Manifestação em Nova Iorque repudia o racismo e o covarde assassinato do jovem negro pela polícia. (Michael M. Santiago/AFP)

Autoridades Memphis divulgaram na noite da sexta-feira (27) mais de uma hora de filmagem mostrando a brutal agressão de cinco policiais ao jovem negro Tyre Nichols no início deste mês. Os materiais divulgados incluem três vídeos de câmera corporal de agentes e um vídeo de 31 minutos extraído de uma câmera de vigilância de um poste da rua.

Diante da indignação generalizada que se espalhou pelos EUA, a unidade policial especializada Scorpion, da qual faziam parte os policiais que espancaram Tyre Nichols, foi dissolvida permanentemente no sábado (28), em meio aos protestos em várias regiões do país.

No dia 7 de janeiro, o trabalhador dos correios Tyre foi abordado por policiais que o acusaram de direção imprudente, algo que não foi registrado, nem provado. As imagens reveladas são desses policiais arrancando violentamente o rapaz de dentro do seu carro e o agredindo. Em seguida, as imagens captadas de uma câmera próxima à casa de Tyre mostram ele algemado, sem reação, sendo barbaramente espancado e gritando por sua mãe. Ele ainda chegou a ser socorrido e levado ao hospital onde morreu três dias depois.

Em entrevista, a mãe de Tyre, RowVaughn Wells, que morava a apenas a 80 metros do local onde seu filho era agredido e gritava por ela, disse: “nenhuma mãe deveria passar pelo que estou passando agora, nenhuma mãe (deveria) perder seu filho da maneira violenta como perdi meu filho”.

“JUSTIÇA PARA TYRE NICHOLS”

Milhares de pessoas se mobilizaram na noite da sexta-feira e continuaram durante o sábado em Memphis e outras cidades como Nova York, Sacramento, Los Angeles, Atlanta, Filadélfia, Seattle, em repúdio à violência policial, portando faixas com dizeres “Pare a guerra na América Negra”; “Justiça para Tyre Nichols”, e lembrando o assassinato de outros cidadãos negros pelas mãos da polícia racista, como o caso de George Floyd.

Na capital norte-americana, centenas de pessoas protestaram em frente à Casa Branca depois de terem sido reveladas as imagens do espancamento.

O caso George Floyd, muito lembrado nestes dias, aconteceu em maio de 2020, quando foi assassinado por asfixia, no meio da rua, desarmado e algemado, com o pescoço sob o joelho de um policial branco racista em Minneapolis.

Quase um terço de todas as pessoas mortas pela polícia nos EUA em 2021 eram afro-americanos, apesar de representarem apenas 13% da população do país, de acordo com a organização Mapping Police Violence.

Os cinco policiais que espancaram o jovem Tyre Nichols, todos eles negros mas integrados ao racismo da corporação. Os agentes Demetrius Haley, Desmond Mills, Jr. Emmitt Martin III, Justin Smith e Tadarrius Bean, que foram presos em Memphis, acusados de assassinato em segundo grau, agressão, sequestro, má conduta e opressão pelo episódio que terminou com a morte de Nichols. Os registros mostram que quatro deles foram soltos sob fiança após a prisão no Condado de Shelby na manhã da sexta-feira (27).

A congressista do Partido Democrata Coris Bush, que representa um distrito no estado de Missouri onde aconteceram fortes protestos após a morte de um jovem negro pela polícia em 2014, disse que as acusações legais “não são suficientes”.

“Nosso país continuará autorizando a morte de negros até que (…) o sistema policial racista, baseado na escravidão e no controle do governo, seja desmantelado”, escreveu o deputados em comunicado.

“O ‘Projeto-lei George Floyd’, se tivesse sido tornado lei, poderia ter feito alguns destes policias pensar duas vezes. O Senado e o Congresso têm de enfrentar estes problemas de direitos civis e isso passa pelo ‘projeto-lei George Floyd para o policiamento’. Nós vamos tomar posição em Memphis e lutar como nunca antes para aprovar esta lei federal de policiamento”, afirmou o líder da luta pelos Diretos Civis nos Estados Unidos, o reverendo Al Sharpton, também comissário do Conselho para o Estatuto Social dos Rapazes e Homens Negros da Florida.

Papiro (BL)