No encontro de Lula com Petro foi discutida ação conjunta em defesa da Amazônia (Tânia Rego/Agência Brasil)

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou um “cessar-fogo bilateral” com o Exército de Libertação Nacional (ELN), dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e grupos paramilitares. A pausa nos confrontos começa em 1º de janeiro de 2023 e ficará em vigor inicialmente a até 30 de junho.

“Acertamos um cessar-fogo bilateral com o ELN, a Segunda Marquetalia, o Estado-Maior Central, as Autodefesas Gaitanistas da Colômbia e as Autodefesas de Sierra Nevada de 1º de janeiro a 30 de junho de 2023, prorrogável dependendo do avanço nas negociações”, assinalou o presidente em um tweet compartilhado minutos antes do final do ano.

Desde que assumiu o governo da Colômbia em agosto último, Petro defende uma política de “paz total”, que conseguiu retomar as negociações com setores que ainda se mantém armados, como o ELN, em novembro, em Caracas. Apesar da dissolução das FARC e do histórico acordo de paz com a guerrilha, em 2016, o conflito armado ainda persiste no país.

“É meu desejo, no final do ano, que a paz seja possível. Este é um ato ousado. O cessar-fogo bilateral obriga as organizações armadas e o Estado a respeitá-lo. Haverá um mecanismo de verificação nacional e internacional. Que a paz esteja entre nós. Feliz Ano Novo”, afirmou o presidente.

Seu gabinete acrescentou quer o governo tem recebido muitas cartas da sociedade civil, Igreja e de várias organizações comunitárias pedindo o fim da violência no país. “A paz total será uma realidade”, disse Petro na mensagem.

A presidência colombiana detalhou em comunicado que o principal objetivo será “suspender o impacto humanitário” na população e, em particular, nas comunidades indígenas e camponesas, possibilitando que milhares de famílias possam retornar as suas regiões de origem. Ações ofensivas também serão suspensas e incidentes armados entre as forças públicas e organizações serão evitados.

Habitantes de regiões como Arauca, Norte de Santander, Caquetá, Putumayo, Chocó, Cauca e nordeste de Antioquia, áreas onde há ações desses grupos armados e, portanto, há mais problemas para a população civil, reagiram positivamente à medida. O governo emitirá um decreto específico para cada uma das organizações, que determinará a duração e as condições do cessar-fogo.

DEFENSORIA PÚBLICA VAI MONITORAR CESSAR-FOGO

De acordo com a Presidência colombiana, o cessar-fogo bilateral será monitorado pela Defensoria Pública e também pela Missão de Verificação da ONU, e pela Igreja Católica.

O chefe da Missão da ONU na Colômbia, Carlos Ruiz Massieu declarou que “as Nações Unidas apoiam todos os esforços no sentido de reduzir a violência nos territórios, proteger as comunidades afetadas pelo conflito e construir a paz na Colômbia”.

O governo colombiano e o ELN haviam iniciado as negociações de paz em 2016, quando o presidente era Juan Manuel Santos, que acabara de assinar um acordo semelhante com as FARC. Mas essas negociações foram congeladas em 2018 pelo sucessor de Santos, Iván Duque, por desinteresse e desentendimentos. Afinal, Duque foi herdeiro político de Álvaro Uribe, o mandatário que, em 2006, impôs a política de compensar tropas por morte de guerrilheiros e que redundou na prática conhecida como dos ‘falsos positivos’, atentado aos direitos humanos no país, que consistia na execução de jovens recrutados para supostamente trabalhar e cujos cadáveres eram disfarçados de guerrilheiros para ‘aumentar a moral da tropa e mostrar resultados na guerra’.

Depois que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do Brasil, ele se reuniu com seu colega colombiano, Gustavo Petro, na segunda-feira (2). A conversa tratou com interesse a defesa e o desenvolvimento da Amazônia, a maior região de floresta tropical do planeta Terra, dividida entre Brasil, Colômbia, Bolívia, Peru, Venezuela, Equador, Guiana,

Suriname e Guiana Francesa, que durante o governo do antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, foi ameaçada por uma exploração descontrolada, sem cuidado com a preservação da região.

Petro conversou com Lula para revisar a agenda bilateral, que, além do pacto para cuidar a selva amazônica, contempla a interligação elétrica da região com energia limpa, modificações na política antidrogas, e o papel brasileiro nas negociações de paz na Colômbia com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional ( ELN).

Diante disso, os dois presidentes concordaram em convocar uma Cúpula da Amazônia a ser realizada na fronteira entre a Colômbia e o Brasil, seja na cidade de Letícia, do lado colombiano, ou de Tabatinga, do lado brasileiro.

Papiro (BL)