Incursão do ministro extremista Ben Gvir (de gravata azul) na mesquita Al Aqsa (Reprodução)

“Brasil acompanhou com grande preocupação a incursão do Ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, na Esplanada das Mesquitas (“Haram-El-Sharif”), em Jerusalém, na manhã de hoje, 3/01”, diz a nota do Itamaraty, emitida nesta terça-feira.

O documento, primeira manifestação do governo Lula em termos de relações internacionais, reprova a provocação de Gvir, destacando que “à luz do direito internacional e tendo presente o status quo histórico de Jerusalém, o governo brasileiro considera fundamental o respeito aos arranjos estabelecidos pela Custodia Hachemita da Terra Santa, responsável pela administração dos lugares sagrados muçulmanos em Jerusalém, tal como previsto nos acordos de paz entre Israel e a Jordânia, em 1994’.

A declaração adianta que “ações que, por sua própria natureza, incitam à alteração do status de lugares sagrados em Jerusalém constituem violação do dever de zelar pelo entendimento mútuo, pela tolerância e pela paz”.

“O Brasil reitera o seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz, em segurança e dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Com esse propósito, o governo brasileiro exorta ambas as partes a se absterem de ações que afetem a confiança mútua necessária à retomada urgente do diálogo com vistas a uma solução negociada do conflito”, finaliza o documento.

CHINA CONVOCA CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU

A China, com apoio dos Emirados Árabes Unidos, convocou encontro extraordinário do Conselho de Segurança da ONU logo após a entrada provocativa de Ben Gvir na esplanada das mesquitas local onde se encontra o sítio que é considerado um dos mais sagrados pelo islamismo, a mesquita Al Aqsa.

O Ministério do Exterior da Palestina enfatizou que “condena veementemente a invasão da mesquita Al Aqsa pelo ministro extremista Ben Gvir e a vê como uma provocação sem precedentes e uma escalada perigosa do conflito”.

No mesmo sentido, o primeiro-ministro palestino Mohamad Shtaiyeh acusa Ben Gvir de montar essa incursão como uma aposta para transformar o templo em “uma sinagoga judaica”, objetivo confesso de muitos da ultradireita israelense.

PAÍSES ÁRABES CRITICAM INCURSÃO

Síria, Egito, Jordânia, Árabia Saudita, Emirados Árabes, Qatar e Turquia se juntaram à Palestina na condenação à provocação de Gvir.

O Ministério do Exterior da Jordânia convocou o embaixador de Israel em Amã para expressar sua condenação.

A Organização de Cooperação Islâmica (OIC, sigla em inglês) que congrega 57 países descreveu a incursão como “parte das tentativas de Israel de mudar o status histórico e legal em vigor quanto a sagrada mesquita Al Aqsa.

“Um ato de provocação contrário aos sentimentos de todos os muçulmanos e uma flagrante violação das relevantes resoluções internacionais.

O Ministério do Exterior da Síria condenou “nos termos mais veementes a invasão da entidade da ocupação israelense junto com funcionários e colonos [que residem em terras assaltadas aos palestinos] na mesquita Al Aqsa e conclama a ONU a condenar tais violações, que trabalhe no sentido de que não se repita”.

Para a Síria isso se insere em um conjunto de “práticas provocativas” no intuito de levar à “anexação e mudança de status de lugares sagrados, assim como a obliteração de sua identidade”.

O Ministério do Exterior considera Israel e os países que o apoiam “inteiramente responsáveis por essa escalada e suas repercussões”.

“A Síria se coloca ao lado do povo palestino em sua luta para libertar suas terras, restaurar seus direitos e proteger seus locais sagrados”, conclui.

Yair Lapid, que deixou recentemente o cargo de primeiro-ministro de Israel, considerou a incursão de Gvir uma “irresponsabilidade política que pode provocar derramamento de sangue” e chamou Netanyahu à responsabilidade pelos atos de seus ministros, particularmente Ben Gvir, “a pessoa mais irresponsável do Oriente Médio visitando o mais sensível dos pontos do Oriente Médio”.

O rabino-chefe da corrente judaica sefaradita em Israel também repudiou a incursão, reafirmando que orientação do rabinato é o respeito ao lugar sagrado dos muçulmanos e que, neste sentido, os judeus evitem rezar na mesquita.

Para o rabino Ytzhaq Iossef, o gesto “confunde o público”.

“O que dirão quando um ministro israelense, judeu praticante, passa por cima das recomendações do rabinato?”

Papiro (BL)