Interventor da segurança do DF responsabiliza Anderson Torres pelos atos golpistas do dia 8
O interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, divulgou nesta sexta-feira (27) um relatório sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília.
Durante a apresentação do documento, Cappelli ressaltou que o então secretário de segurança pública, Anderson Torres, sabia sobre a ameaça de invasão aos três Poderes por criminosos bolsonaristas.
Segundo o interventor, um relatório com essas informações foi entregue a Torres no dia 6, mesma data em que ele viajou para os EUA, antecipando as férias que só se iniciariam na segunda-feira seguinte, 9 de janeiro.
No dia 11 de janeiro, três dias após os atos terroristas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, em entrevista, Cappelli disse havia “fortes indícios de sabotagem de Anderson Torres como um dos principais responsáveis pelo que aconteceu domingo [dia 8]”.
O bolsonarista Anderson Torres demitiu “uma série de pessoas na Secretaria” para sabotar a defesa de Brasília e facilitar a ação dos golpistas.
“Ele exonerou uma série de pessoas na secretaria e viajou. Exonera o comando e viaja. Na minha opinião, há fortes indícios de sabotagem de Anderson Torres como um dos principais responsáveis pelo que aconteceu domingo”, contou Cappelli em entrevista ao jornal O Globo.
“A secretaria estava acéfala no dia 8. Conversei com o chefe de gabinete do secretário anterior e ele me disse que, para a operação do dia 1°, eles viraram noites e noites dentro dessa sala fazendo planos, checando, indo, voltando”.
“Qual foi o planejamento pro dia 8? O secretário sequer estava aqui e exonerou o comando da secretaria. Houve desmonte do comando da secretaria. O secretário viajou por acaso? Essas ações são coincidência? Não me parece”, criticou o interventor.
Nesta sexta-feira, Cappelli reforçou o papel de Torres na desmobilização da polícia para permitir a entrada dos terroristas na praça dos Três Poderes.
“Fica claro o impacto da posse de Anderson torres e da instabilidade que ele gerou na SSP com nomeações e trocas. A questão aqui é de liderança, de comando. O gestor público que lidera a operação deve ter. Tudo isso faltou no dia 8, na melhor das hipóteses”, disse Cappelli.
“Quem quiser, que acredite em coincidência, eu só acredito em teoria da conspiração“, declarou Cappelli.
O documento de Cappelli traz relatos sobre a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, além de conclusões que podem auxiliar nas investigações.
Segundo o relatório, ficou claro que o comando sabotou, houve “falha operacional” e que as forças de segurança não tinham feito um planejamento de mobilização de forças policiais necessárias para evitar e parar os ataques.
O texto aponta ainda que o acampamento montado em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano da capital federal serviu como base para os atos terroristas desde o mês de dezembro de 2022. Segundo Cappelli, o local se tornou uma “minicidade” golpista.
“Todos os eventos, o evento do dia 12 de dezembro, a tentativa de explosão de bomba e bloqueio do aeroporto. Todos os eventos passam de uma forma ou de outra pelo acampamento. Acampamento criminoso que perturbou a ordem pública do DF”, afirmou.
“Logo após a posse, há uma redução do acampamento. As investigações vão dizer se foi uma tática. No dia seguinte à posse, há um processo de desmobilização, mas nos dias 6 e 7, ele explode novamente. Em todos esses eventos, esses elementos saíam do acampamento, praticavam atos e depois regressavam para dentro do Setor Militar Urbano”, disse.
O interventor afirmou que no dia 6 de janeiro um documento da Secretaria de Segurança Pública já afirmava que os grupos falavam em “tomada de poder” durante os atos e, mesmo assim, a segurança não foi reforçada porque o objetivo era fragilizar para ´permitir os vândalos agirem.
“E aí tá descrito tudo o que poderia acontecer. Está documentado isso. Não faltou informação. Na sexta-feira (6), o gabinete do secretário recebeu a informação”, disse.
Ou seja, mesmo sabendo do risco, o comandante-geral da Polícia Militar à época não acionou batalhões que poderiam atuar na ocasião.
Cappelli destacou que, no dia 8 de janeiro, enquanto os golpistas caminhavam para a Esplanada dos Ministérios, a PM já abordou pessoas com mascaras, bola de gude, “aparatos que já manifestavam a intenção de uma ação mais violenta”. Ele assinalou que também houve demora na resposta das forças de segurança.
“A quebra da linha de contenção na altura da Alameda das Bandeiras se dá por volta de 14h43. Entre as 13 horas até a chegada na linha de contenção, tivemos em torno de 1h40, tempo suficiente para que fosse acionado efetivo, tropas. Mas o acionamento se deu somente às 15 horas, quando os três poderes já estavam invadidos”, observou.
O interventor se disse impressionado com o grau de organização da horda bolsoanrista que atacou as sedes dos Três Poderes. Ele relatou que imagens das câmeras da Secretaria de Segurança mostram como os gradis foram rompidos.
“O vídeo também é bastante impressionante, você vê ali a presença de uma ação organizada, de uma ação profissional”, afirmou.
“Tem pessoas com rádios, comunicadores e é impressionante como, num dado momento, todos se levantam ao mesmo tempo, puxam a primeira linha de gradis que ela cai de ponta a ponta puxada. No vídeo, isso fica claro. Não é uma coisa que uma pessoa puxou um gradil, outra pessoa puxou outro. Há um movimento coordenado”, seguiu.
O relatório preparado pelo interventor seguirá para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que está encarregado das investigações sobre os atos golpistas.
A data inicial de entrega do documento era na última quinta (26), mas foi adiada para que mais fatos fossem englobados no relatório, entre eles as imagens registradas por câmeras do circuito interno do STF e drones divulgadas para a imprensa na quarta (25).
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