Ex-chefe do Estado Maior diz que “Netanyahu quer tornar Israel ditadura de criminosos”
As manifestações deste sábado (21) em Tel Aviv reunindo 150 mil, em Haifa, com 10 mil e Jerusalém, com 5 mil, superaram em número os grandes protestos da semana anterior. A revolta que toma conta de amplos setores da sociedade israelense se concentra na rejeição ao ataque de Netanyahu e seu governo que buscam, através de projeto já formalizado ao parlamento, suprimir o Poder Judiciário.
Se aprovada, a nova lei daria ao Knesset, parlamento israelense, a condição de anular qualquer resolução da Suprema Corte por uma maioria de um voto, entre outras mudanças que buscam tirar toda a força de monitoramento legal da ação governamental.
O ex-ministro da Defesa e ex-chefe do Estado Maior fez o mais contundente dos pronunciamentos ao falar para a multidão reunida na rua Kaplan, no centro de Tel Aviv.
Ele conectou o ataque ao Judiciário ao interesse do próprio premiê Bibi Netanyahu de escapar da prisão uma vez que é julgado em quatro processos por corrupção ao ocupar o cargo em governos anteriores.
“Um país no qual o primeiro-ministro indica todos os juízes e é responsável por promove-los e destitui-los tem um nome. Se chama ditadura. Quando este primeiro-ministro é também réu ao qual o Estado de Israel acusa de sérios crimes, tem um nome. Se chama uma ditadura de criminosos”, enfatizou Yaalon.
Referindo-se a um pronunciamento a pouco mais de uma semana pela presidente da Suprema Corte de Israel, Esther Hayut, que denunciou os planos de Netanyahu para arrasar o sistema jurídico do país, Yaalon acrescentou que “a presidente da Suprema Corte fez um pronunciamento que foi um alento para a atual campanha. De acordo com o que pontuou, a cabeça do Judiciário deixou claro que a legislação criminosa que o governo de réus criminosos e seus amaldiçoados colegas criminosos estão tramando inflige um golpe mortal à democracia e faz pouco caso da Declaração de Independência através da qual o Estado de Israel foi fundado e pelo qual milhares de combatentes sacrificaram suas vidas”.
“Esta é uma legislação com uma bandeira negra sobre ela”, disse ainda Yaalon, “uma legislação ilegal”.
“Os judeus pagaram um preço alto pelo fato de que através de eleições, na Alemanha, chegou ao poder um grupo que eliminou a democracia, e a primeira coisa que eliminaram foi o princípio básico da independência do Poder Judicial”, destacou o general.
“Eu continuo encontrando mais e mais jovens que não querem mais viver aqui. Eu entendo sua posição, mas isso é doloroso”, disse o escritor David Grossman, agraciado com diversos prêmios em Israel e no exterior.
Grossman, que perdeu seu filho na guerra durante a ocupação do sul do Líbano, em 2006, proclamou: “Esta é a luta pelo destino de Israel”.
”Se tantos israelenses estão se sentindo como exilados internos em sua casa, está claro que alguma coisa deu errado”, acrescentou.
”Israel se supunha ser o único lugar no mundo onde os judeus se sentissem em casa…Se jovens israelenses não se sentem mais em casa, algo está indo terrivelmente errado, prosseguiu.
”Estamos lutando contra políticos cínicos, alguns deles sob acusação de crimes. Temos aqui nas ruas, representantes de muitos grupos que não saem em protesto de forma muito comum, mas que estão aqui, inclusive muitos que se declaram de direita. Esta multidão imensamente diversa está preparada para pôr de lado suas diferenças e lutar esta luta existencial”.
“Neste 75º ano, Israel está uma luta por seu destino, por seu caráter, por sua democracia e pelo estado de sua lei e norma”.
Ele se referiu ao plano do ministro da Justiça, Yariv Levin, de detonar o sistema judicial dizendo que “por trás desse plano unilateral e predatório de ‘reforma jurídica’ encontramos uma casa em fogo. Entendemos que se o estado da lei é severamente danificado, vai sucumbir gradualmente, assim como sucumbirão outras lutas importantes”.
E dirigindo-se aos milhares de presentes, finalizou: “É por tudo isso que me recuso a ficar em exílio no meu país, e eu penso que vocês também. Não fosse assim não estaríamos aqui. Vocês que estão em protesto! Recusem-se a ficarem passivos, recusem-se a ficarem indiferentes! Recusem-se a se tornarem exilados em seu próprio país! Agora é a hora amigos, a hora é escura. Agora é o momento de nos levantarmos e gritarmos – esta terra é nossa terra!”
“Nossa casa está em chama, nada menos. Entendemos que a lei está sendo criticamente ferida, e se vocês não sentissem da mesma forma não estariam aqui. Vocês se recusam ao cinismo, à passividade. Aqui e agora, em este escuro momento, vocês declaram este país sua alma”.
Papiro (BL)