Governador bolsonarista ignora yanomamis e sai em defesa de garimpeiros
O genocídio provocado pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami comoveu todo o Brasil e até a comunidade internacional – mas não o governador bolsonarista de Roraima, Antonio Denarium (PP). Em entrevistas à imprensa, Denarium ignorou a gravidade da tragédia dos yanomamis e, em vez de garantir proteção às vítimas, saiu em defesa aberta dos garimpeiros.
Para ele, o garimpo ilegal se justifica pela falta de oportunidades. Denarium insinua que a culpa do crime não é – pasmem! – dos criminosos. “Os garimpeiros têm que arrumar outra alternativa de rendimento com apoio do governo federal, para que possa tirar eles das áreas em que estão trabalhando”, declarou o governador ao G1.
E o que faz o governador diante desse quadro? “O governo do estado trabalha pelas pessoas não indígenas e indígenas também”, tergiversou Denarium em entrevista ao G1. Ele se declara contrário a práticas à margem da lei em territórios indígenas. Mas, conforme lembra o portal, “em seus últimos quatro anos de gestão, não foram adotadas medidas que freassem a atividade ilegal no local”.
Ao tentar dissociar a ação garimpeira da crise humanitária, o governador – tal qual seu guru, Jair Bolsonaro (PL) – abusa da desinformação e da contradição. Primeiro, ele nega o surto de desnutrição entre os yanomamis. “A Cufa (Central Única das Favelas) está entregando cestas de alimentos aqui. Você vê nas filas, nos vídeos que eles publicam, que não tem nenhum desnutrido”, disse o governador à Folha de S.Paulo. “(Está) todo mundo bem arrumadinho, tudo certinho. O problema é localizado, não é generalizado.”
Depois, na entrevista ao G1, Denarium se corrige sutilmente, admitindo que há um quadro de desnutrição, mas ponderando que os garimpeiros não podem ser responsabilizados: “Em outras regiões em que não tem garimpo, os indígenas da Terra Yanomami (também) têm desnutrição. Então não quer dizer que é o garimpo é o fator predominante”.
O governante propôs, ainda, a “aculturação” dos indígenas no País e traça um deplorável paralelo entre as Histórias do Brasil e dos Estados Unidos. Segundo ele, os “indígenas americanos” teriam concordado em vender seus bens, incluindo suas terras, o que supostamente beneficiou aqueles povos. “Os cassinos nos Estados Unidos ficam todos dentro de área indígena. Os hotéis de luxo próximos a Nova York ficam todos dentro de área indígena”, afirmou. “Os indígenas ganham royalties.”
O disparate do governador omite o genocídio de inúmeras comunidades indígenas dos Estados Unidos, sobretudo no século 19, quando o país viveu a chamada “Marcha para o Oste”. Para o jornalista Jamil Chade, a declaração de Denarium chega a ser pró-extermínio.
“O que o governador disse é referido, nos Estados Unidos, como genocídio indígena. Se o governador quer usar esse exemplo, terá que colocar outro debate sobre esse mesmo aspecto citado por ele”, disparou Jamil. “Nos Estados Unidos, acadêmicos e indígenas debatem se isso deveria ser considerado como genocídio. Aí ele (Denarium) carimba todas as acusações que são feitas ao bolsonarismo e seus cúmplices.”