Lula com o presidente de Portugal, Marcelo Rabelo - (foto Ricardo Stuckert)

Chefes de Estado e representantes de 11 países que vieram para a posse foram recebidos pelo presidente Lula na primeira manhã de seu terceiro mandato, já pondo em prática um dos principais objetivos de seu governo, fazer com que o Brasil volte a ter “o papel que merece no mundo”.

As reuniões com essas autoridades estrangeiras ocorreram no Itamaraty, numa sinalização da volta da política externa brasileira a uma posição de destaque e altivez. À posse de Lula compareceram 73 delegações estrangeiras, das Américas, Ásia, Europa, África e Oriente Médio. Inicialmente previstas para durar 30 minutos, algumas se estenderam por até uma hora, caso do presidente argentino, Alberto Fernández.

Na saída, Fernández disse que Lula é um importante líder, que vai garantir a volta do Brasil aos fóruns internacionais e impulsionar a integração latino-americana. “O Brasil é um país muito importante na região”. Ele acrescentou que Lula confirmou a ida a Buenos Aires no fim do mês para participar da Celac, a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos.

Sobre o encontro com vice-presidente da China, Wang Gishan, Lula registrou em uma rede social que recebeu uma carta do presidente Xi Jinping com seus cumprimentos e vontade de ampliar a cooperação. E destacou que a China é nosso maior parceiro comercial e podemos ampliar ainda mais as relações entre os dois países.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, confirmou que Lula irá ao país em abril para participar do Dia da Liberdade e da entrega do Prêmio Camões. Entre os agraciados, está Chico Buarque. Ele saudou “o regresso do Brasil com força ao mundo”, observando que Portugal compartilha dessa “nova visão multilateral”.

Ao longo dos encontros de Lula com seus congêneres latino-americanos, mais convergências. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, propôs a Lula um pacto para salvar a Floresta Amazônica.

Gabriel Bóric, presidente chileno, disse que conversou com Lula sobre a situação da Venezuela – país com o qual Bolsonaro rompeu relações. Os problemas não se resolvem isolando os países, “mas sim incorporando e fortalecendo a democracia”, sublinhou Bóric. A Venezuela foi representada na posse pelo presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodrigues.

CHANCELER VIEIRA: “BRASIL ESTÁ DE VOLTA”

Mauro Vieira, o diplomata escolhido por Lula para chefiar o Itamaraty, anunciou na segunda-feira (2) que o Brasil “está de volta”, alertando que se está vivendo “uma crise de governança global sem precedentes”, um “momento complexo para nossa região”, com “problemas graves” e afirmou que “será necessário ampliar e recuperar essa capacidade”.

Quase uma exceção, o cargo foi transmitido a Vieira pelo antecessor, Carlos Alberto França. Sobre o regime Bolsonaro, o novo chanceler atribuiu a uma “visão ideológica limitante” o estreitamento do papel do Brasil no mundo.

Ele assinalou que o “quadro [internacional foi] agravado pela emergência climática” e destacou “a importância da diplomacia da saúde”, como mostrado pela pandemia da Covid-19.

Vieira afirmou que o Brasil irá “reassumir a posição de liderança entre os países de desenvolvimento”, destacando a oferta de Lula de sediar a COP 30 em 2025. O novo ministro também prometeu fortalecer o tratado de cooperação amazônica.

“O Brasil e os demais países emergentes querem ter vez e voz nas decisões internacionais”, disse Vieira, ao prometer que trabalhará pela nomeação do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Vieira disse ainda que o Brasil retomará o compromisso de reformas das instituições financeiras internacionais e de fortalecimento do comércio internacional, assim como do G20 e do BRICS.

O novo ministro reforçou a importância das relações bilaterais com a Argentina e multilaterais com os países que formam o Mercosul. “Nossa ideologia será da integração”. Vieira também prometeu retomar e fortalecer a União de Nações Sul-Americanas (Unasul). “O abandono da América Latina e do Caribe foi o que causou maiores prejuízos.”

Com relação aos EUA, o chanceler disse que a relação bilateral será tratada sem preconceito sobre qualquer assunto e prometeu “dinamizar o relacionamento econômico”.

O novo ministro acrescentou que o Brasil efetivará um diálogo de alto nível com países africanos, para tratar de “desafios comuns”, como alimentos. Também prometeu reforçar o comércio com o Oriente Médio.

Quanto a Israel e Palestina, ele defendeu a retomada de uma posição de equilíbrio, em consonância com o direito internacional.

Sobre “as relações com países europeus”, Vieira anunciou que serão retomadas com “novas bases”, mas “evitando que o meio ambiente seja utilizado como pretexto para o protecionismo”.

Papiro (BL)