civis na Cisjordânia, que causaram centenas de mortes em 2022”.

“O Brasil reitera o seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz, em segurança e dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Com esse propósito, o

governo brasileiro exorta ambas as partes a se absterem de ações que afetem a confiança mútua necessária à retomada urgente do diálogo com vistas a uma solução negociada do conflito”.

FEPAL DENUNCIA LIMPEZA ÉTNICA

A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) rechaçou a ação genocida das forças de ocupação de Israel no campo de refugiados de Jenin. A nota assinalou ainda o crime de guerra, que reflete o “projeto colonial, de limpeza étnica e apartheid”, também significa “um aviso de Netanyahu e de seu gabinete, que conseguiu a façanha de ser considerado o mais extremista da história israelense”.

A entidade saudou a “heroica resistência” ao projeto da ‘Palestina sem palestinos’. Para a Fepal, Netanyahu, auxiliado pelo que há de pior na humanidade, como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, “radicaliza o processo em busca de uma solução final para a Questão Palestina”. A entidade também chamou a comunidade internacional a “assumir suas responsabilidades e parar Israel e sua máquina de morte”.

GREVE GERAL

Trabalhadores e comerciantes palestinos atenderam ao chamado do Fatah (Partido de Yasser Arafat) e realizaram uma greve geral em repúdio à brutal chacina perpetrada em Jenin.

VOZ JUDAICA PELA PAZ REPUDIA “BRUTALIDADE”

A organização norte-americana Voz Judaica Pela Paz (JVP) expediu comunicado declarando a “razia em Jenin um ato de horrível brutalidade”.

Para a JVP, “o mundo não pode ignorar este massacre”.

A entidade Judaica destaca que o ataque ao campo de refugiados de Jenin matou uma mulher idosa e dois adolescentes. “Durante o ataque, as forças israelenses invadiram um hospital e atiraram gás lacrimogêneo contra ele, obrigando famílias a deixarem a ala pediátrica”.

Somente este ano as forças israelenses já mataram pelo menos 27 palestinos. “Este ataque significa mais uma horrenda escalada na violência encetada pelo novo governo israelense de ultradireita”.

A JVP se declara solidária com a greve geral palestina e conclama “todos os olhos na Palestina”.

A diretora executiva da entidade, Stefanie Fox, também se manifestou: “O governo de Israel massacra palestinos toda noite, trucida as pessoas em suas casas, escolas e hospitais. Não há como passar ao largo. A tradição judaica determina que se deve agir em face de qualquer grave injustiça e a hora de nos levantarmos em solidariedade com os palestinos é agora”.

Papiro (BL)