Chomsky, Ellsberg, Corbyn e outras lideranças exigem liberdade para Assange
Jeremy Corbyn, ex-presidente do Partido Trabalhista inglês, o repórter do caso conhecido como Papeis do Pentágono, Daniel Ellsberg; o pesquisador norte-americano, Noam Chomsky, entre outros destacados ativistas testemunharam no evento denominado Tribunal Belmarsh (nome da cadeia onde se encontra o jornalista Julian Assange), realizado em Washington.
Os participantes do evento expediram uma declaração nesta sexta-feira (20), dirigida ao presidente Joe Biden, pedindo que pare com as ações da Casa Branca destinadas a forçar a extradição de Assange para os EUA, onde poderia enfrentar até 175 anos de cadeia em uma prisão americana em isolamento quase total, caso condenado por um tribunal de cartas marcadas.
O fundador da plataforma WikiLeaks está há quase quatro anos na dura prisão de Belmarsh, em Londres, acusado de violar a Lei de Espionagem dos EUA por conta da divulgação de arquivos do Pentágono comprovando crimes de guerra no Iraque e no Afeganistão, inclusive o vídeo do assassinato, por um helicóptero Apache, de uma dezena de civis em Bagdá, tragédia na qual morreram dois jornalistas da Reuters, e um pai que levava os filhos para a escola e parou para socorrer as vítimas.
O Tribunal Belmarsh foi realizado no National Press Club e foi co-presidido pela apresentadora do programa Democracy Now!, Amy Goodman, junto com Srećko Horvat, ativista político croata.
“Nenhum governo desse tipo de sistema revelará voluntariamente seus próprios crimes. Para isso, precisamos de fontes corajosas que tenham evidências em primeira mão, e precisamos de uma imprensa livre e de editores corajosos que estejam dispostos a levar essas informações às pessoas, a quem elas pertencem”, assinalou Ben Wizner, da ACLU – American Civil Liberties Union, principal advogado do denunciante dos crimes da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), Edward Snowden.
“Obrigado, Srećko, e obrigado, Amy, por presidir o evento de hoje neste incrível cenário do National Press Club, onde Julian Assange revelou verdades incômodas ao mundo sobre o assassinato de civis inocentes no Iraque, por ordens militares para fazê-lo, sabendo muito bem que estavam infringindo a lei”, disseo britânico Jeremy Corbyn.
“É, na verdade, uma sentença de morte”, explicou, frisando que as elites políticas que supervisionaram a perseguição política de Assange “estão muito interessadas em colocar todos os que não se submetem a eles sob vigilância. Suas decisões é que deveriam estar sob vigilância”.
O líder político inglês criticou ainda o “tratamento brutal” que “Assange está recebendo […] por grande parte da mídia aqui” e sublinhou “a necessidade de não apenas apoiá-lo e defendê-lo, mas também de defender o jornalismo, o direito de saber e o direito de poder falar sobre ele”.
“E é por isso que estamos todos fazendo um apelo para que o presidente Biden desista do pedido que trouxe aos tribunais britânicos, para que Julian possa ser livre”, concluiu.
O linguista Noam Chomsky foi intensamente aplaudido ao proclamar: “Minha mensagem é muito simples: Libertem Julian Assange!”
“Não há lugar para o que acontece com Assange em uma sociedade livre e democrática”, prosseguiu, “sua libertação nos trará a esperança de que possamos saber o que acontece no mundo”.
“Assange sofre com um ataque perpetrado pelo Estado mais poderoso da história da humanidade. Assange deve ser liberado sem mais nenhum adiamento”, cobrou Chomsky.
“Nas últimas semanas, viajei para vários países latino-americanos e encontrei presidentes que estão muito preocupados com o precedente estabelecido no caso Assange”, revelou Kristinn Hrafnsson, jornalista de investigação islandês e atual editor-chefe do WikiLeaks.
“Depois de me encontrar com o presidente Alberto Fernández, da Argentina, e sua vice-presidente, Cristina de Kirchner, ambos se aliaram à campanha de Assange, instando o governo Biden a retirar as acusações contra ele. Os argentinos, assim como outros na região, conhecem muito bem a capacidade da CIA em planejar, sequestrar ou matar indivíduos.
Como sabemos agora, a agência estava conspirando contra Julian em 2017. Conheci Luis Arce, o presidente da Bolívia, que também se comprometeu totalmente a apoiar Assange”, informou.
“O mesmo se aplica ao recém-eleito presidente do Brasil, Lula da Silva, que me assegurou que a luta para acabar com a injustiça do caso Assange seria uma prioridade em sua política externa”.
“Tive o mesmo forte apoio de Gustavo Petro, presidente da Colômbia, que pediu a libertação de Julian e o fim da perseguição”, disse Kristinn.
“Por último, conheci Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, que tem sido um constante defensor de Julian, e que entende que este caso é mais do que a luta pela liberdade de um indivíduo, mas uma luta prioritária por princípios subjacentes. Foi Obrador quem disse que se Julian fosse extraditado para os Estados Unidos, a Estátua da Liberdade deveria ser desmontada e devolvida à França. O presidente mexicano nos recebeu na delegação do WikiLeaks no início deste mês e garantiu que trataria do assunto pessoalmente com o presidente Biden”, concluiu o porta-voz da plataforma.
Papiro (BL)