Flávio Dino (PSB), ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ministro da Justiça, Flávio Dino, respondeu ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que acusou o governo federal de fazer “vista grossa” aos ataques terroristas às sedes dos Três Poderes. Para Dino, “fica feio se colocar como um sub-Bolsonaro”. O governador se referia aos ataques terroristas de bolsonaristas em Brasília que depredaram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã de segunda-feira (16), o governador mineiro afirmou que o governo federal fez “vista grossa” em relação aos atos terroristas do Distrito Federal para que pudesse sair como “vítima” da história. Numa tentativa de agradar os terroristas, Romeu Zema disse que qualquer declaração dita antes da conclusão das investigações é “achismo”, mas que ele pode “supor” que houve uma omissão por parte dos órgãos de segurança do Governo Lula.

“Me parece que houve um erro da direita radical, que é minoria. Houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal, que fez vista grossa para que o pior acontecesse, e ele se fizesse, posteriormente, de vítima. É uma suposição. Mas as investigações vão apontar se foi isso”, declarou Zema.

O ministro Flávio Dino classificou como “deplorável” a fala do chefe do Executivo mineiro que, segundo ele, está “afagando” terroristas. A declaração do ministro foi dada em entrevista exclusiva ao programa Fórum Onze e Meia, da TV Fórum na terça-feira (17).

“Me espanta que o governador Zema tente vestir a roupa do Bolsonaro. Não cabe nele… É preciso que ele tenha algum amigo sincero que diga a ele… Primeiro, porque Minas Gerais é a terra de Tiradentes, de Tancredo Neves, é a terra da democracia… Então não é possível que um governador de modo vil se alinhe à extrema direita para proteger terrorista”, disse.

Para Dino, “fica feio” porque Zema foi um dos governadores presentes na reunião com Lula depois dos ataques terroristas. “E por que que não falou? Por que ele não perguntou a mim, que estava lá? Por que não perguntou ao presidente da República, que estava lá? Seria mais decente do que falar posteriormente”, seguiu.

“Um apelo que eu faço ao governador: num momento grave é preciso ter ponderação. Imagine se alguém tivesse dito no dia seguinte à tragédia de Brumadinho que ele sabia e deixou acontecer para poder ganhar dinheiro? Como ele se sentiria? Isso parece aquela história do estupro, que uma mulher é estuprada e ao mesmo tempo é acusada de ser a culpada porque estava de vestido curto… Nós não somos agentes do que aconteceu. Nós somos vítimas… Não é vitimização, nós somos vítimas”, continuou o ministro de Lula.

Em seguida, o ministro insinuou que as declarações de Zema foram feitas por uma possível candidatura em 2026. “Eleição tem em 2026. Agora não acho que seja adequado o candidato querer se colocar na agenda sendo uma espécie de sub-Bolsonaro, fica feio… Acho que é deplorável esse tipo de coisa acontecer”, argumentou o ministro.

Inconformados com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os bolsonaristas ocuparam as sedes do Três Poderes da República para pedir pelo golpe militar. Foram quebrados objetos históricos, obras de arte, móveis e vidraças. Houve invasão a gabinetes e roubo de documentos e armas.

Após o ataque, Lula decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal. Horas depois, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu afastar o governador Ibaneis Rocha por 90 dias.

Um dia depois dos ataques, os acampamentos de golpistas foram desmontados após ordem do STF. Mais de 1,2 mil bolsonaristas foram detidos em Brasília. Concentrações também foram desfeitas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras capitais. Na maioria dos casos, sem confrontos.

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