Acordos e conchavos não conseguem superar o fracasso de McCarthy em se eleger presidente da Câmara (AFP)

Com oito votações em dois longos dias, os republicanos fracassaram em eleger seu líder Kevin McCarthy novo presidente da Câmara, um acontecimento que não se repetia há 100 anos, incapazes como observou a Associated Press de “propor uma nova estratégia para acabar com o caos político que manchou o início de sua nova maioria”.

Ao fazer maioria nas eleições intermediárias os republicanos retomaram o controle da Câmara por pequena margem e, em tese, não deveria ser essa sangria toda.

A razão é que uma franja de 19/20 deputados republicanos mais extremistas se recusa a conceder o quórum de vitória para McCarthy, buscando obter concessões dentro do partido, a ponto de o ex-presidente Donald Trump ter, nas redes sociais, instado a bancada a votar em McCarthy.

“Feche o acordo, ganhe a vitória”, escreveu Trump em letras maiúsculas. “Não transforme um grande triunfo em uma derrota gigantesca e embaraçosa”, ele advertiu, ainda sem resultado.

Para esses extremistas do Freedom Caucus [Bancada da Liberdade], McCarthy não é conservador o suficiente nem duro o suficiente para comandar o confronto com os democratas.

Sem esses votos, McCarthy fica muito aquém dos 218 normalmente necessários para ganhar a presidência da Câmara. Aliás o candidato da minoria democrata, Hakeem Jeffries,, já apareceu na frente da disputa, com 212 votos. Em um momento, McCarthy chegou a cair para 201.

Não foi por falta de esforço – nem de conchavos – de McCarthy, tendo passado por três tentativas na terça-feira, mais no dia seguinte a quarta, quinta e sexta votações, igualmente sem resultado, e a última, à noite.

Sem a eleição do presidente da Casa, a Câmara fica relegada à paralisia: não pode empossar novos membros, formar comitês, lidar com a legislação, nem, como os republicanos prometeram na campanha, investigar o governo Biden.

Para o portal Axios, a confusão sobre o cargo de presidente da Câmara “é emblemática de uma guerra civil mais ampla e contínua dentro do partido republicano, após um desempenho ruim nas eleições de meio de mandato de novembro, que os deixou com uma maioria mínima”.

No relato do portal Político, “discussões privadas animadas irromperam no plenário da câmara e em reuniões amontoadas em todo o Capitólio entre apoiadores de McCarthy e detratores em busca de uma saída”.

“Obtemos a maioria e então iniciamos um pelotão de fuzilamento circular”, disse a senadora republicana Shelley Moore, sobre o caos nas hostes republicanas na Câmara. Ela comparou o perrengue de McCarthy com a vitória tranquila de Mitch MCConnell como líder da minoria no Senado. “A instabilidade [na Casa] me preocupa”.

Por sua vez, o presidente Joe Biden, aproveitou para se divertir com o infortúnio republicano. Ao deixar a Casa Branca para um evento bipartidário em Kentucky com o líder dos republicanos no Senado, Biden disse que “o resto do mundo está olhando” para a cena no plenário da Câmara. “Só acho que é realmente embaraçoso que esteja demorando tanto”, disse o presidente. “Não faço ideia” de quem prevalecerá.

Papiro (BL)