Veículos usados em atos golpistas serviram a outros crimes
Documento encaminhado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta que caminhões utilizados nos bloqueios golpistas realizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra a eleição de Lula (PT) já tiveram envolvimento com crimes como tráfico de drogas, contrabando e crime ambiental, segundo registros da polícia.
O relatório traz informações obtidas a partir de levantamento sobre a situação das placas dos veículos que compuseram um comboio organizado pelos golpistas em Cuiabá (MT), no dia 5 de novembro, após passarem por um pedágio em Nova Mutum. Do total de 177 caminhões que trafegaram nesse trecho, seis tinham ocorrências policiais.
De posse desse documento, o ministro Alexandre de Moraes determinou multa de R$ 100 mil aos proprietários dos veículos listados que foram identificados pelas autoridades do estado. Além disso, decidiu pela proibição da circulação dos veículos, que também tiveram seus documentos bloqueados.
O ministro destacou, na decisão, que o deslocamento “inautêntico e coordenado” dos veículos para arredores de prédios públicos, em especial instalações militares, com fins de rompimento da ordem constitucional pode configurar o crime de abolição violenta do Estado democrático de Direito. Esse cenário, apontou, “exige uma reação absolutamente proporcional do Estado, no sentido de garantir a preservação dos direitos e garantias fundamentais e afastar a possível influência econômica na propagação de ideais e ações antidemocráticas”.
Conforme noticiado, os proprietários dos caminhões relacionados como participantes dos bloqueios são os mesmos que aparecem nos boletins de ocorrência registrados pela polícia.
Um desses caminhões havia sido apreendido em outubro na BR-101, próximo a Palhoça (Santa Catarina), com três toneladas de drogas (maconha e skank). O motorista foi detido e levado à PF de Florianópolis — ele e outro homem disseram que receberiam R$ 100 mil pelo transporte.
O jornal Folha de S.Paulo noticiou que “de acordo com o boletim de ocorrência, o caminhão estava registrado como de propriedade da empresa Sipal Indústria e Comércio. A mesma companhia teve oito veículos registrados na polícia como participantes de atos antidemocráticos. No dia 17 de novembro, Moraes mandou bloquear a conta bancária da empresa”.
Ainda de acordo com o periódico, “a mesma situação ocorreu com integrantes da família Bedin. Um dos três caminhões registrados em nome de Evandro Bedin usados nos atos também foi pego pela polícia operando para contrabando, em 2018. Bedin aparece como proprietário do veículo no registro do boletim”.
Na decisão do ministro consta, ainda, um veículo que já havia sido apreendido por crime ambiental, em dezembro de 2021, na BR-364. Na ocasião, o condutor foi autuado pelo crime de transportar, adquirir e vender madeira, lenha e carvão sem licença válida. O caminhão está em nome de Vanteir Pereira da Silva.